Na metade do caminho passo por cima de alguma coisa e o carro dá um tranco. Austin perde a cor. Escuto o barulho de ar saindo. Estaciono na rua menos movimentada que encontro e nós saímos do carro. Olho para o pneu traseiro e vejo uma espécie de rasgo.
- O que fazemos agora? - Austin pergunta.
- Vou ligar para o reboque.
Pego o celular e ligo. Depois de deligar olho para Austin, que está com uma expressão de dúvida.
- Chegam em meia hora, mais ou menos - informo.
- Vamos esperar no carro - diz ele.
Nós entramos. Depois de uns minutos começo a batucar no volante. Ele me olha de soslaio, olha para o relógio e depois pela janela.
- Então - começa ele. - Me fale sobre você. Ainda temos vinte minutos pra matar.
Ligo o rádio baixinho e deixo em uma estação de música alternativa.
- O que você quer saber? - Viro o corpo um pouquinho.
- Uma coisa que você nunca contou a ninguém - ele diz sorrindo.
Faço cara de pensativa.
- Eu comi um bolinho com maconha uma vez - confesso.
Ele ri, parece surpreso.
- Só vale se foi intencional - fala.
- Foi mais ou menos intencional.
Ele me encara por uns segundos.
- Seja específica - pede ele.
- Eu queria o bolinho, só não sabia que tinha maconha nele. - Dou de ombros e coloco o cabelo atrás da orelha.
- Eu sabia que você não usaria maconha intencionalmente - diz ele.
Nós rimos, mas no fundo me sinto um pouco ofendida. Nunca faço nada errado, nunca tenho boas histórias, como a maioria de meus amigos; eu sou chata e sem graça.
- E qual é o seu segredo? - pergunto a ele.
- Não sou do tipo que guarda segredos.
- Eu te contei o meu, você tem que me contar o seu. São as regras.
- Me mostra uma cópia dessas regras e a gente tem um acordo.
Ele ri e eu bato nele de leve. Austin se encolhe um pouquinho.
- Isso vai servir - diz ele em tom de brincadeira.
Volto a batucar no volante. Ele suspira.
- Eu tenho medo do escuro - declara.
Olho pra ele de cenho franzido.
- Esse é o seu segredo? - pergunto decepcionada.
- É sim, as regras não dizem que precisa ser o maior segredo da minha vida.
- Ou será que dizem? Eu não te mandei a cópia - brinco.
Quando voltamos pra escola são umas seis horas. Paro em frente ao portão; daqui dá pra ver os prédios em que dormimos, o que tem a sala de aula, a quadra de basquete, o campo de futebol, e, o meu lugar favorito: a pista de gelo.
- Tá a fim de não voltar pro seu quarto? - pergunto.
- Por que? O que você tem em mente?
- Confia em mim?
- Nem por um segundo - diz Austin com um sorriso brincalhão. - Mas vou arriscar.
Sorrio e vou andando a passos largos até alcançar a pista de gelo. Tinha me esquecido de como é grande. Entro e Austin me acompanha, olhando pra trás a cada dois minutos. Não se pode utilizar a pista, ou a quadra ou nada relacionado a esportes sem uma permissão. Eu não tenho essa permissão no momento. Estou começando a gostar de não seguir as regras à risca o tempo todo.
- O que estamos fazendo aqui? - ele quer saber.
Mesmo de sapatos e não patins eu entro na superfície lisa de gelo e puxo Austin.
- Eu não sei patinar. - Austin faz força no chão e eu não consigo puxá-lo.
- Eu te seguro - garanto.
- Tudo bem.
Ele coloca o primeiro pé, depois o outro e começa a escorregar. Posso ver que ele está em pânico. Seguro suas mãos e giro. Por pouco não caímos. Andamos um pouco sobre a pista, escorregando a cada passo.
- Está frio - reclama ele.
- Para de ser chorão.
- Por que não fazemos assim: você fica patinando aí e eu só observo daqui?
Ajudo ele a voltar para onde não há gelo e vou pegar os patins com lâminas. Calço-os e entro na pista novamente. Ele fica na arquibancada olhando enquanto faço piruetas e movimentos em forma de "S".
Não treino faz um tempo, por isso acabo escorregando e caindo. Sinto a dor do impacto e o frio do gelo. Minha roupa de hoje, uma saia até a metade da coxa e uma camiseta sem mangas, não contribuem de forma positiva.
Austin vem correndo da arquibancada e corre até mim pela pista de gelo. Escorrega mais do que tudo até me alcançar.
- Você está bem? - Ele está a uns dois metros de mim ainda.
Balanço a cabeça positivamente, mas ainda não consigo levantar. Ele me alcança, mas escorrega bem na minha frente e cai em cima de mim.
Fico paralisada por um instante. Eu estava sentada antes de Austin cair, mas agora estou deitada e tem um cara de cerca de sessenta quilos em cima de mim.
Ele apoia as mãos no chão por cima de meus ombros pra tentar se levantar, sempre olhando para o lado. A medida em que ele se se apoia pelos joelhos, eu me levanto também. Austin olha pra frente, para meu rosto. Sorrio e ele escorrega com as mãos, e, por mais maluco que isso seja, o jeito que ele cai faz com que nossos lábios se encostem. Foi acidental, eu juro, mas é bom, então não paro, nem ele. Começamos a nos beijar.
Spencer nunca vai acreditar nessa história.
Não podemos esquecer de que estamos deitados sobre uma superfície de gelo, e estou ficando com frio, mas beijar ele é tão bom que esqueço disso no momento.
Ele coloca a mão em meu rosto e eu passo a mão em seus cabelos castanhos. Sem parar de nos beijar ficamos de joelhos ao invés de ficarmos deitados.
Me afasto lentamente e abro os olhos. Os olhos de Austin ainda estão fechados e sua mão ainda está na minha bochecha, produzindo calor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Shooting Star
Teen FictionMary-Kate tem um segredo: ela trapaça. Não fica por aí se perguntando "como teria sido"; apenas faz de novo e descobre. É, ela pode fazer isso. E ninguém nunca notou suas pequenas e inofensivas mudanças... até agora.