36. Escolhas

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Peter me observa em silêncio.

- Eles ameaçaram meus pais – me conta do nada. – Só queria que você soubesse que não estou aqui porque concordo com isso. Confesso que no começo foi difícil digerir tudo e que eu quase acreditei que você era má. Sei que não é. No fundo sempre soube. Eu sinto muito.

- Eu entendo. Está tudo bem.

- Não, não está. Mas eu vou tentar te compensar, assim que for seguro, eu prometo.

- Você não me deve nada, Peter. E se significa alguma coisa, eu te perdoo.

- Isso mais parece uma despedida.

Dou de ombros. Estou fraca demais para aguentar qualquer outra coisa. Acabou pra mim. Talvez seja justiça, talvez eu mereça. Só queria poder dizer adeus pra minha família, pra Spencer, para o Austin. Queria dizer que eu sinto muito por todas as vezes em que fui egoísta e que os fiz chorar. Que eu sinto muito por não ter sido uma filha melhor, uma irmã melhor, uma amiga melhor e uma namorada melhor.

Queria dizer que está tudo bem e que eu estou pronta.

Peter limpa as lágrimas com as costas da mão.

- Nós temos que sair daqui. – Ele parece decidido.

- Os seus pais... – começo.

- Eles me ensinaram a ser bom. E eu os desonrei. Mas vou fazer o que é certo agora.

Peter arranca todos os fios grudados em mim e tento me equilibrar de pé. Olhamos para a pulseira supressora em cima da mesinha e faço um meneio positivo com a cabeça. Ele a coloca no meu braço e cada passo me fortalece um pouquinho, me dá esperança.

Estamos mesmo no terceiro andar do que parece um hospital abandonado, com janelas tampadas por tábuas e macas de lençóis bagunçados espalhadas pelos corredores. O branco se tornou bege e antigo, como folhas de um livro velho. Rick só parece cuidar das partes que usa do local. 

Peter me carrega pelas escadas. A luz do sol entra pelo vidro da porta de entrada e, consequentemente, de saída.

Rick aparece bem na hora. Não vamos conseguir. Passo a mão por cima da cicatriz da facada anterior. Me solto de Peter.

- Corre! Peter, você tem que se salvar. Não vou conseguir, mas sei que você sim. Só diz pra eles, todos eles o quanto eu sinto, e o quanto eu os amo.

Peter balança a cabeça, mas sabe que eu estou certa. A porta se abre e ele desaparece.

- É uma pena, Maryzinha. Uma pena mesmo – diz Rick, mas não tem arrependimento na voz.

- Só acabe logo com isso.

- Últimas palavras?

- Vai pro inferno.

- A gente se vê lá.

Não tenho medo dessa vez. O meu sangue cobre o chão e eu dou um suspiro de cada vez.

Então é assim que é morrer? É menos doloroso do que pensei. E mais solitário.

Shooting StarOnde histórias criam vida. Descubra agora