16. Borboletas

156 24 4
                                    

Fico feliz por Spencer já estar dormindo quando volto, assim não tenho que explicar nada. Mas é estranho ela estar dormindo antes da meia-noite. Estou um pouco estressada, então sei que vai ser um pouco difícil dormir. Deito na cama e fecho os olhos, tentando pensar só em coisas que me fazem bem. Minha irmãzinha, por exemplo. Faz um tempo que não a vejo e estou com saudades. Margot tem só seis anos e está sempre mal, por causa da imunodeficiência.

Pensar nisso não me ajuda. O que me ajuda é me lembrar do quanto a amo. É me lembrar da vez que a ensinei a nadar, ou quando a deixei cortar meu cabelo. De como gostamos de comer as mesmas coisas, embora eu prefira chocolate preto e ela o branco.

Parece que se passaram apenas cinco minutos desde que peguei no sono, mas meu despertador já está apitando. Sou uma aluna exemplar, então acho que mereço um dia de descanso e de evitar uma certa pessoa. Me sinto meio culpada quando aperto o botão para ignorar o despertador.

Antes de sair Spencer me cutuca e me chama, mas finjo que estou dormindo.

- Ou a conversa com Allan foi muito boa, ou foi muito ruim – fala em voz alta consigo mesma antes de fechar a porta atrás de si.

Espero alguns minutos pra caso ela volte antes de levantar da cama quentinha. Meu plano é ir à enfermaria mais tarde, desse jeito vou ter um motivo pra ter faltado à aula.

Tomo banho e leio um livro de manhã. Quando dá duas horas da tarde escuto meu estômago roncar, não comi nada o dia todo. Resisti bem até agora.

Alguém bate na porta e eu fico apreensiva, mas resolvo ir atender, quem quer que seja já tenho me desculpa em mente: cólica.

Minha mão chega bem perto da maçaneta, mas uma voz me detém, a voz dele.

- Mary-Kate? É o Austin.

Congelo, nenhum movimento.

- Sei que você está aí. Abre por favor – insiste ele.

Mordo o lábio inferior.

- É melhor você ir – respondo.

- Podemos conversar? – pergunta ele.

- Não tenho mais o que dizer, sinto muito.

- Então só me escuta. – Ouço ele encostar a testa na porta.

Fico em silêncio, mas não abro a porta, então ele começa:

- Quando eu saí com a Sarah, não deu certo porque ela achou que eu gostava de outra pessoa. Eu te contei isso, mas você nunca me perguntou de quem. Era você. Ainda é você.

Me apoio na porta e o escuto se virar e se sentar com as costas apoiadas na porta.

- Eu fui um idiota – continua. – Sei que sim. É que tudo isso meio que me assustou. Eu só tive uma namorada na vida, minha vizinha. Ela pertencia à mesma classe social que eu e por ser de uma família religiosa, acreditava no sexo só depois do casamento. Acho que me acostumei com essa ideia, por isso minha reação sem sentido e estúpida.

Sento de costas para a porta também e suspiro.

- Não estou tentando me justificar. Acho que só estou tentando me desculpar. Não peço desculpas com muita frequência; não preciso. Porque, não sei se você reparou, mas sou um amor de pessoa – diz ele.

Deixo escapar um risinho e o escuto rir também. Uma risada quase musical.

- Eu só quero que saiba que não penso aquelas coisas de você. No começo minha cabeça estava uma bagunça, e por uns momentos eu ignorei as outras coisas, as coisas importantes, como o jeito que você faz eu me sentir; as borboletas só aparecem quando estou com você, se quer saber; ou como me sinto seguro pra ser sincero e como você me faz rir, com suas manias e seu jeito sofisticado. A verdade é que não sou melhor que você, você é que é boa demais pra mim.

Shooting StarOnde histórias criam vida. Descubra agora