38. Até não estar mais

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Digo as autoridades tudo que sei sobre onde eu estava, mas quando eles chegam lá, está vazio. Decido que quero seguir em frente. Meu pai diz que não vai desistir, mas não sei o que ele espera encontrar.

Volto pra casa em algumas semanas. O hospital já estava me deixando nervosa.

Mamãe prepara o jantar pra mim, mas não estou com fome. Deito na minha cama e tento relaxar. Não pensar é mais difícil do que pensei que seria. Levo a mão as cicatrizes de novo. Olho para o meu pulso. A algema supressora não está mais lá, mas sinto como se estivesse.

Faço o teste de tentar voltar só alguns segundos e minha cabeça lateja. Durmo a noite toda mais a metade do outro dia. O fato de Austin estar lá me diz que minha mãe está preocupada.

- Boa tarde – ele diz.

Me asseguro de que estou realmente em casa antes de voltar a respirar.

- Calma. Você está em casa. E eu estou aqui. – Austin segura minha mão.

Descemos as escadas lentamente até a cozinha. Alguém quebra alguma coisa e o barulho de vidro se estilhaçando faz eu gritar e me encolher. Austin ajoelha e me abraça. Eu choro. Parece que é a única coisa que sei fazer desde que voltei.

- Tá tudo bem. Não precisa ter medo. – Austin beija o topo da minha cabeça.

Mas é aí é que está. É assim que eu me sinto. Assustada e com medo. Como se o mundo não fosse mais seguro. Talvez nunca tenha sido. Mas me dar conta disso me destrói um pouquinho mais a cada batida do meu coração, porque agora, mais do que nunca, sei que pode ser a última.

Sei que algumas pessoas acham que é esse é o melhor jeito de viver. Como se não houvesse amanhã. A morte é nossa única certeza, a gente fala, mas é abstrata. A gente sempre espera estar vivo mais um dia, e depois mais um dia, até não estar mais.

E, mesmo sabendo que esse é o ciclo natural da vida, me apavora. A certeza sólida de que a vida é tão frágil me faz ter medo de vivê-la. Fico achando que se eu evitar o fim ele não vai chegar, mas no fundo eu sei que estou só me enganando.

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