- Tia Spencer! – Margot pula no colo da minha melhor amiga.
- Vamos brincar de maquiar? – Spencer oferece a Margot e sai do quarto.
- Quem diria que ela leva jeito com crianças – Austin comenta.
- Eu ouvi isso, Allan – ela grita.
Nós rimos.
- Precisa de alguma coisa? – pergunto a Crystal.
- Só dormir, mas obrigada.
Ela se vira com um pouco de dificuldade e fecha os olhos. Me pergunto onde está o Barry. Talvez meu pai não tenha deixado ele vir.
- Vamos deixar ela descansar.
Olho para o quarto de Margot e entro com Austin.
- Podemos nos juntar a vocês? – pergunto.
- Só seu eu puder mostrar meus dotes para o seu namorado – Margot responde.
- Eu? – Austin arregala os olhos.
- Mary-Kate não é do tipo que tem mais de um namorado ao mesmo tempo. – brinca Margot.
- Mas eu sei que ela pode arrumar coisa melhor – diz Spencer.
- Ei – reclama Austin.
- Só estou dizendo o que todos estão pensando.
- Tudo bem, como você pretende mostrar seus dotes pra ele? – volto à questão principal.
- Vou maquiar você, irmãzinha – responde ela docemente.
- Não sei dizer não pra você.
Me sento na cama e Austin senta em uma almofada no chão ao lado de Spencer. Sinto cócegas enquanto Margot passa o pequeno e macio pincel em meu rosto. Fecho os olhos enquanto ela passa a sombra que eu tenho quase certeza de que é rosa shocking.
Margot está retocando o batom vermelho pelo que parece ser a décima vez quando ouço Crystal chamar. Levanto rapidamente e vou para o quarto da frente.
- Tudo bem? – pergunto preocupada.
Crystal pega os óculos e tenta ficar sentada. Corro pra ajudar, mas ela me afasta com irritação.
- Esqueci meu celular no hospital, preciso ir pegar. Barry deve ter me ligado umas mil vezes.
- Eu pego pra você – ofereço.
Ela volta a se deitar.
- Obrigada, então.
Sorrio, mas ela já fechou os olhos. Os analgésicos devem estar deixando-a sonolenta.
- Vou pegar o celular da Crystal no hospital. Ela esqueceu – anuncio, pego minha bolsa e vou até a garagem procurar o motorista, Saul, mas não o vejo. Minha mãe deve ter solicitado seus serviços.
Chamo um táxi e em poucos minutos ele chega. Quando entro reparo que o taxista tenta não rir ao olhar para minha cara e lembro de que meu rosto está rebocado com maquiagem infantil. Pego um lenço umedecido e passo nos olhos e bochechas. O lenço sai cor de rosa com uma mistura de bege. Passo mais algumas vezes para garantir que tudo saiu.
Quando pego o espelhinho em minha bolsa o carro breca e ele cai embaixo do banco. O taxista avisa que chegamos e eu saio sem meu espelho.
Entro no hospital e subo até onde Crystal ficou. A recepcionista me dá o telefone com capinha cheia de cristaizinhos de plástico cobrindo a figura de um unicórnio. Reviro os olhos levemente e agradeço. Acabo tombando com uma máquina de café e penso: por que não?
Encho o copo de isopor até o topo. Me viro para ir embora, mas esbarro com alguém com o braço enfaixado. Derrubo um pouco de café em sua camisa branca, no chão e, bem, em mim toda. Além de conseguir ver o celular de Crystal pular até o chão.
Tenho que olhar pra cima para ver o rosto de minha vítima. Um cara alto e extremamente bonito, de olhos azuis oceano e cabelo castanho claro encaracolado.
- Eu sou um desastre. Me desculpa mesmo – falo o mais alto que consigo, e mesmo assim é quase inaudível.
- Não tem problema – Eele responde e percebo o lindo sotaque britânico. – Aqui, me deixa pegar isso pra você.
Ele se abaixa e pega o telefone com a tela quebrada. Sua expressão vacila um pouco quando ele vê a foto da tela de bloqueio de Crystal. Ela e Barry em Veneza.
- Tudo bem? – Toco seu ombro.
- Sim.
Ele me entrega o celular com certa pressa e aí eu tenho um estalo. Ele deve ser o outro motorista. Corro atrás dele e paro na sua frente.
- Você é o outro motorista, não é?
- Sou – é só o que ele diz.
- Sinto muito pelo o que aconteceu. Sei que não muda nada, eu só...
- O que você é da garota do acidente?
- Irmã.
- Eu sou Isaac Daniels, a propósito. – Ele sorri sedutoramente.
- Sou Mary-Kate O'Brien.
Apertamos as mãos.
- E sobre o acidente, tudo bem. Eu mal me machuquei. – Ele levanta o braço enfaixado.
- Acho que nesse caso eu sinto muito pelo outro acidente.
Aponto para nossas roupas com o café já secando.
Estamos rindo quando ouvimos um trovão e logo as gotas da chuva batendo contra o vidro das janelas do hospital.
- Olha, não quero ser rude, mas tem uma coisa no seu rosto – ele comenta.
- O que?
Isaac Daniels molha o polegar na língua e passa no meu queixo. Fico sem reação.
- Se maquiou com pressa? – ele debocha.
Fecho os olhos envergonhada quando me lembro de que saí correndo enquanto Margot passava o batom, claro que deve ter borrado, senão pior. Não pude me ver no espelho porque derrubei no táxi.
- Obrigada, eu acho.
Limpo disfarçadamente os resquícios da baba dele da minha cara. Descemos juntos até a entrada do hospital e eu pego meu celular para chamar outro táxi. Mas Isaac coloca o braço pra me impedir.
- Te dou uma carona.
- Não precisa, não quero incomodar.
- Vai ser um prazer.
Hesito antes de concordar. O braço dele está enfaixado.
- Vamos ter que correr até o meu carro. Deixei do outro lado da rua – avisa ele.
Meneio a cabeça e coloco o celular de volta na bolsa. Olho o temporal lá fora e imagino que mesmo correndo vamos ficar bem longe de secos.
Ele tira a jaqueta de couro e nos cobre assim que saímos pela porta. Começamos a correr, mas fico pra trás. Culpo suas pernas longas. Isaac volta por mim, agarra minha cintura e me tira do chão enquanto corre até o carro.
Dou um grito e ainda estou rindo quando ele abre a porta e me joga dentro do carro. Ele dá a volta e entra também.
- Você não come direito? – ele pergunta rindo. Presumo que está falando do meu peso.
- Ou talvez você malhe demais. São muitas aspossibilidades.
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Shooting Star
Teen FictionMary-Kate tem um segredo: ela trapaça. Não fica por aí se perguntando "como teria sido"; apenas faz de novo e descobre. É, ela pode fazer isso. E ninguém nunca notou suas pequenas e inofensivas mudanças... até agora.