O meu fim-de-semana foi um saco, minha mãe chamou a Liz e ela veio com tudo pra cima de mim, tentando me animar e me tirar da minha depressão profunda, o que só acontecia por alguns minutos, quando eu gritava ou discutia com ela.
Acabou que passamos o dia vendo fotos e comendo besteira, a tarde falando e a noite comendo uma panela enorme de brigadeiro e vendo um filminho romance de quinta que a Liz e a minha mãe escolheram só pra ficar chorando o tempo todo, enquanto eu me entupia de brigadeiro e ria da cara delas, e das cenas cafonas que nunca, em hipótese alguma, aconteceriam na vida real.
Não posso negar que elas me ajudaram a me distrair um pouco, mas eu continuo depressiva. Entendam, eu sou uma jovem, de dezassete anos, que tem um namorado que é assediado todo o santo dia por fêmeas de camelo peitudas (lembrando que eu nem tenho peitos tão grandes), portanto não tentem me fazer sorrir ou vomitar corações, vai dar merda. E diferente dos filmes, as pessoas na vida real tem cérebro (pelo menos algumas), os sentimentos não aparecem um de cada vez, e nem sofrem de amnésia repentina pra esquecerem em dois tempos o que atrapalha o final feliz.
Então minha gente, o buraco é bem mais fundo (o meu no caso, é um poço).
-- Oi filha. – Minha mãe fala ao entrar no meu quarto _sem bater, é claro_ com aquela cara de “vamos conversar” (que se eu fosse um balão, eu estaria murchinha, só pra registrar) solto logo um suspiro. Eu nesse momento não estou com muita vontade de expressar os meus sentimentos ou dividir os meus problemas. Eu sempre fui muito egoísta, e nunca fui de dividir, mas parece que a minha mãe ainda não aceitou isso.
-- Fala mãe. – Rosno e mudo minha posição na cama. Faz quase uma hora que eu estou deitada de costas falando com o meu amigo teto, desde que a Liz foi embora. E sinceramente a minha bunda já está dormente, acho até que achatou.
-- O Bê estava aqui, ele veio falar com você. – Pausa pra me observar atentamente. – Mas eu já mandei ele embora. – Ela termina calmamente, enquanto os meus olhos vão duplicando de tamanho.
Silencio. Dizer que eu não me importei, seria a pior de todas as minhas mentiras (sempre necessárias e inteligentes), porque no caso eu me importei muito. Só que eu não vou dividir isso.
-- Ah, e o que tem isso? – Falo olhando pra parede, linda, fofa e muito interessante.
-- Isso significa que você não quer ver ele mesmo? – Não. Ela levanta uma sobrancelha e eu me dou conta de que mesmo estando em estado de depressão eu tive tempo pra entrar também em estada de saudade profunda por causa do Bê. Oh merda!
-- Sim.
Olho pra todos os lados e resolvo ignorar, quem sabe funciona.
-- Porquê que você não dá uma chance pra ele? – Ela pergunta com aquele olhar fodastico, que eu quero um dia mostrar pros meus filhos, o olhar: abra a porra da sua boca e me explica essa palhaçada! Só que de um jeito bem mais delicado.
-- Eu não estou afim. Simples.
-- Não, não é simples. – Ela solta um suspiro e encarna o papel de uma mãe sabia. – Pricilla, eu sei que você gosta do Bernardo. Isso fica claro pra todos que olham os seus olhos quando se falam ou quando você está perto dele. – Me lembrem de arrancar os meus olhos. – Eu sei que ele fez besteira, eu sei que como você diz, ele foi um idiota. Mas todo mundo merece uma segunda chance. E vai ser só dando essa chance que você vai conseguir perdoar.
Meus olhos se enchem de lagrimas, e eu desvio o olhar pra parede linda.
-- Eu já perdoei ele. – Fungo de uma forma nada delicada (que nem porco com gripe), e respiro fundo. – O problema é esquecer e confiar de novo. Eu estou perdendo meu sono com pesadelos sobre ele e aquela vadia. Eu estou com raiva, estou triste, e estou com saudades dele. Eu não sei o que fazer. – Lagrimas começam a rolar no meu rosto e um soluço me escapa. – E sabe de uma coisa mãe? A culpa de tudo isso é sua viu!?