-- Oi!
Franzo o sobrolho, enviando a clara mensagem de que eu não estou entendendo porra nenhuma, o que de fato mostra que eu sou lenta porque o negócio está bem claro aqui.
-- Feliz aniversário? – Ele diz com cara de dúvida e eu sorrio por isso. Ou será que estou sorrindo só porque eu não consigo dizer nada melhor? Ou talvez ainda, seja porque é a porra do meu namorado (ups, eu quis dizer amigo*só que não) vestindo terno, gravata, entrando pela minha janela, com a cara de modelo de capa de revista pornô de homens (só que não tão bombado), cabelos emaranhados, gravata frouxa, olhos brilhantes, boca gostosa, e realmente comível. Sonho de qualquer garota de dezoito, de qualquer vovó desdentada e de toda a comunidade feminina.
Sim, eu posso sim ficar sem fala.
-- Agora você é uma nanica adulta.
-- É né… -- Não consigo formular respostas mais completas ou coerentes. Eu apenas encaro os seus olhos brilhantes por alguns segundos.
-- Te trouxe um bolo. – Ele fala finalmente após o silêncio.
Ele estende o braço, abre um pacote (que só agora eu reparei), e dentro dele ele tira o cupcake mais lindo que eu já vi na minha vida. Do bolso da jaqueta ele tira uma máquina fotográfica, e um isqueiro. Com cuidado ele acende a única vela do mini bolo e se aproxima de mim.
-- Estou só retribuindo o favor. Mas você pode cantar. – Ele diz, e começa a cantar um parabéns nada afinado, mas que aos meus ouvidos soa perfeito (mentira deslavada) com tons agudos e graves ridículos.
Meus pensamentos voam até o aniversário dele, o dia da minha primeira vez. Nem foi a tanto tempo assim, mas parece que muita coisa mudou entre a gente.
Eu confiava nele, tanto confiava que me entreguei a ele, e eu não acho que eu mudaria isso. Ele é o quase perfeito mais perfeito que eu já conheci, e se eu tivesse que fazer um daqueles testes suicidas de confiança, eu me jogaria sem pensar, porque eu sei que ele vai estar lá.
E olhando pro Bê sendo o Bê na minha frente agora (ainda sem criatividade e só copiando as minhas ideias), eu percebo que eu ainda confio nele, e que eu sou uma abestiada por não me dar conta disso antes de ficar dias chupando dedo enquanto ele andava solta por aí.
-- Sopra e faz um pedido. – Ele diz interrompendo os meus pensamentos, e eu olho pro cake sorrindo com todos os meus dentes.
Sopro a bendita vela, e respiro fundo. Se o meu pedido não for realizado, alguém lá em cima vai conhecer o inferno.
Quando abro os olhos ele está me olhando serio.
-- Então? – Ele pergunta depois de alguns segundos encarando um ao outro.
-- Então o quê? – Pergunto.
-- Você não vai me dizer o que você pediu? – Ele levanta as duas sobrancelhas e me olha indignado.
-- Mas é claro que não. Bebeu? – Pergunto debochada. – Pro pedido se realizar, eu não posso contar pra ninguém. E eu não me lembro do senhor me contando o seu pedido no seu aniversário.
-- É diferente Pricilla. – Ele fala e eu levanto uma sobrancelha irónica, e achando ridículo a gente estar discutindo um pedido de aniversário que nem crianças. – Eu entrei pela janela, te trouxe o bolo, quase quebrei o pescoço, e eu até cantei parabéns e você não vai me dizer o que você pediu?
É possível ver a resposta na minha cara, mas como a inteligência dos homens está sempre abaixo da média eu tive que falar.
-- Não. E você copiou a minha festa. – Respondo, pego o cake da mão dele, e dou uma lambida gigante no monte de chantilly que a coisa gostosa tem por cima.