Faz cerca de uma hora que eu estou vegetando em cima da minha cama, encarando o teto. Ele sempre parece interessante quando você o olha sem parar.
Coloco o braço sobre o meu rosto e sinto ele molhado, respiro fundo e movo os meus pés pra ver se eles se mexem (é que eles estão um pouco dormentes), eles se movimentam normalmente (pro meu alivio). E eu fico lá jogada na cama, e esperando a morte. Talvez assim eu possa me sentir melhor. Não que eu ache que o céu (olha eu me iludindo) vá ser divertido. Mas pelo menos eu não estaria aqui.
Eu ia mesmo soltar um longo, sonoro, e bem dramático suspiro, mas então a minha mãe entra no quarto que nem um furacão, e eu quase morro sufocada por segurar o ar.
-- Pricilla minha filha você está bem? – Ela se senta do meu lado em cima da cama e me examina detalhadamente. – Achei o Bernardo lá fora com uma cara nada boa. Vocês brigaram?
Quem dera a gente tivesse brigado. Quem dera eu tivesse arrancado as bolas daquele imbecil. Como eu queria.
Eu sinto tudo o que eu achava que eu já tinha arrancado de dentro de mim se intensificarem, e as lagrimas que tinham parado, ameaçam voltar. Não sei como as mães têm o poder de fazer isso, fazer a gente chorar ridiculamente quando pensamos que já resolvemos os problemas.
--- Não aconteceu nada mãe. – Respondo seca e me levanto indo em direção ao banheiro.
-- Então porquê que o Bernardo está daquele jeito? E porquê essa cara de quem estava chorando?
-- Isso você vai ter que perguntar pra ele mãe. E eu não estou chorando. Portanto esquece. – Entro no banheiro e bato a porta.
Tiro o jeans e a regata que eu estou usando e entro na banheira com o sutiã e calcinha. Abro o chuveiro e olho pra baixo, só então percebo que estou com as meias ainda. Perfeito.
Nesse momento devem estar pensando que eu estou muito mal, sofrendo como num inferno. Mas pra ser sincera eu não estou nem perto disso.
Eu estou com odio. Puro e transparente odio.
Estou com odio do Bernardo, do pai dele, do protótipo mal feito de barbie que ele trouxe de sei lá onde, do mundo que é uma desgraça onde ninguém mais consegue guardar o pau dentro da calça ou não abrir as pernas, e de mim, por ser tão estúpida e estar chorando.
Eu odeio chorar. E nesse momento eu odeio minha vida.
Pensando bem eu estou com mais odio do Bernardo por ele ter beijado aquela minhoca do que de outra coisa.
Eu sei que sou insuportável e tals, mas essa sou eu. E isso não quer dizer que eu não sinto. E nesse momento eu me sinto uma fracassada, meu namorado não acha o meu beijo bom o suficiente e foi beijar uma fêmea de camelo pra se satisfazer, estou pensando seriamente em fazer um curso de beijo e descobrir se o problema é realmente eu.
Mas que merda. O filho de um camelo banguela tinha que ficar de melação com a feionique? Meu capeta, ninguém merece.
Pelo menos EU não mereço minha gente.
Depois de quase uma eternidade eu saio do banheiro. Estou toda enrugada e branca depois de passar tanto tempo debaixo do chuveiro. Estou com frio. E adivinhem? Eu ainda estou com raiva.
Entro no quarto e para a “nooosssaaa alegriaaaa”, minha mãe continua lá me esperando como uma mãe paciente (que ela nunca foi).
-- Merda. – Giro pelos calcanhares pra voltar pro banheiro mas sou impossibilitada.
-- Vem cá Pricilla Edwars. – Nossa, nome+apelido = fudeu pra mim. Viro pra ela e bufo. Vou em direção ao meu guarda-roupa e começo a vestir qualquer trapo que eu achei pela frente.