Saímos do vestiário (que nunca mais vai ser o mesmo pra mim) de mãos dadas, saímos da quadra de mãos dadas, saímos da escola de mãos dadas, e tenho certeza que se a Harley fosse um carro a gente andaria o caminho todo de mãos dadas. Não sei explicar isso muito bem, não sei se é por saudade, por medo de, de repente tudo acabar e a gente acordar de um sonho, ou se é simplesmente pelo facto de nossas mãos se encaixarem tão bem uma na outra. A questão é que eu não quero me separar dele (sim, além de a tarada do vestiário, eu virei grudenta), eu quero que ele fique comigo, e quando ele para a moto em frente da minha casa, eu quase imploro que ele fique.
Só que eu tenho o meu orgulho.
-- Então, está entregue vermelhinha.— Ele diz tirando o capacete, e eu faço o mesmo.
-- Não estou entregue porque eu não sou pizza babaca! – Revido mal-humorada, e olho feio pra minha casa enquanto o palhaço ri.
-- Ok pizza, você está em casa, sã e salva. – Ele diz sorrindo de forma safada. – Eu acho que mereço um beijo por isso.
Bom, fofo não é a palavra, é quase ridículo, mas também essa não é a palavra certa. Fodículo, seria um ataque a língua portuguesa. Então, eu não sei bem como definir a cara do meu namorado nesse momento. Porque, imaginem: um cara lindo de ter um ataque, se abaixando bonitinho e se inclinando na sua direção, com um biquinho lindinho, esperando um beijinho de agradecimento. E eu estou usando tantos diminutivos que estou ficando enjoada.
Até olhos fechados ele tem, além da testa franzida.
Um verdadeiro cupcake (a coisa mais gostosa que eu consegui imaginar no momento) pronto pra ser devorado.
Mas como Pricilla é Pricilla, um fenómeno da natureza que não pode ser alterado, eu, corajosamente, resisti aos encantos desse ser delicioso. Ou seja, deixei o infeliz especado com o bico esticado ao ar, e sai de cena com um curto e grosso:
-- Tchau. – Falo indo em direção a casa, fazendo ele acordar.
-- Hey, sério? Nem um beijinho? – Ele segura o meu braço e faz cara de gato largado na enchente.
-- Não, você já ganhou muito mais do que era necessário hoje. Portanto contente-se. Tem muita gente com fome no mundo Bernardo e você acabou de comer. – Faço a minha melhor cara de inocente, que sai mais como cara de deboche do que qualquer outra coisa.
-- Você é pior que o capeta Pricilla. – Ele diz fazendo cara feia.
-- É, a aluna sempre supera o professor né? – Respondo irónica e volto a caminhar (rebolar pra ser mais exata) em direção a minha casa.
-- A gente precisa conversar Pricilla. – Ele fala atrás de mim.
-- Não, você precisa de uma resposta. E isso eu não tenho pra te dar agora. – Digo entrando na casa sem olhar pra trás. Quando fecho a porta, meu coração como nos filmes, aperta de saudades (isso acontece mesmo).
Caminho em direção as escadas, quando sinto o som da moto dele dando partida e indo embora. No mesmo instante entra uma mensagem no meu celular. É dele, e sem querer um sorriso besta mesmo aparece no meu rosto.
Eu te amo vermelhinha
P.S: mesmo sem beijo.
Bê
Entro no meu quarto e nem jogo a porta contra a parede como tem sido o costume. Eu apenas a fecho devagar, porque estou muito ocupada relendo a mensagem cinquenta vezes seguidas.
Bom, ele não precisava escrever “Bê” no fim porque eu já sei que a mensagem é dele, mas tudo bem, eu gostei, por isso mando uma resposta de vez.