Café Americano Gelado

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-- Você acha que eu deveria voltar a estudar mãe?

Dona Maria parou momentaneamente a arrumação que fazia e olhou pra filha.

-- Não sei filha. Não vai ficar pesado pra você com todas as aulas que você já dá?

-- Talvez... -- Mila silenciou a frase no meio.

-- Mas? -- Sua mãe continuou a frase pra ela.

-- Não sei. Estou me sentindo estagnada. As vezes sinto realmente que estou enlouquecendo nessa profissão. E que se eu não me movimentar pra mudar essa situação eu vou literalmente morrer. Não sei se dá pra entender... -- Ela se sentia um pouco desolada.

A mãe sentou ao lado dela no sofá.

-- E o que você pensou em fazer? -- Perguntou.

-- Alguma coisa que dê dinheiro. Estou cansada de sentir medo de perder o emprego e o salário por conta de alunos ingratos. Eu só queria mesmo a segurança da riqueza.

A mãe riu.

-- Tá bom. Mas já pensou no que poderia te dar esse retorno?

-- Estava pensando em algo como administração ou comércio exterior.

-- Mas você gosta dessas coisas?

-- Eu preciso gostar? Gosto de letras, mas é uma profissão que está acabando comigo.

-- Uma pena filha. -- Ela olhou pra Mila com uma pergunta nos olhos. -- Em um mundo ideal, se você não precisasse ganhar dinheiro, o que você teria estudado?

-- Esse mundo não existe mãe. -- Retrucou um pouco amargurada.

-- Infelizmente não mesmo, mas se existisse, você teria feito o que da sua vida?

Essa pergunta era fácil de responder para Mila, era o material de todos os seus devaneios e imaginação.

-- Eu seria confeiteira. -- Mas mesmo pensar isso em seus sonhos mais distantes era triste, porque de certa forma em um momento de sua vida aquilo tinha se tornado muito real.

A mãe ficou olhando pra ela, agora também um pouco desolada.

-- Queria ter podido dar uma vida diferente pra vocês. Eu sinto muito filha.

-- Ah mãe, não fica triste! A culpa não é sua, você fez o que pôde e deu o seu melhor. E se olharmos, estamos melhor que muita gente. -- Segurando o rosto da mãe entre as mãos, completou. -- Não é pra você se sentir culpada. Eu vou resolver minhas questões, tá bom?

A mãe só assentiu.

-- Te amo mãe, obrigada por me ouvir, eu só precisava desabafar mesmo.

-- Ah filha... Também te amo e não gosto de te ver assim...

-- Vai dar tudo certo. -- Mila se levantou do sofá e começou a fuçar no celular, tentando não se concentrar no clima de tristeza que tinha trazido pra sala. Foi até que uma mensagem em seu e-mail chamou sua atenção. Foi até o quarto e fechou a porta, o coração tinha começado a bater mais forte no peito.

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