Capítulo 23

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Quando entrei em casa naquele dia a carta estava sobre minha cama, manchada de sangue e fazendo todo o meu quarto feder. Segurei-a entre as mãos vendo as letras rabiscadas com pressa em uma ameaça dolorosa, a vida dos meus pais e do Jaded estavam em risco se eu ao menos tentasse ir ou avisar a alguém.

Mandei diversas mensagens para Melk, tentei ligar mas nunca era correspondida, evitei interagir com Jaded e aquilo pareceu me matar por dentro. Alguém precisa saber daquele lugar, mas eu não queria por ninguém em risco. Eu sabia, no fundo eu sabia que os Pure Humans tinham algo a ver com isso, e se pegaram o Melk?

- Cora? Querida está lembrada do exame de sangue que agendou? - a voz da minha mãe me dispertou para a realidade, amassei a carta e a joguei no lixo do banheiro antes de sair correndo do quarto.

- Oie mãe, alguém veio me procurar hoje? - ela me olhou de soslaio parecendo desconfiada.

- Sua colega, Angélica esteve aqui. Ela pediu para esperar em seu quarto, algum problema Coralyne? - minha mãe sabia que eu estava nervosa, infelizmente eu não sabia disfarçar minhas emoções.

- Eu queria que ela tivesse levado uma pesquisa, e ela deixou. Vou ver se falo com ela. - dei de ombros tentando fugir do assunto, sentei a mesa para o café da manhã saboroso que minha mãe tinha preparado e tentei agir o mais natural possível.

Angélica tinha deixado a carta sobre minha cama, eu tinha certeza disso. Respirei fundo deslizando sobre a cadeira quando a minha mãe finalmente saiu de casa e me desabei em chorar, se ela encostar na minha família ou em Jaded a culpa será totalmente minha. O desespero era nítido nos meus olhos quando eu me deparei com essa cena em pensamentos, ver todos machucados ou pior fazia meu corpo extremecer ferozmente.

[···]

Por dias eu ignorei Jaded, olhava para o celular vibrando com as ligações e via suas mensagens fofas e cheias de carinho. Eu chorava sempre que via seu nome, o aperto no peito aumentava e parecia que iria me sufocar. Hoje eu só sairia de casa para fazer meus exames de rotina, pegaria o resultado e voltaria tão rápido quanto sai, tudo que eu queria era poder contar a ele o que esta acontecendo.

As cartas de ameaça agora vinham pela janela, todos os dias chegava uma nova e hoje não foi diferente. Depois de tomar banho e vestir uma roupa larga qualquer me encarei no espelho apenas para confirmar que precisava de maquiagem, chorar me deixou com olheiras profundas e um peso visível sobre os olhos. Fiz algo escuro e rotineiro, peguei minha bolsa inseparável e coloquei todas as cartas dentro, eu as queimaria no caminho. Não suportava olhar para elas.

Peguei um táxi qualquer dessa vez, eu não queria conversar com ninguém apenas seguir meu caminho em silêncio enquanto repetia mentalmente o quanto fui idiota em confiar no Melk. Ele sumiu e eu estou ameaçada, espero que ele morra e queime no inferno por estar me fazendo passar por isso. Quando ele me procurou dizendo que tinha a matéria que mudaria minha vida eu fiquei tão encantada a ponto de não olhar para as consequências.

Desci no laboratório de análises clínicas e assinei os termos de responsabilidade para o exame, sentei na cadeira confortável da sala de espera olhando para a tela do celular, mais chamadas perdidas de Jaded.

Cora? Eu estou preocupado com você, me diga se aconteceu algo,
Por favor fale comigo.
Eu fiz alguma coisa que te machucou? Se fiz, me perdoe. Eu juro que posso tentar te compensar por qualquer erro meu.
Por favor, fale comigo.

Xoxoxo

****

Não consegui esconder as lágrimas mas fui rápida em seca-las, ele não tinha feito nada de errado eu que sounuma idiota por ter me envolvido em algo maior do que eu realmente podia suportar. O meu nome foi chamado e sem muita demora eu me dirigi a sala e sentei na poltrona enquanto era espetada por uma enfermeira antipática que quase transpassa meu braço com aquela agulha.

Meia hora de espera. Comprei um lanche na pequena barraca ao lado do laboratório e torcia para que meu colesterol não desse alterado e eu fosse pega no flagra com um enorme hambúrguer na boca. Fazia tempo que eu não sentia tanta fome por algo gorduroso, minha boca salivava pelo lanche de um jeito estranho.

- Srt. Dickson! Seu exame está na recepção, obrigada. - uma doce senhora me avisou enquanto ria da minha boca melada de mostarda, sorri sem jeito limpando tudo e agradeci com um aceno.

Sem muita conversa peguei o resultado e sai as pressas do local, minha curiosidade me fez rasgar o plástico e olhar o que tinha dentro mesmo sem saber nada daqueles números extensos. Fui passando as folhas até que a última estava com um enorme POSITIVO escrito. Eu sabia que positivo não queria dizer uma coisa muito boa nos exames, por alguns minutos eu achei que fosse morrer. Peguei o celular torcendo para que não fosse um tumor ou estivesse em meus últimos dias de vida, coloquei as siglas no Google e o que veio a seguir me fez soltar o lanche no chão. Eu estou gravida, de Jaded.

Jaded - Novas Espécies [L5]Onde histórias criam vida. Descubra agora