Capítulo Vinte e Sete - Escuridão Familiar

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Quando se deu conta, já estava correndo em meio a mata densa. Alguma coisa a perseguia, ela ouviu uivos e o som do bater de asas. Seu coração batia forte contra o peito, ela não sabia o porquê, mas tinha que se apressar. Foi quando o espectro da fome surgiu das sombras, Lyra corria muito rápido, não pôde parar a tempo, escorregou e rolou pelo chão, uma dor alucinante subiu pelo seu tornozelo, ela quis gritar, mas sua voz não saiu.

O espectro estava bem acima dela, se movia como um fantoche, cordas envolviam seus braços e pescoço e ele flutuava alguns centímetros do chão. O escudo supremo não se ativou, o espectro se aproximou, o cheiro era diferente do que Lyra esperava, perfumado e agradável, não o cheiro de apodrecimento dos espectros da morte.

Quando a mão magra do espectro se aproximou do pescoço de Lyra ela acordou, a luz do sol havia penetrado o quarto pela janela aberta e alcançado sua cabeça. O calor causou os pesadelos, como sempre acontecia com ela, ate por isso Lyra preferia o frio, além de permitir que ela usasse roupas mais elegantes e pudesse passar a tarde estudando e bebendo chocolate quente.

Demorou alguns segundos para seus olhos se acostumarem com a claridade, ela piscou forte para afastar o restante do sono, ate que viu Maia de pé em frente a porta do quarto.

— Eu dormi demais. —  Lyra resmungou.

— É bom dormir na própria cama. — Maia respondeu em tom pensativo. 

Maia ainda usava as roupas da noite anterior, Lyra sentia que havia algo de estranho com seu sonho, normalmente diria para a irmã, mas não sabia dizer como estava a relação delas atualmente.

— Quero te mostrar melhor o meu ponto de vista — Disse Maia olhando para a janela. — Não quero ficar contra você Lyra.

— Quanto ao pai?

— Ele foi ate a ONG. Disse que não queria te acordar, nossa mãe também esta fora, ela quer saber porque você têm um fichário com fotos das suas coisas. — Maia riu da expressão de choque de Lyra. — Vai ter que arranjar uma boa desculpa.

— Vou dizer que fiz isso para não esquecer de nada. — Lyra já se sentia mais descansada, saltou da cama, usava shorts curtos e camisola, não gostava de dormir com roupas casuais. 

— Você é muito boa em mentir.

— Você que é péssima em mentir. 

— Tanto faz, quero que me acompanhe, vou te mostrar que seus amigos não são boas amizades.  

— Então vamos — Respondeu Lyra, sabia que era questão de tempo ate a irmã voltara  razão. — Estou curiosa sobre como você pretende desafiar dois universos e ainda vencer.

— Vou te mostrar. — Disse Maia dando as costas e saindo do quarto. 

Marcus, o pai delas, sempre preparava o café da manhã, mas desde que as garotas se tornaram grandes o suficiente para ficarem sozinhas, ele havia arranjado um emprego na cafeteria do outro lado da ONG e como a mãe delas estava sempre no hospital ou na ONG, nunca mais haviam tomado café da manhã em família.

— Quer comer alguma coisa? — Perguntou Maia, estava ao lado da porta novamente, claramente com pressa. — O lugar não é longe.

Lyra negou com a cabeça o que fez Maia sorrir. Lyra também gostaria de ficar ao lado da irmã e estava ansiosa pela oportunidade de trazer Maia a razão. Elas saíram de casa, o dia estava ensolarado, nada como a floresta sombria que Lyra havia sonhado, o que a agradou.

Maia chamou um motorista de aplicativo, a visão do celular da irmã, lembrou Lyra da tecnologia de Malrandir, tão avançada que parecia magia, não conseguia pensar em como Maia pretendia desafiá-los, mesmo que o universo claridiano quisesse dominá-los, nada os impediria,  não ser, talvez, o império, mas apenas porque eram ainda mais avançados que os claridianos.

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