Destinados ao amor

Capítulo 53

Assim que foi liberado, Evans se postou ao lado de Scarlett em seu leito, e de lá não saiu. A loira tinha a aparência fraca, débil. As horas se passaram, e ela não se movia, apenas respirava. Seus cabelos estavam soltos, no travesseiro branco. Ela vestia uma camisola amarela-clara, do hospital. Evans segurou a mão dela pelas horas a fio. Parecia não piscar os olhos, enquanto observava a esposa. Pediu pra levarem uma Rosalie irritada pra casa, não achava bom que ela ficasse no hospital muito tempo. Os cantos da boca de Scarlett estavam vermelhos, e seus pulsos tinham grandes curativos. A madrugada e a chuva reinavam lá fora, quando Scarlett começou a falar.

- Era mentira. - Sussurrou, virando o rosto levemente pro rosto pro lado. Evans encarou ela, atentamente.
- Calma. - Pediu, acariciando-lhe o cabelo.
- Jessica. - Sussurrou novamente, franzindo a sobrancelha.
- Já acabou. - Acalmou, ainda acariciando-a.
- Não adianta, era mentira. - Murmurou, atordoada.
- O que era mentira, meu amor? - Tentou acalmar, vendo a agitação dela.
- Tudo. O filho. A mãe do Evans. Era mentira. - Ela se balançou de novo, com uma expressão de dor no rosto.
- Calma, Scar. - Ele beijou a testa dela. Scarlett se aquietou por um instante, e ele a observou, pensativo. Uns minutos depois, a loira abriu os olhos, e o encarou fixamente.
- Não. - Ela recuou, se encolhendo na cama, ao focalizar Evans em sua frente.
- Calma. Está tudo bem agora. - Acalmou ela, segurando-a pelo ombro. A pele dela queimou sob o toque dele. Já ele tinha vontade de possuí-la ali mesmo.
- Não está bem. Você me encontrou. - Concluiu, se sentando. Sua cabeça estava um pouco pesada, pelos remédios - Rosalie. Cadê a minha filha?! - Perguntou, assustada.
- Scar, calma. Rose está em casa, Kate e Lizzie estão cuidando dela. Ela está bem. - Scarlett suspirou, relaxando na cama. - Porque fugiu, Scarlett? - Perguntou, sentando-se nos pés da cama, ainda segurando a mão dela.

Scarlett encarou Evans, sentindo o coração pular. Pensou no que Jessica dissera. Ele terminou com ela. Sua vontade era de pular em seu pescoço, e se entregar a ele de todas as formas possíveis. Mas ela não o fez.

- Maldição, você ainda deve estar confusa. - Constatou, quando ela não respondeu - Vou pedir a enfermeira pra lhe trazer algo pra cabeça, deve ajudar. - E se levantou, mas ela segurou sua mão. Evans olhou primeiro pra as mãos dos dois, para as duas alianças se segurando, e depois encarou-a.
- Não estou confusa. - Respondeu, puxando-o de volta. Evans se sentou novamente. As mãos dos dois pareciam não querer se soltar, por isso continuaram juntas.
- Evans, eu preciso te... - Interrompida.
- Com licença. - Pediu, entrando no quarto. Evans se levantou, enquanto a enfermeira examinava a mulher.

Scarlett gemeu ao ter as pernas descobertas. A cada mordida da cobra, ficará um ponto roxo grande em volta. Doeu quando a enfermeira verificou o curativo.

- Cuidaremos disso, também. - Murmurou pra ela, ao perceber a vaidade ferida da esposa. Scarlett sorriu de canto, e suspirou.
- Logo poderá ir para sua casa, senhora Evans. - Anunciou, sorrindo bondosamente, e cobrindo Scarlett novamente. Evans observou a loira, e viu ela abaixar o olhar pra as mãos, com o pensamento distante.

A Enfermeira deu uma porção de remédios pra Scarlett, que bebeu em silêncio. Em seguida, saiu, deixando marido e mulher a sós novamente.

- E então...? - Perguntou, se sentando ao lado dela na beira da cama. Scarlett queria muito pegar a mão dele novamente, mas não tinha coragem pra isso. - Se você quiser descansar mais, podemos conversar depois. Deve estar confusa ainda. - Acalmou, observando-a.
- Não, não estou. - Mentiu. Sua cabeça estava pesada, e doía fracamente. Estava tonta, e enjoada. Só que isso não podia ser prorrogado - Eu preciso que me escute. Antes de qualquer coisa. Eu quero te dizer o que aconteceu comigo. Eu preciso.
- Está tudo bem. - Ele pegou a mão dela, e ela sorriu por dentro com isso. Pegou a mão do marido e segurou-a com carinho, enquanto tomava coragem pra falar - Me diga. Quem te fez aquilo? - Perguntou, sério.
- Foi ela, Jessica.

Scarlett viu o rosto de Evans se fechar em uma máscara furiosa. Jessica era vingativa, ele sabia. Mas não sabia que chegaria a tanto. Scarlett poderia estar morta.

- Desgraçada. - Rosnou, se levantando bruscamente. Mas Scarlett segurou a mão dele com toda a força que pode reunir. Foi muito pouco, mas ele sentiu que ela não queria que ele fosse.
- Não me deixe só. - Murmurou, por fim. Ficará sozinha muito tempo. Evans sentiu o peito se oprimir de vontade de beija-la, de abraça-la. Tudo bem, mataria Jessica depois. Ele se sentou ao lado dela novamente, e beijou as costas de sua mão levemente. - Obrigado. - Respondeu, acanhada, e ele sorriu de canto - Evans, tem outra coisa. Outra coisa muito séria, eu preciso te dizer. - Ela suspirou, e começou a falar.

Scarlett contou toda a história a Evans. Desde o filho, até a fuga com Escobar. Ela viu o rosto do marido sem expressão, observando-a. Deus, que Evans acreditasse nela, pelo menos dessa vez.

- Então... foi isso. Eu não quero que pense que estou dizendo isso porque quero fazer algum tipo de intriga, ou qualquer outra coisa. Evans, eu... eu quero o seu bem. - Admitiu, segurando um "eu te amo" dentro da garganta.
- É você. - Murmurou, olhando-a atentamente.
- Desculpe? - Perguntou, confusa, enquanto acariciava a mão dele, satisfazendo sua vontade, e ao mesmo tempo tentando conforta-lo.
- Meu bem. É você. - Scarlett engoliu em seco - Não importa o... - Ele hesitou. Tudo o que sabia de si mesmo era mentira. - Não importa o que aconteceu. Ela, e tudo o que vem relacionado a ela, é um capitulo fechado. Um capítulo recheado de mentiras. - Disse, e Scarlett pôde sentir o ódio na voz dele - Mas você é o meu presente, e o meu futuro.
- Evans, por favor. - Pediu, fraca. - Nós já tentamos, diversas vezes. Não deu certo. - Se obrigou a dizer.
- Antes de continuarmos. Me diga, minha Scar. Diga olhando pros meus olhos. Diga que eu não consegui matar o amor que você sentia por mim. - Pediu, encarando-a.

Scarlett encarou ele por segundos a fio. Queria tanto abraça-lo, que seu peito arfava. Ela sentiu os olhos se umedecerem, enquanto procurava voz pra responder.

- Eu não quero mais me machucar, meu amor. - Assumiu, com a voz embargada. Evans respirou fundo, e sorriu de canto, encarando a mulher.