Lisa Estranha

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Nos últimos cinco anos, as coisas foram de assustadoras, a chatas e cheias de bizarrices. Quando a policia local me encontrou em meio aos destroços da casa recém explodida, como menor fui levada ao orfanato. Ninguém conseguiu encontrar minha mãe, na verdade, acho que nem tentaram, me lembro de invadir a sala da diretora do orfanato e ler minha ficha onde o relato era que..."Emma Swan enlouqueceu e incendiou a própria casa, provavelmente morreu no local, mas seu corpo não foi encontrado, a filha Catherine Swan sobreviveu e não há outra palavra se não Milagre."

Milagre? Eles só podem estar brincando.

No inicio eu contava a história do monstro de olhos vermelhos, para as outras crianças do orfanato. Isso fazia com que elas tivessem muitos pesadelos então fui transferida pela primeira vez, para outro orfanato, em outra cidade. Toronto era um lugar ensolarado, mas o orfanato parecia viver no inverno. Tudo era frio e úmido lá. Passei por toda a babaquice de terapia infantil, e ressocialização com as outras fedelhas. O que novamente não deu muito certo. Já que um grupo de meninas metidas a besta tentaram afogar minha cabeça na privada, mas eu raspei a cabeça delas. Adorei o novo visual das pequenas pestes, mas o diretor não curtiu.

Então chegamos ao ponto onde tudo mudou. Eu estava a seis meses no terceiro orfanato, decidi ficar na minha, era administrado por freiras e eu não queria ser exorcizada ou coisa do tipo. De qualquer forma, nenhuma delas gostava de mim. Passava a maior parte dentro do meu quarto, olhando para as paredes, com cruzes e imagens do cara simpático que todos conhecemos como Jesus. Eu costumava conversar com o quadro, fazer perguntas idiotas, como por exemplo "Porque deixou que minha mãe transasse com o diabo?". É claro que eu deveria estar louca aquela altura.

Em uma tarde chuvosa, eu estava questionando o homem simpático do quadro, quando percebi estar entediada demais. Desci as escadarias, e fui até a parte do pátio que era coberta. Fiquei parada em um canto, meus cabelos cobrindo parte do rosto, as mãos enfiadas no bolso do moletom cinza. No meio da correria das pequenas, e dos olhares debochados das mais velhas, encontrei uma garota perto do banheiro, ela estava quase como eu, cabeça abaixada, mãos nos bolsos, mas seus olhos não pararam de me encarar. No começo ignorei, mas é difícil quando se repara da primeira vez. Na minha cabeça uma voz gritava. "Não faça isso." "Não faça isso"

E eu fiz.

Caminhei até ela, e parei na sua frente.

— Oi.

— Por que está falando comigo?

— Bom, eu vi você me encarando.

—Você não devia estar aqui. — A menina parecia paranoica, os olhos fundos, provavelmente não dormia há meses.

— Ah, entendi. Você é a estranha. — Revirei os olhos.

— O que?

— Todo orfanato tem a garota estranha, esse cargo sempre foi meu. — Dei um meio sorriso. — Mas, cheguei tarde. — A garota não entendeu a piada e isso aumentou meu tédio.

Ela se aproximou as mãos tremendo apontando para mim.

— Eu sei o que você é, Catherine Swan, um incêndio serio? Não tinha como ter sobrevivido, não tinha como estar aqui. — Ela repetia freneticamente. — Não tinha, estar aqui. Não, não. Amaldiçoados todos somos, você, você é profana! — Ela gritava enlouquecia, a garota estava descontrolada, todos agora nos encaravam.

— Da pra parar com isso! — Pedi entredentes.

— Criatura do mal, todos vamos queimar e a culpa é sua! — Ela continuou.

Eu levantei as mãos para pegar os braços dela.

— Você precisa de um médico.

Ela cuspiu no meu rosto, isso mesmo, ela cuspiu. E minha paciência tinha chegado ao limite.

— Já chega, Lisa! Eu sei que acha que sua mãe aquela vadia drogada foi amaldiçoada e por isso você estar nessa merda de lugar. Mas não venha jogar a culpa na novata!

— E onde está a sua mãe Catherine? Ah, é ela foi consumida pelo fogo do diabo.

Eu já tinha dado as costas, estava pronta para voltar ao meu quarto. Mas as palavras de Lisa, fizeram aflorar meus nervos, eu desejei que ela queimasse.

Nunca me arrependi tanto de um desejo. Ela realmente queimou, inflamou no meio do pátio. Foi horroroso e nojento. Mas não me entenda mal, a culpa não foi minha. Eu não fiz aquilo, acredite.

Como meu karma era ser expulsa de orfanatos, eu já estava de malas prontas no dia seguinte. Mas, uma surpresa me aguardava. Uma freira entrou no meu quarto, ela estava com medo dava para sentir.

— Catherine, você não será transferida. Boas notícias, você foi adotada.

— O que? Quando? — Terminei de trancar a mala única.

— Hoje, a meia hora atrás.

A Freira contou enquanto descíamos as escadarias.

— O nome dela é Mika Hills, é solteira, sem filhos ou animais. Mas tem trabalho estável e não tem antecedentes criminais. — A freira deu um sorriso otimista.

— Ah que ótimo. — Revirei os olhos, sem muita empolgação.

Quando cheguei ao portão de saída do orfanato, pude jurar que a Mary Poppins tinha saído do filme para me importunar a vida. A mulher que me esperava, tinha parado no século passado. As roupas antiquadas e um sorriso estranho no rosto.

— Olá, você deve ser a Catherine. — Ela esticou a mão, mas eu ignorei.

— Oi.

— Bom, melhor irmos. Obrigada por tudo Senhorita freira. — A mulher dos anos cinquenta, estava de muito bom humor ao se despedir.

Entramos no carro dela, que era pra variar, um impala 67 da cor vinho, até que eu simpatizei com o possante. Eu estava no banco de trás, Mika dirigia calmamente, tinha ligado o som e tocava algo dos anos de ouro.

— Sabe, Catherine eu sei que aquilo foi um acidente. Não pense que vou julga-la por...aquilo.

— Ei! Eu não fiz aquilo, Lisa era louca, ela mesmo deve ter tacado fogo no próprio corpo.

Mika olhou para mim pelo retrovisor rapidamente.

— Certo. Não vamos falar mais sobre isso, ok?

Eu decidi não responder.

—Eu espero que goste de Fast food. Vamos a Nova York!

A Filha Do ArcanjoOnde histórias criam vida. Descubra agora