Naquela noite, nós não fomos dormir Mika passou o resto da madrugada me ensinando sobre o mundo das bruxas, e sobre os artefatos que logo eu descobri que eram herança de família. Eu sempre achei Mika meio estranha, pensei que fosse esquizofrênica ou sei lá. Mas na verdade, ela era incrível, muito habilidosa e sábia demais mesmo sendo uma mulher jovem.
- Então, como foi? Seus pais morreram e te entregaram todas essas coisas?
- Não. Esses artefatos não foram adquiridos de uma vez só, algumas dessas peças foram-me entregues em viagens. - Mika tocou um vaso decorado no canto da casa. - Japão. - Depois se virou para um relógio médio de ouro. - Dubai. - Apontou para duas espadas de prata na parede. - Londres.
- Você tem uma loja de conveniência. Aonde arruma dinheiro pra viajar?
- Tenho minhas economias. - Mika deu um sorriso torto.
Algo me dizia que essas economias, tinham a ver com feitiços. Mas, decidi que ela não precisava, saber, que eu sabia.
O dia estava amanhecendo, os primeiros raios de sol já entravam pelas frestas das janelas. Mika suspirou e prendeu os cabelo como sempre fazia antes de alguma tarefa.
- Vou preparar o café. O que vai querer?
- Panquecas.
Fomos para a cozinha e me sentei na baqueta, e a observei preparar as panquecas. Por um breve instante tive flashes daquela noite na antiga casa, era como se eu estivesse tendo um deja vu. Meus olhos marejaram, abaixei a cabeça reprimindo o sentimento, não queria que Mika me visse daquele jeito.
Quando ela se virou, eu já forçava um sorriso fraco.
- Aqui está. Coma tudo. - Disse ela batendo as mãos de farinha no avental. - Escute, vou me arrumar para o trabalho e você irá comigo.
- O que? - Parei a panqueca no meio do caminho até minha boca. - Vai me deixar sair?
Ela se aproximou.
- Você vai trabalhar comigo hoje. Não pense que vou deixá-la a solta pela cidade mocinha. Mas, você já tem dezessete anos mesmo sendo filha do...
- Diabo em pessoa. - Revirei os olhos.
- Isso. Acho que está certa, não pode viver como um animal no cativeiro.
Levantei sorrindo e pela primeira vez em anos, abracei Mika com sinceridade.
- Obrigada. Obrigada. Obrigada - Disse animada.
Terminamos o café, tomei um banho e me arrumei passei horas escolhendo uma roupa, fazia muito tempo que eu não via outro ser humano além de Mika. Acabei indo com o que predomina no guarda roupas, preto. Calças pretas, uma blusa do AC/DC e all star adivinha? Preto. Deixei os cabelos ondulados soltos sobre os ombros, talvez fosse uma das coisas que eu realmente gostava em mim, eles eram castanhos escuros e lembravam muito os da minha mãe.
Entramos no Impala 67 que agora era um xodó para mim. O cheiro do automóvel era hortelã misturado com gasolina. Inebriante como eu me lembrava.
- Ainda vou dirigir esse carro. - Disse acariciando os bancos de couro.
Mika entrou no lado do motorista, e virou a chave olhando para mim.
- Você nunca vai dirigir essa máquina.
- Qual é? - Fiz cara de decepcionada.
- Esse carro é da família. Odiaria ver ele capotado em alguma rodovia.
- Uau, sua confiança no meu potencial é gratificante.
Mika deu um meio sorriso, satisfeita por me provocar. Ambas rimos levemente.
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A Filha Do Arcanjo
Teen FictionOi, eu sei o que você deve estar pensando o que diabos essa garota que eu nunca vi na vida quer? Bem, eu quero que me escute. Eu preciso contar minha história...E só você pode saber, será um segredo nosso certo? Por onde eu começo....hmmm....Ah!! J...