A Filha Do Arcanjo

"E Cronos devorou o mundo..."

Algumas Horas Depois, eu e Miguel estávamos de volta ao hotel onde mais cedo Anael tinha reservado quartos. O arcanjo polia suas espadas, eram sete no total, diferentes uma da outra, todas prateadas como ouro branco, brilhavam como estrelas cadentes, escrituras antigas adornavam seu cumprimento. Acabei trocando de roupa, agora uma camiseta preta básica, a calça preta e as botas permaneceram assim como o sobretudo, que vinham com alguns compartimentos onde escondi adagas e outros objetos cortantes, sob orientação de Miguel. 

- Vai me contar o que rolou entre você e Anael? 

Miguel apoio a espada na mesa de centro com preciso cuidado. 

- É um caso antigo. 

Continuei o encarando até que revirou os olhos dando-se por vencido. 

- Os casamentos celestiais não são como os da terra, não tem amor envolvido, nem afeto. Trata-se de uma estratégia politica. Gabriel meu irmão mais velho, é o mais poderoso dentre nós, e segundo sua lei, todo arcanjo precisa se casar com outro anjo, com o único objetivo de manter arcanjos e anjos unidos, evitando outra rebelião. 

- E você aceitou? 

- Ninguém pensa em guerra durante casamentos. Achei poderia ajudar se cumprisse com a vontade do meu irmão. Mas, houveram imprevistos. 

- Imprevistos por assim dizer...uma certa bruxa peculiar. 

- Mika. -Afirmou ele. Sempre que o nome dela saia de seus lábios, soava como uma promessa ao vento, de que um dia ele a veria novamente. 

- Bem, isso explica a aspereza de Anael. - Deu de ombros. 

- Ela já foi um anjo lindo, encantadora e gentil. Mas quando perdemos demais, passamos a ignorar qualquer chance de vitória. 

Pensei em dizer, como eu entendia ela, como seu sentimento de incapacidade e frustração era correspondente ao meu, e que eu estava com medo de fracassar esta noite. 

Tudo se dissipou em minha mente, quando o quarto tremeu e uma figura surgiu no meio da sala, o ser era alto demais, usava um terno azul marinho escuro, seus cabelos curtos em um tom ruivo vibrantes, e os olhos da mesma cor, sua pele era tão acinzentada quanto a de um morto recém-enterrado. Miguel rapidamente sacou uma das espadas e se preparou para atacar, quando a figura levantou as mãos em sinal de paz. 

- Eu não vim machucar nenhum de vocês. 

- Azazel? - Miguel esperou o tremer cessar e estreitou os olhos para ver o anjo caído no meio da sala. 

- Olá velho amigo.  - Azazel tinha a voz de um trovão, era forte e intimidadora, mas se assemelhava a uma serpente quando nos olhava. 

Naquele momento, eu travei de forma tão abrupta que meu corpo não se mexia, minha respiração pesou e eu só conseguia encarar aquele homem enorme e assustador na minha frente. Até que ele olhou diretamente para mim, e foi como se o ar voltasse aos meus pulmões. 

- Você deve ser a famosa Catherine, suponho. 

- Azazel quem o invocou? - Miguel parecia cauteloso. 

- Ninguém. - Azazel disse sem tirar os olhos de mim, mas logo voltou sua atenção ao arcanjo. - Os portões estão se abrindo, você não soube, Lucifer esta com o coração dele, agora é só questão de tempo...eu posso me auto invocar onde quiser...

- E se você pode... - Miguel estava tenso. 

- Outros podem. - Afirmei pálida. 

- Vocês não estão vendo as notícias? - Azazel parecia surpreso. Com um gesto singelo, fez a Tv do hotel ligar, as notícias correndo pelos canais.