- Espera, anjo da Guarda?
Pisquei algumas vezes para ter certeza que não estava delirando. Devido as circunstâncias, não me surpreenderia se estivesse ficando louca.
- É isso mesmo. - A mulher cruzou os braços. Era tão graciosa que se assemelhava a uma serpente.
- Pensei que só humanos tinham anjos da Guarda.
- Mas você é humana. Ou uma parte de você é.
- Você sabe que eu sou...
- Filha do Arcanjo mais poderoso da terra? - Ela levantou o olhar para mim. -Lucifer.
- Olha Anjo da Guarda...
- Me chame de Anael.
- Certo. Anael, eu não sei o que você quer, mas vou adiantar que não há nada para você aqui.
A dispensei com um leve aceno de mão. Mas a mulher parecia uma estátua de sal na minha frente.
- Você está sozinha agora. Por isso eu vim.
Estreitei os olhos para ela.
- Está me dizendo que veio cuidar de mim por que estou sozinha?
- Não. - Disparou ela. E eu jamais admitiria em voz alta, mas foi como um tapa.
- Não somos amigas, não sou nada para você e você em sua essência também não significa muita coisa. Porém! O que você tem aí dentro. - Ela apontou para mim de cima a baixo. - Isso é importante.
- Do que você está falando?
- Dos seus poderes é claro. Você é uma Nephilim, mas não uma qualquer. É uma Nephilim nascida com o sangue de um arcanjo. Isso nunca aconteceu, Catherine.
- Então não existe um guia de como controlar...isso?
- Não. - Anael se aproximou cuidadosamente. - Mas eu posso ajudar, usar esses poderes.
- Eu sabia que você queria algo. - Declarei satisfeita por não ter caído no joguinho dela.
- Eu quero o que todos no céu querem.
- E o que seria?
Anael olhou o horizonte a esta altura o sol dava seus últimos suspiros.
- A morte de Lúcifer.
Para a minha vergonha, não pude conter um riso irônico.
- Ah claro, você acha que eu? Posso matar o diabo? Assim simples.
- Não disse que seria fácil. Mas é claramente possível. Posso sentir sua energia Catherine e é colossal.
- Não conte comigo para grandes feitos. Sinto muito anjinha.
Virei de costas para ela. Não queria entregar meu real estado.
- Sei que perdeu sua mãe, sei que seu pai bem, é quem é. Também sei que a mulher naquela pilha de madeira era importante.
Mas não pode dar as costas para o mundo inteiro.- Eu não consigo. - Disse entre dentes segurando o nó doloroso na garganta.
- É verdade, não consegue. Você é fraca, movida pelas emoções, não consegue ver o todo, só o seu próprio mundo. E é assim que você assistirá o mundo queimar.
- Eu...
Anael já estava caminhando para dentro das árvores.
- Eu sinto muito por Noah, ele morrerá sem saber se a namorada fez alguma coisa para tira-lo do inferno.- Anael parou a certa distância e quando seus olhos se ergueram eram como chamas azuis celestiais. - E Sinto muito por Você, se atirar nesse penhasco.
Não houve tempo para falar, ou fazer qualquer coisa. Uma força me arremessou no mar de forma tão violenta que acabei desmaiando.
******
(Miguel)
A noite já tinha caído, quando eu cheguei ao centro da cidade. Sentei-me na estação de trens e com a passagem para Salem em mãos refletia sobre os acontecimentos dos últimos dias.
A algum tempo pensei estar recluso de qualquer rosto amigo, meu pai não dera sinal a milênios, os anjos, em sua maioria, me detestavam e tudo perdia sentido, a medida que eu me lembrava.
Como se o céu ouvisse minhas presses ouvi um bater de asas e logo um odor de alecrim tomou o lugar.- Gabriel. - Afirmei.
- Olá irmão.
- O que você quer?
Levantei o olhar para ele, meu irmão assim como eu e Lucifer era um arcanjo, mas não como nós. Era muito mais poderoso e muito mais leal a Deus. Todos o respeitavam.
- Um irmão não pode visitar o outro?
Cansado e entediado, me levantei e parei em frente à ele. Sem se quer mudar minha postura desleixada.
- Onde está a garota? - Gabriel disse em tom autoritário.
- Aí está ele! O grande Gabriel!
- Miguel não seja ridículo. E me responda.
- Eu não sei. - Murmurei.
- O que?
- EU NÃO SEI! Eu deixei ela, abandonei aquela menina. Que agora não tem família, nem amigos nem ninguém que possa confiar!!
- Miguel, você sabe que não pode deixá-la sozinha. Catherine é perigosa.
- Ela é uma criança.
- Não. Não é. - A voz de Gabriel permanecia cortante como uma lâmina. - Ela é uma arma, e será usada por Lúcifer.
- Eu sei que é nossa sobrinha. Sei que aparentemente se apegou a ela. Mas sabemos da onde a semente veio. Mais cedo ou mais tarde, ela vai matar alguém.
- Não, você não a conhece.
Gabriel se aproximou ainda mais, eu não queria mas meu corpo se encolheu. Eu definitivamente era um covarde.
- Você tem três dias para encontrá-la e controlar a situação. Depois disso, eu vou caça-la e mata-la. Para o bem de todos. Espero que não cheguemos a esse ponto.
- Isso é crueldade.
- Isso é justiça, meu caro irmão.
Da mesma forma que veio, Gabriel se foi. Me deixando perturbado com Catherine e sua peculiaridade. Será mesmo que ela seria capaz de atrocidades? E se fosse? A culpa seria minha mais uma vez.
Larguei o bilhete único para Salem e retornei ao penhasco na esperança de encontra-la. Mas para minha surpresa, Ela não estava lá. Voltei para a casa de Mika.
Ela também não estava lá. A casa intocada, me lembrou a primeira vez que eu e Mika nos beijamos. Em como éramos felizes do nosso jeito.
Sacudi a cabeça, haviam coisas mais importantes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Filha Do Arcanjo
Teen FictionOi, eu sei o que você deve estar pensando o que diabos essa garota que eu nunca vi na vida quer? Bem, eu quero que me escute. Eu preciso contar minha história...E só você pode saber, será um segredo nosso certo? Por onde eu começo....hmmm....Ah!! J...