"Bem-vindos a Nova Salém"

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Lá estávamos nós de volta a estrada, com Panic At The disco! Tocando no rádio, a paisagem que admirávamos eram campos de vinhedos e cata ventos bem ao longe. Já tinha se passado mais de quatro horas, desde o episódio inconveniente no apartamento de Noah. Mika dirigia a toda velocidade no inicio da viagem, mas agora estava mais tranquila.

Você deve estar se perguntando, onde está o Noah?

Bem, ele estava com a gente, no banco de trás adormecido. Não, nós não apagamos ele, só estava exausto, foram muitas "descobertas". Não sei se é bem esse termo, mas vamos chamar assim. Eu não podia deixá-lo lá, sozinho com mil interrogações na cabeça, e aliás meu pai poderia voltar ou um dos cães dele.

- Ainda falta muito? - Disse bocejando, estava exausta.

- Só mais alguns quilômetros. - Mika não tirava os olhos da estrada nem por um instante.

- Onde estamos indo? - Dessa vez, foi Noah que falando com os olhos estreitos e cansados.

- Vamos a Salém.

- Salém, a cidade das bruxas? - Tinha certa animação no tom de Noah.

Mika revirou os olhos.

- Querido, isso é história para assustar criancinhas, as bruxas não são de Salem.

- Não!?

- São do Norte de Gales. Somente, um grupo migrou para Salém, e daí as histórias que os humanos adoram contar.

- Certo. Então porque estamos indo a Salém?

Mika hesitou por um momento, e logo depois deu uma rápida olhada pelo retrovisor.

- Estamos indo ver, o tio de Catherine.

- Espera, minha mãe tem irmãos? - Não pude conter as surpresa.

Mas Mika não respondeu com clareza. Balbuciou algo como, digamos que ele é da família.

Estava pronta para abrir a boca, quando portões de metal enferrujado se ergueram a minha frente. No letreiro, estava escrito "Bem-Vindos A Nova Salém". Entramos, a estrada se abriu em uma cidade pequena, com mais casas antigas do que modernas, as pessoas não se continham e encaravam nossa chegada sussurrando e palpitando. Era bem coisa de cidade pequena. Mika estacionou na praça principal, onde havia uma fonte onde um padre tinha sido esculpido ateando fogo em uma mulher.

- Esperem aqui, eu já volto. - Mika ajeitou os cabelos e o sobretudo, ação estranha, ela parecia ansiosa. Sai a passos apressados e desapareceu entre as ruas de Salém.

Noah parou ao meu lado, em frente a fonte.

- Acha que ela era uma bruxa?

Suspirei.

- Acredito que não. Nessa época qualquer mulher que ousasse sair do sistema, era considerada uma bruxa.

- Já reparou como essa cidade parece que parou no tempo. - Noah estremeceu. - Me da arrepios.

Dei um sorriso entretido a ele.

- Noah, qualquer coisa te da arrepios.

Ele cerrou os olhos para mim. Mas sabia que eu estava certa.

- Então, seu pai né...deve ser difícil.

- Não vamos falar disso Noah...

- Ele mencionou sua mãe...onde ela está...

Flashes da minha mãe correram-me a mente. Me afastei dele para ter espaço. Odiava falar sobre ela. Lembrar que ela me deixou era doloroso.

- Ei Catherine, me desculpe...eu não quis... - Noah colocou as mãos no bolso da jaqueta e ficou cabisbaixo.

- Tudo bem você não tem que se desculpar. - Dei um sorriso leve a ele, meus olhos marejavam mas respirei fundo, estava cansada de chorar.

- Sabe, lá no prédio quando nós... - Noah se aproximou novamente me olhando nos olhos.

Na minha cabeça uma vozinha gritava "Beije-me Noah!!", nos encontramos envolvidos pela troca de olhares e a vontade disfarçada atrás de nossos corpos.

- Catherine, Noah!! Venham!!

A voz de Mika era calma, mas ela estava com uma cara séria. Droga, mais uma vez interrompida.

Limpei a garganta e desviei o olhar do garoto que me seguiu em direção a Mika.

A bruxa deu um sorrisinho para mim, com aquele olhar de "Eu sei o que vocês iam fazer". Mas logo voltou a ficar séria quando viramos em mais duas esquinas, para dentro das ruas de Salém. Chegamos em frente a uma casa cinza, com dobradiças de prata, e a decoração exterior era toda nessa cartela de cor cinza. Paramos em frente a porta, Mika se virou para nós dois.

- Não sejam rudes, ele costuma não receber muitas visitas. - O pedido soou mais como um alerta.

A ansiedade fazia meu estômago formigar, quem era esse tio do qual eu nunca tinha ouvido falar. E porque atravessamos cidades para chegar até ele?

Por dentro a casa era exatamente como lá fora, decoração minimalista, em tons de preto e cinza com objetos de prata por todo lado. Paramos na sala de estar, e logo ouvimos passos nas escadarias. Um homem desceu em silêncio, ele era alto e moreno, os cabelos em corte militar, e uma cicatriz fina passava pela sobrancelha direita, usava um sobretudo preto e terno azul marinho. Quando nos viu, franziu o cenho como se não estivesse feliz em nos ver. Naquele momento eu soube, ele não era da família da minha mãe.

- Catherine, este é Miguel. Irmão do seu pai. - Disse Mika um pouco contida.

Olhei para o homem que agora estava a poucos passos de mim.

- O arcanjo Miguel?

- Exatamente. - Disse ele, sua voz era grave e baixa, estava calmo.

- Não bastasse ter que lidar com inferno, agora anjos? - Bufei irritada.

Noah permanecia ali calado, ele estava extremamente tímido na presença de Miguel.

- Presumo que até agora, as coisas não tem dado certo.

- Não dar certo? - Cruzei os braços. - Eu vi a droga de um demônio quase me matar! Eu sou a filha do Diabo em pessoa, minha mãe me abandonou para morrer na merda de uma explosão! E agora meu pai quer me levar pro inferno. Então, Miguel, não tem dado certo, é pouco pro que eu estou passando!

- Você se parece com ele...Lúcifer.

- Mika, porque estamos falando com esse imbecil?

- Por que o imbecil, sabe como proteger você criança. - Ele permanecia calmo.

- Não precisamos de mais um na turma, já temos a bruxa, e...

- Ele... - Havia desprezo na voz de Miguel.

- Não é porque você tem meia duzia de penas e um pisca pisca enfiado no rabo que pode se achar melhor que ele. - Disparei irritada.

- Catherine! - Mika arregalou os olhos.

- Acho que ela não precisa de ajuda. - Miguel deu as costas e já estava indo até a porta.

Respirei fundo, e organizei as ideias, não podia deixar minha emoções falarem por mim, Miguel era poderoso, eu sabia e bem...um anjo pode ser útil.

- Espere, não precisa ser radical. Ok?

Miguel parou e me olhou por um instante.

- A bruxa me procurou, por que sabe o que pode acontecer se Lúcifer colocar as mãos em você. Eu só aceitei porque isso vai além da sua arrogância criança. - Ele se aproximou um pouco mais. - Então não venha a minha casa, me insultar, eu sou um arcanjo e seu tio, me deve respeito.

- Quer meu respeito, o das asas...vai ter que merece ele. - Ergui o nariz o medindo de baixo para cima. - Por isso, quero sua ajuda.

Me desarmei.

- Por favor. - Pedi relutante.

A Filha Do ArcanjoOnde histórias criam vida. Descubra agora