A Filha Do Arcanjo

Vibrando Euforia

Depois de convencer Miguel a nos ajudar, o arcanjo com ajuda de Mika preparou o jantar. Estávamos exaustos era verdade. Mal tinha percebi que as últimas noites foram turbulentas e que mal tinha dormido direito. Então subi até o quarto de hóspedes para tentar dormir. Foi inútil, o máximo que consegui foi um cochilo. Fiquei ali deitada encarando o teto pensando em como tudo tinha saído dos trilhos, desde a partida da minha mãe, pensei que jamais amaria alguém. Temeria por alguém. Mas Mika me acolheu e me criou, mesmo com as mentiras eu sei que fez para me proteger. E agora Noah... Ainda não sei o que sinto, mas ele é tão puro, tão ele, a forma como permaneceu ali comigo e Lúcifer, mesmo em pânico, ele não me deixou sozinha...

Três batidas na porta fizeram-me despertar dos devaneios. Me sentei na cama e disse:

- Pode entrar! 

Era o Noah, ele estava bem melhor, talvez tivesse conseguido dormir, usava roupas limpas, o cheiro de lavanda e os cabelos molhados indicavam que ele acabara de sair do banho. 

- Oi...

- Oi, entra. 

Ele caminhou até a minha cama e sentou-se na beirada. 

- Como você está?

- Eu...não sei... - Bufei, eu realmente não fazia ideia. 

- É...eu também.. - A voz de Noah estava mais baixa. - O que você fez mais cedo, foi corajoso. 

- Ele poderia ter matado todos nós. Foi burrice. - Cruzei os braços. 

- Depende do ponto de vista. - Ele deu de ombros. - Mas, eu tenho que agradecer você. Por me deixar ficar com vocês. 

- Você corre perigo, como todos nós. Precisamos ficar juntos. - O olhar de Noah, aquele olhar que me faltava o ar, quase fui submergida por eles, desviei os olhos. - Digo, eu, Mika, você e Miguel é claro. 

- Bom, eu sei do que preciso. - Noah estava sério, os olhos mapeando meu corpo e minha boca fui anestesiada por seu toque em meu rosto. - E você... - Sussurrou. - Sabe do que precisa Catherine? 

Um arrepio doce correu minha costas, ele me puxou para perto estava quente, calor emanava do corpo dele, senti a garganta seca estava sedenta por ele. Não podia negar, nem fugir. Ali era o agora, e decidi afundar nas águas misteriosas do desejo reprimido desde que o vi pela primeira vez. Nos beijamos, finalmente! Foi como uma mistura deliciosa de sabores, o toque suave indo para apressado e intenso, ele rasgou minhas roupas me deitou na cama e desceu entre minhas pernas, foi então que mergulhei em uma explosão de prazer e sensação, agarrei os lençóis para evitar que os outros ouvissem, ele levantou e me deu um sorriso audacioso, admirou meu corpo agora despido e seus olhos brilharam, voltou a me beijar como se o mundo fosse acabar amanhã. Ainda me olhando nos olhos, ele me penetrou com força, fui do céu ao inferno, beijei o paraíso e vislumbrei a euforia. Em êxtase nos entregamos ao momento, o calor, o suor, o desejo, os sussurros tudo era mágico. 

Algum tempo depois nossos corpos fraquejaram nos deitamos no silêncio do anoitecer, ofegantes e sorrindo.  Eu o olhei com carinho e ele retribuiu. 

- Isso foi...uau... - Disse rindo para ele. 

- Você é linda Catherine, eu estou...nossa... - Ele ainda estava corado e suspirando, seus olhos brilhavam para mim. - Eu sabia, desde o momento em que nos vimos, que eu não poderia evitar isso...esse...sentimento...

- Noah...

- É serio, eu gosto de você Catherine. 

- Mesmo sabendo que eu sou filha do diabo? 

- Nada importa, seus pais não definem quem você é, e posso garantir que o que vi nos seus olhos esta noite, não foi nada do mal, ou satânico sei lá. - Ele tocou gentilmente meu rosto. - Você também é linda por dentro. 

Nós ficamos ali por um tempo, deitados em silêncio abraçados. Em outras circunstâncias, eu estaria em paz, tinha encontrado o amor. Mas, a nossa realidade era outra. E agora o medo me corroía. Batidas na porta, fizeram com que a gente se levantasse abruptamente. A Porta estava destrancada e Mika entrou sem qualquer cerimônia. 

- Crianças o jantar está.... - Ela corou imediatamente ao nos ver debaixo dos lençóis. - Oh céus, me perdoem. - Mika saiu rindo e fechou a porta. - Venham jantar! - Gritou ela do outro lado, estava encabulada com a situação, o que fez com que eu e Noah caíssemos na risada. 

Nos trocamos e descemos com a cara mais lavada do mundo. Mika me olhou com um sorrisinho de "mamãe orgulhosa". Revirei os olhos e sentei na mesa. Miguel estava com avental xadrez e carregava em uma travessa de vidro uma lasanha caseira. 

- Isso a gente não vê todo dia. 

- Aprendi algumas coisinhas com os humanos. - Disse ele acenando para mim. 

- Deve estar ótimo senhor Arcanjo Miguel. - Noah se sentou para comer, e a declaração me fez inclinar a cabeça. 

Noah era único, só ele pra falar desse jeito. 

- Me chame só de Miguel. - Miguel deu um sorriso torto, aparentemente aquela não tinha sido a primeira vez que esteve com humanos. 

A Lasanha estava espetacular, mas tudo que eu disse foi. "É da pra comer". Nem por cima do meu cadáver eu ia elogiar o arcanjo, que já deve ter o ego mais inflado que tudo. 

- Então, Catherine...Desde quando você sabe? 

Parei o garfo no meio do caminho. 

- Eu sempre soube que não era normal. Mas, só descobri sobre Lúcifer há alguns dias. 

- Ele já tinha procurado você antes? 

- Não. - Disparei. 

- Está mentindo. - Disse ele calmamente bebendo mais um gole de vinho. - Ele foi a sua casa, há cinco anos atrás. Ele foi atrás da Emma. 

- Conhece a minha mãe? 

- Não, mas o nome dela é famoso no céu e no inferno. - Tudo parecia muito natural quando Miguel falava. 

- Você sabe o que ele quer de mim? - Eu temia a resposta. 

- Há alguns boatos. - Ele olhou para Mika, como se pedisse permissão para falar. - Parece que Lúcifer pretende tomar a terra dos humanos para ele, literalmente. Ele quer abrir os portões do inferno e dar passagem a todos os demônios. 

- Nossa... - Fiquei pálida. 

- Mas ele não pode fazer isso sozinho, não ter poder suficiente. - Mika me olhou pesarosa. 

- Como assim? 

-  Por causa do selo. - Murmurou Noah, quando viu todos o olhando continuou. - O Selo do apocalipse, os eventos e tal. Até o diabo tem que respeitá-los. Os portões do inferno estão com uma brecha, mas ele quer escancará-los. Porém não pode. 

- O humano está certo. - Concluiu Miguel. 

- É Noah... - Corrigiu Noah um pouco tímido.

- Então ele quer usar minhas habilidades para abrir os portões? 

- Exatamente. - Miguel era cortante como lâmina fria. 

- Como podemos impedi-lo? Os anjos podem ajudar? Ou as bruxas? - Olhei de Mika para Miguel. 

- As bruxas abominam Lúcifer. Morrem de medo. 

- Você não tem medo. 

Ela me olhou com sagacidade. 

- Querida, eu não sou qualquer bruxa. Lúcifer é só um homem amargurado, como todos os outros. 

- É mas, é um homem amargurado com asas e poder subatômico. - Declarou Noah, ponderado. 

- Os anjos não vão enfrentá-lo. Não são fortes o suficiente. 

- Mas você é. Afinal é um arcanjo. 

- Até os arcanjos, as vezes perdem, Catherine. Mas, sim posso contê-lo. Matá-lo é outra história.

- Desde que a gente impeça o fim do mundo, por mim já serve.  

-