Escolhas nada fáceis

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Nos hospedamos em um hotel qualquer e procuramos roupas mais adequadas, Anael seguiu sua linha de seda e coisas que dançam com o vento, nesse meio tempo o cabeleleiro local arrumou meu pequeno ato de rebeldia. Entrei em uma loja alternativa do hotel, que mais parecia um shopping enorme. Enquanto passeava pelas araras, uma atendente gótica se aproximou de mim, sem qualquer expressou perguntou. 

- Precisa de algo especifico? 

Levantei meus olhos para ela, e deu um sorriso torto. 

- O que você recomenda, para matar o diabo? 

A garota me olhou com curiosidade e logo depois para minha surpresa sorriu, pegando uma muda de peças. Experimentei entre saias longas, meias rastão, jaquetas e vestidos. Porém a roupa perfeita, foi uma calça cintura alta cor grafite, um coturno preto pesado, um sobretudo preto e um cropped listrado cinza escuro. Quando terminei a compra já vestida. Olhei para a vendedora que agora parecia um pouco mais satisfeita. 

- Sabe, eu sou filha do diabo, e estou prestes a ir pro inferno. Não comam maçãs estragadas crianças. 

Ela me olhou com brilho nos olhos. 

- Claro senhorita Mongenstern. 

Acenei com a cabeça e parti para fora, para as ruas. Eu precisava respirar, eu realmente estava satisfeita com a minha aparência. Mas, meus pensamentos estavam assombrados pela ideia de pisar no inferno. Olhei para o céu por um instante, não havia nada lá, nenhuma luz ou ajuda. 

- Bando de galinhas douradas. - resmunguei.

- Isso foi ofensivo. 

A voz marcante de Miguel ecoou como um fantasma a espreita. 

- Ora se não é o cão covarde!  - Ironizei. 

- Seus insultos são justificáveis. Mas me escute antes de qualquer coisa. 

Revirei os olhos. 

- Eu fui um babaca, eu sei. 

- E?

- Um completo idiota, medroso. 

- Diga! - Exigi. 

- Um covarde. 

Acenei com a cabeça. 

- O que você quer? 

Ele se aproximou um pouco e cerrei os punhos em defesa.

- Eu Voltei, naquela mesma noite eu voltei até o penhasco atrás de você, eu nunca deixei de procurar você. 

- Era pra eu ficar feliz com isso? - Me aproximei elevando o queixo para encará-lo. - Você deu as costas para mim, para Mika, para Noah! 

Miguel me olhou por um tempo, algo não dito em seu olhar, fez com que eu recuasse. Ele também conhecia a dor da perda, e não parecia ter sido a primeira vez. Em um gesto abrupto, se virou e começou a caminhar pelas ruas antigas daquela parte de Nova York, longe das lojas e boutiques do centro, ali era um lugar mais histórico para visitantes mais cultos, pelo que observei enquanto seguia o arcanjo pelas vielas. Sem olhar para mim, Miguel empurrou a porta de um Pub, e o segui para dentro. 

O lugar era mal iluminado, rostos nada amigáveis e em sua maioria embriagados mal se importaram com a entrada dramática do arcanjo que seguiu direto para o bar, pediu duas doses de bourbon. Sentei ao seu lado, quando o barmen trouxe as bebidas me prontifiquei a pegar a que sugeri ser minha. Mas Miguel bateu na minha mão, como faria com uma criança de seis anos. 

- Como me encontrou?

- Depois de pensar que estava morta, soube que um anjo andava perguntando a respeito dos Nephilim, pelos cantos do mundo, em aldeias de bruxas, com os lobos na fronteira do Norte, até os demônios foram convocados para responder suas perguntas. Isso chama atenção. E só há uma pessoa tão persuasiva e insistente que faria isso. 

- Anael...  - Confirmei. 

- Exatamente. Então deduzi que ela tinha levado você ao Limbo. - Miguel virou o primeiro copo. 

- E porque não foi até lá? 

- Apesar de parecer um lugar sem regras. O limbo tem seus limites. Quando Anael te levou até lá, ela selou as passagens para lá, todas as almas, os outros anjos, ou qualquer outra coisa ficaram do lado de fora. - Miguel olhou de solsaio para mim. - Anael gosta de jogos, não é a primeira vez que leva uma Nephilim ao limbo, apenas de seus fracassos. Pelo que vejo... Ela conseguiu, afinal. - Miguel virou o outro copo e pediu mais dois ao barbudo barmen. 

- Eu...eu não... - Gaguejei, flashes da morte dos cães invadiram minha mente, o poder que emanou de mim, todas as aquelas sensações. 

- Não precisa dizer nada Catherine, eu posso sentir o poder que despertou. Isso... - Ele virou mais um copo e se virou de frente para mim, o rosto reprimido de tensão. - Isso é enorme, com um potencial para o caos iminente. 

- Está dizendo que sou perigosa? 

- Estou dizendo, que, no momento, você é o próprio caos filtrado em um corpo. E o meu trabalho, é manter você viva e isso preso aí dentro. - Miguel procurou meus olhos quando desviei. - Eu fiz uma promessa Catherine, vou proteger você. 

- Do que? 

- Do mundo, do céu, do inferno e do que habita aí dentro. 

Não consegui formular uma resposta imediata, apenas encontrei sinceridade em suas palavras e o abracei, ele retribuiu. Até sermos interrompidos. 

- Se não conhecesse nenhum dos dois, poderia até quem sabe ter achado o momento formidável. - A voz provocante de Anael inundou o ambiente. 

O resto do Pub parecia não se importar com nada da conversa. 

- Anael.. - Miguel suspirou se aprumando. 

- Miguel, o Arcanjo das sete eras, o Senhor das batalhas jamais perdidas! - Anunciou de forma teatral. 

- Já acabou? - Miguel não expressou qualquer emoção a mulher que se aproximou de nós. 

- Você está um lixo. 

- Você continua uma megera. 

Olhei de um para outro. 

- Ow, ow ow, o que está acontecendo aqui? Vocês já... 

- Eramos noivos. - Anael disse sem cerimonia. 

- Não exatamente. - Corrigiu Miguel. 

- Ah não? - Anael estava irritadiça. - Conte a sua protegida, que correu feito um covarde para terra, no dia da aliança. 

- Conta a ela sobre suas recentes pesquisas, a respeito de como matar um Nephilim. - Rebateu Miguel sem qualquer tato. Me levantei abrupta para enfrentá-la, no fundo eu sabia que não podia confiar naquela pose de ser celestial com boa fé. 

- Então você quer me matar? Que novidade! Entre na fila. 

- Foi apenas um mal entendido. 

- Claro você tropeçou em seres místicos e surgiu a dúvida de como acabar com uma aberração Nephilim. 

- Catherine, seu poder é...incrível e nenhum outro conseguiu seus feitos. Eu precisava saber formas de contê-la se fosse necessário. Mas, acha mesmo que eu a treinaria, a ensinaria a despertar, se quisesse sua morte? 

- Se está atrás do meu poder, o que te faz diferente de Lúcifer? 

Anael deu dois passos a frente, eu não recuei. 

- Se fosse para matá-la, querida, ja estaria comendo larvas pelos olhos agora. Mas, acredito que possa salvar a todos. Seu poder é fruto do caos, mas pode ser canalizado para a paz. 

Olhei para Miguel que permanecia desconfiado. 

- E se eu não conseguir? 

- Todos nós morremos. - Disse Miguel se levantando e parando ao lado do anjo. - Você é filha do Arcanjo Lúcifer, eu sou um guerreiro milenar celestial, e Anael, não existe nenhum outro ser tão rápido quanto ela. É isso que temos. - Ele virou o sétimo copo de bourbon. - Você pode escolher lutar, ou fugir... 

- E mesmo que fuja, o mal te encontra. - Anael me olhou com atenção. - O mal sempre te encontra. Mas você escolhe temê-lo, ou fazê-lo temer você. 








A Filha Do ArcanjoOnde histórias criam vida. Descubra agora