A Filha Do Arcanjo

Reunião de Família

Cortes superficiais adornavam meus braços e um outro um pouco mais profundo sangrava na minha costela. Meus cabelos grudavam na testa de tanto suor, meu peito arfava. Sobre um joelho eu me apoiava na espada quebrada. Abbadon parecia não ter sofrido qualquer dano, ele ria a cada vez que me feria, aquela risada já estava impregnada na minha cabeça. Me esforcei mais uma vez para ficar de pé. Da pior forma descobri que quando se é um Nephilim e é atacado por um príncipe do inferno, se é mais humano do que em qualquer outro momento. Meus poderes não estavam ajudando. 

Abbadon riu outra vez. 

- Ainda não se cansou bastarda? 

- Na verdade sim. - Suspirei olhando para lado como se tivesse em um lugar qualquer conversando com uma pessoa qualquer. 

- É uma pena não ser tão poderosa quanto sua fama alegava. - Ironizou ele. 

Olhei para o lago de fogo, alguma coisa reluziu ali, eram correntes de metal celestial estavam vermelhas pelo calor com certeza com temperatura de pelo menos 400ºC. 

- Seu pai, o Rei Do Inferno, é um patife sem ideais. Um filhinho mimado. Logo ele irá cair e será pelas minhas mãos. 

Enquanto Abbadon conspirava contra Lúcifer, não consegui tirar os olhos das correntes. Talvez meus poderes não fosse úteis contra ele, mas um objeto sagrado e fervente isso sim seria útil. 

- Agora chega de conversa, prometo que sua morte será dolorosa e lenta. - Abbadon sorriu com seus mil dentes afiados. 

Em seu momento de distração, me virei para ele agora com as correntes queimando a palma das mãos, o rosto retorcido de dor, me esforçando para mantê-las firmes. 

- Tem razão, agora chega. 

Abbadon ergue sua mão enorme para me esmagar, mas corri da forma como Anael me ensinou no limbo, ignore suas emoções, seja rápida e inteligente. Deslizei para as costas do príncipe, escalei uma parede, ele era grande demais e apesar de poderoso, era lento. Respirei fundo, as correntes queimavam a carne dos meus dedos, apertei com mais força e saltei sem certeza de que iria acertar seu pescoço, pulei sem certeza de coisa alguma. As correntes passaram sua cabeça e se prenderam no pescoço de Abbadon, me apoiei em suas costas e puxei com força, fora a primeira vez que o ouvi gritar, um grito sepulcral e horripilante, era dor verdadeira. Tentou alcançar as costas, mas já era tarde demais, suas forças estavam escoando do corpo, a corrente rasgava-lhe a pele, quanto mais eu puxava mais sentia o metal entrando na carne dele. - Ri disso aqui, seu desgraçado. A corrente chegou até a nuca e a cabeça de Abbadon rolou para longe, seu corpo ruiu, o que fez o quinto inferno tremer, ele se arrastou para o lago e afundou no fogo efervescente. Sua cabeça sem vida ainda me encarava. Desviei os olhos. Busquei forças, meus poderes ascenderam e as feridas, cicatrizaram, mas suas marcas permaneceram. Olhei para cima, as jaulas ainda estavam lá, mas em qual delas Noah poderia estar. Quanto tempo eu levaria para achá-lo. Não tinha todo esse tempo. Poucas armas tinham me sobrado, duas pistolas, minhas adagas e uma ou duas granadas. Sentei-me no chão e verifiquei minhas mãos, estavam curadas, completamente. Suspirei aliviada. 

- Então...você assassinou Abbadon. Estou impressionada. - A voz familiar fez meu coração disparar de tanta alegria, era minha esquisita e amada Mika. Me levantei abruptamente e a agarrei com todas as forças. 

- Mika... - Arfei. - Como é bom, ver você. - Meus olhos marejaram. 

- Minha pequena grande mulher, achou mesmo que a morte é o fim para tudo? 

- O que...o que aconteceu? - Talvez eu não quisesse saber...mas precisava perguntar. 

- Depois que Lúcifer, bem...fez o que fez comigo. Acordei no inferno, no terceiro para ser exata.