Sem olhar para trás

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― Está feliz agora? ― ao passar pelo meu pai na sala, eu despejei com raiva as palavras.

― Para ser sincero, sim. Só para avisar que já convidei o pessoal, amanhã vão entregar o terno do Marquinhos e depois vai vir uma cabeleireira e maquiadora aqui em casa para te arrumar.

Eu não parei para escutá-lo, fui subindo as escadas irritada, eu não queria saber de nada desse maldito casamento. Bati a porta do meu quarto com força, extravasando toda a minha raiva na coitada. Naquela noite eu não consegui pregar o olho direito, passei praticamente em claro, a minha cabeça latejava com muita força. Cheguei a tomar alguns remédios, mas não havia adiantado e acabei me remexendo na cama o tempo todo. E esse estresse todo não era por causa do nervosismo de estar me casando e sim porque amanhã seria o fim da minha vida.

O dia tinha amanhecido lindamente, o sol brilhava com tanto vigor que ao olhar para o céu os olhos chegavam a doer. Não havia nenhuma nuvem, apenas o azul da imensidão do horizonte. Além de fazer um calor gostoso atípico do mês de junho. Alguns passarinhos cantavam felizes, com muita graça, ao contrário do que eu estava sentindo.

― Oi filha, eu vim saber se está tudo bem ― minha mãe entrou no quarto.

― Estou péssima.

― Eu imaginei, por isso vim até aqui. Dulce, você precisa pensar no seu bebê. É melhor você evitar ficar nervosa, os primeiros meses tem certos riscos.

― E tem como? Fala isso para o seu marido. ― Encarei a minha mãe e ela baixou o olhar.

Quando ela me olhou de volta, eu jurava que ela iria me dizer alguma coisa e mudou de ideia no último segundo.

― Vamos descer e tomar o café ― ela disse por fim e saiu do quarto.

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Encarei o meu reflexo no espelho do quarto, a maquiadora tinha feito milagre já que a minha cara estava péssima, cheia de olheiras roxas, tinha aparecido algumas espinhas, mas ninguém desconfiaria disso, a maquiagem estava perfeita. Eu pedi nada muito chamativo, a moça tinha atendido o meu pedido e fez algo bem simples. O cabelo também não ficou muito extravagante, eu pedi só para escovar e fazer duas tranças embutidas pequenas que iam da lateral até o centro do cabelo. Com o meu véu curto na mão, eu dei mais uma espiada no meu reflexo, eu parecia uma noiva no final das contas. No instante seguinte soltei o ar com força, sem notar que eu havia segurado a respiração até agora e só então percebi o quanto estava sofrendo com essa situação. Desviei a minha atenção para o meu bidê que em cima continha alguns remédios, uma dor muito grande me dominou, encarei eles fixamente e senti que não havia luz no fim do túnel. Uma sensação de estar derrotada me invadiu, fechei os olhos angustiada e levei as minhas mãos até a minha barriga. Ao voltar a abrir os olhos, respirei fundo, novamente e segui com os olhos onde as minhas mãos se encontravam.

― É por causa de você, filho, que eu vou fazer isso. ― Respirei fundo mais uma vez, caminhei para a saída e antes de fechar a porta, a carinha desalenta do Manchinha ficou gravada na minha mente.

Parecia que ele estava sentindo a mesma coisa que eu.

― Olha ela, aí está a noiva mais linda ― meu pai disse quando eu terminei de descer as escadas.

Eu me aproximei dele e o encarei séria.

― A partir de hoje o senhor esquece que tem uma filha, eu não quero mais nenhum contato com você ― declarei friamente.

Ao passar pela minha mãe eu pude notar que seus olhos lacrimejaram. Saí apressada de casa e embarquei no carro aborrecida com um pensamento na cabeça, eu só chamaria ele de Pedro agora, eu não queria ter mais nenhum tipo de vínculo com ele.

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