Meu lar

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― Onde nós vamos ficar? Daqui a algumas horas vai anoitecer ― eu perguntei alguns minutos depois quando me dei conta que não tínhamos para onde ir.

― Eu comprei uma pousada lá na Capital ― ele comentou bem calmo e eu o olhei espantada.

― Como assim? ― falei confusa. ― Quando você fez a compra?

― Bem, eu estava em negociação com o dono fazia algumas semanas e ontem eu acabei fechando o negócio.

Eu continuei encarando ele sem saber o que dizer.

― O dinheiro que sobrou não foi muito ―, ele começou a se explicar. ― pois não conseguimos guardar o suficiente. Mas se a gente economizar nos primeiros meses, vamos conseguir nos manter.

Bati na minha testa de leve, repreendendo-me por ter esquecido de contar a novidade para ele. Mas e agora? Se a gente iria precisar economizar para sobreviver, imagina com um bebê a caminho.

― O que houve? ― ele perguntou ao estranhar a minha reação. ― Olha, não precisa ficar receosa com a gente dirigindo uma pousada. Eu tenho certeza que vamos conseguir fazer isso, eu aprendi a fechar o caixa e outras coisas na mercearia e você.... ― Ele parou de falar quando eu comecei a balançar a cabeça várias vezes. ― O que foi? Tem alguma coisa errada?

― Não, eu também acho que vamos conseguir gerenciar isso. É só que... ― eu parei de falar, perdendo a coragem, deixei o ar escapar pela minha boca e tomei fôlego para prosseguir. ― Eu estou grávida ― falei de uma vez e levei as mãos para a têmpora, com medo da reação dele.

Christopher tentou formular as palavras, ele abriu e fechou a boca algumas vezes e por fim apenas arregalou os olhos, chocado com a notícia.

― Diz alguma coisa Ucker ― eu comentei preocupada.

― Eu não sei o que dizer, estou assustado. ― Ele passou as mãos pelo cabelo. ― Mas estou feliz. ― Ele sorriu.

Em seguida ele acariciou a minha barriga que ainda não mostrava sinais de gravidez.

― Bem, acho que vamos ter que economizar mais ainda.

― É verdade, vou ter que calcular algumas coisas. ― Ele pareceu pensativo como se estivesse fazendo as contas e eu sorri contente.

Eu tinha toda a certeza que esse seria mais um obstáculo que iríamos vencer. Instantes depois ele começou a me olhar com a testa enrugada e voltou a falar:

― Mas Dulce, agora que eu estou lembrando aqui. Você chegou a ir até a igreja? Como que você desistiu do casamento? ― Ele me olhou curioso.

― Eu cheguei a ir até a igreja e na hora de dizer sim, eu não consegui. Mesmo com as ameaças daquele homem de abortar o nosso bebê, eu não iria conseguir viver com a mentira. ― Suspirei.

― Mentira?

― É, acredita que ele me proibiu de falar que estava grávida para você? Além de me fazer não contar nada para o Marquinhos. Ele queria que eu escondesse a gravidez. ― Balancei a cabeça.

― Não acredito que ele fez isso ― o Ucker expressou com um pouco de raiva.

― Nem eu, eu fico me perguntando o porquê dele fazer isso ― falei tristemente.

― Agora o importante é que estamos juntos e logo isso vai ser só uma lembrança. ― Ele pegou na minha mão e sorrimos juntos.

Nós ficamos apreciando a paisagem pela janela de mãos dadas até escutarmos alguns latidos fininhos, um pouco abafado. Olhei para a minha mochila que ficou entre mim e ele e percebi que o Manchinha havia acordado e parecia estar com fome.

― Vish, eu acho que não trouxe a comida dele. ― Balancei a cabeça em sinal de negação.

― Temos que esperar chegar na estação e compramos alguma coisa na rodoviária ― Christopher disse, mas logo em seguida os latidos ficaram mais agudos.

Encontros ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora