Liberdade

213 19 10
                                        

A rodoviária ficava do outro lado da cidade, tentei calcular se eu chegaria a tempo antes do Ucker partir, mas parei de correr quando lembrei de uma coisa importante.

― Ah, droga! Vou ter que voltar ― Olhei desesperada de um lado para o outro. ― Não posso deixar o Manchinha para trás. ― Bati com uma mão na minha testa de leve.

Quando eu estava retornando para o centro, escutei uma buzina de carro ser tocada loucamente.

― Dul, entra aí! ― Annie colocou a cabeça para fora do carro ao gritar e depois se virou na direção do Poncho que dirigia para dizer alguma coisa para ele, em seguida voltou a falar comigo. ― Para onde você está indo? ― ela perguntou um pouco confusa.

― Annie? ― Eu estranhei ela estar ali.

― Eu mesma. ― Ela sorriu brincalhona e esperou pela minha resposta.

― Eu estava indo atrás do Ucker na rodoviária. ― Embarquei no carro imediatamente ao mesmo tempo em que me explicava.

― Então vamos, nada de perder mais tempo.

Ela olhou mandona para o marido e eu deixei escapar uma risadinha.

― Mas e o que vocês estão fazendo aqui? ― eu comentei encarando os dois.

― Assim que você saiu correndo da igreja, eu puxei o Poncho para fora e vim atrás de você.

― Puxa ainda bem ― respondi contente, mas logo depois lembrei do cachorrinho. ― Ah, não. Temos que voltar.

― Por que? ― ela disse receosa.

― Eu preciso levar o Manchinha, não vou deixar ele aqui.

Eu sabia que eles não iriam discordar da minha atitude, Annie e eu tínhamos uma paixão em especial por cachorros e o Poncho não é uma pessoa de coração frio. Ele também se importava com os bichinhos. Por isso, no momento seguinte retornamos para o centro e eu senti medo. Um calafrio percorreu meu corpo, só de imaginar que eu poderia reencontrar aquele homem que dizia ser meu pai em casa. Quando abri a porta da casa, meu coração pareceu que parou de bater, eu comecei a respirar rápido, como se estivesse com um ataque de pânico. Minhas mãos suaram e eu tentei prestar atenção se escutava algum barulho, mas para a minha sorte a casa estava em total silêncio. Aproveitei que não tinha ninguém e subi as escadas correndo para a gente sair daqui o quanto antes. Encontrei o Manchinha dormindo em um canto, peguei ele no colo e depois coloquei a mochila nas costas e também a mala.

Quando embarquei no carro e o Poncho deu a partida, encarei pela última vez o lugar que eu chamava de casa. E para ser sincera eu não iria sentir falta dali, apenas das pessoas amigas, minha casa agora era onde o Ucker estivesse.

― Anda Poncho, acelera esse carro. O Ucker pode já ter ido embora.

E mais uma vez eu voltei a ficar com medo. E se ele já estivesse partido? Olhei para o Manchinha que continuava dormindo, ele tinha aberto apenas um pouco os olhos momentos atrás para saber o que estava acontecendo, porém depois retornou para o seu sono. A despreocupação dele me fez sorrir, pelo menos alguém estava tranquilo em meio ao caos. Após alguns minutos, o que pareceu uma eternidade para mim, nós tínhamos chegado. E pela primeira vez depois de semanas eu senti esperança, apesar de estar receosa com a situação. Eu também estava preocupada com o rumo que a minha vida tomaria daqui para frente.

No instante em que nós entramos na rodoviária, ouvi a locução de avisos sonoros repercutir pelo ambiente:

Passageiros com destino à Capital, último aviso de embarque.

Eu não tinha a mínima ideia se esse era o ônibus do Ucker, por isso eu me apavorei ainda mais. No instante seguinte, meus olhos tentaram localizá-lo, desesperados, no meio da multidão. Sem obter sucesso, foquei a minha atenção para os ônibus em que as pessoas estavam embarcando e na última plataforma, avistei o que eu tanto procurava. Ele olhava para os lados com uma mochila nas costas, Christopher parecia estar procurando alguém na multidão, talvez ele também estivesse com esperança de que eu aparecesse.

― Ucker!! ― eu gritei com toda a minha força, tentando chamar a atenção dele.

Sem conseguir fazer com que ele me ouvisse, eu comecei a correr quando notei que ele iria embarcar no ônibus, os passos saíram um pouco desengonçados, devido as coisas que eu carregava, mas eu não me importei corri o mais rápido que pude. As pessoas ao redor me olharam esquisito e eu conseguia imaginar o espanto delas, pois não é todo dia em que você vê uma noiva correndo por uma estação de ônibus.

― Não pega esse ônibus sem mim ― comuniquei em um tom alto e desesperado. ― Ucker!! ― gritei novamente e dessa vez ele havia me escutado.

― Dulce! ― ele disse espantado, mas pude notar em sua voz uma alegria enorme.

― Não vai embora sem mim, por favor ― supliquei quando estava chegando perto dele.

Quando ele se aproximou de mim, envolveu seus braços ao redor do meu corpo e me abraçou apertado, fazendo com que eu ficasse com os braços presos. Eu suspirei aliviada e agradeci mentalmente que eu tinha conseguido chegar a tempo. Após alguns segundos "presa" no seu abraço, ele me soltou e eu sorri contente. Eu dei mais um passo para frente e encostei meus lábios no dele. O toque foi suave e um pouco rápido, já que estávamos com pressa. Ao nos separar eu perguntei para onde íamos e ele respondeu que seria para à Capital. No instante seguinte eu percebi que o ônibus já estava de partida.

― Mas eu nem comprei a passagem ― respondi quando Christopher me puxava na direção do ônibus.

― Eu comprei duas com a esperança de você mudar de ideia. ― Ele me mostrou as duas passagens e eu sorri encantada. ― Então, vamos. ― Ele mexeu a cabeça para o lado, indicando o ônibus.

― Espera, ainda falta uma coisa.

― O quê? ― ele disse confuso.

― O Manchinha. Nessa correria toda eu acabei entregando ele para a Annie. ― Olhei para trás tentando localizar a loira no meio da multidão.

― Claro, ele já faz parte da família

E foi nesse momento que eu me dei conta que a nossa família iria aumentar e ele não fazia ideia.

― Pronto, chegamos ― a Annie disse meio esbaforida, pois tinha corrido.

― Ainda bem que deu tempo ― eu comentei agradecida. ― O nosso ônibus já está de partida.

― Ah claro ―, ela me devolveu o Billy. ― Está entregue ― respondeu e eu pude notar que seus olhos brilharam.

Ela estava emocionada e eu acreditava que era por conta da despedida.

― Annie, eu não sei como te agradecer por tudo o que você fez para mim e para o Ucker ― minha voz falhou um pouco, pois eu também fiquei mexida. ― Você não tem noção do quanto é importante para mim, eu não estaria aqui com o homem que eu amo se não fosse por você. ― Fiz uma pausa para me recuperar. ― Muito obrigada. ― Segurei sua mão quando eu já estava chorando.

― Poxa amiga, que lindo. Só fiz o que achava que era o certo. ― A loira secou uma lágrima que caiu pela sua bochecha. ― Agora vão, antes que percam o ônibus. ― Ela me deu um abraço rápido e depois foi se despedir do Ucker.

Eu fiz o mesmo com o Poncho e agradeci por tudo o que ele havia feito também. Depois o Christopher foi até o amigo e executou aqueles cumprimentos de mãos que estalam. Enquanto ele se despedia, eu coloquei o Manchinha dentro da minha mochila, para a minha sorte ele coube, deixei um pouco aberta para ele respirar e em seguida nós caminhamos para embarcar no ônibus. Quando nos sentamos na poltrona marcada, olhei pela janela e acenei para a Annie e ela fez o mesmo.

Assim que o ônibus partiu da rodoviária e eu não conseguia mais ver a Annie, limpei as lágrimas que escorreram pelo meu rosto e senti meu coração se apertar um pouco. Eu iria ficar com muita saudade da minha amiga. Mas era por um ótimo motivo, eu esbocei um sorriso alegre ao refletir que a partir de hoje eu estaria livre. Eu tomaria minhas próprias decisões, seria dona do meu destino e finalmente ganharia a minha liberdade, apenas o Ucker e eu. Mas pensando bem, em breve, a família aumentaria e teria mais uma pessoinha por esse mundo afora. Meu sorriso se alargou ao pensar nisso e fechei os olhos para curtir esse momento de felicidade.

                                                                                            ~~*~~*~~ 

Ela conseguiu minha gente!! Oba, agora vamos ver o que os próximos capítulos nos reservam :) 

Encontros ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora