Um longo caminho

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― Dul, eu e o Poncho vamos indo ― Annie comunicou ao perceber que eu tinha ficado desconfortável. ― Nos encontramos lá em casa então, beijos. ― Ela se despediu junto com o Poncho.

Para ser sincera eu mal tinha prestado atenção neles, no momento eu quase estava tendo mais um ataque de pânico. Eu apenas balancei a cabeça concordando quando ela se despediu.

― Se você quiser que eu vá junto, eu vou ― o Ucker quebrou o silêncio após a partida dos dois.

― Não, eu quero fazer isso sozinha. ― Respirei fundo. ― Só preciso ter coragem.

― Dul, saiba que você não está sozinha. ― Ele segurou uma das minhas mãos e fez um carinho. ― Qualquer coisa eu estarei bem ali. ― Ele apontou com a cabeça para a mercearia. ― E mais uma coisa: você é capaz, olhe só para tudo o que a gente já conquistou. Seu pai não tem mais nenhuma influência sobre você.

― Eu sei, mas é um pouco difícil. Minha cabeça fica criando várias paranóias. ― Esbocei um riso nervoso.

― Quer saber? Vou acompanhar você até lá e se você se incomodar com alguma coisa é só me encontrar na mercearia.

Eu concordei com a cabeça, esse gesto dele me deixou mais segura só de saber que ele iria comigo até o portão da casa da minha mãe. No meio do caminho, encontramos as fofoqueiras da cidade e para piorar ainda mais o meu humor, elas começaram a comentar sobre a minha vida.

― Oh Neiva, aquela ali não é a filha do prefeito? ― Arlete, a fofoqueira número um da cidade disse em um tom um pouco alto, talvez para que nós a ouvíssemos.

― É aquela que fugiu no dia do casamento e deixou o coitado do homem no altar?

― Sim! Essa mesmo. Ela não tem nem vergonha na cara de voltar aqui. Que decepção para os pais, né Neiva?

― É verdade... Ih Arlete! Olha lá, ainda trouxe uma criança a tiracolo. ― A senhora reprovou a atitude com a cabeça.

Eu e o Ucker estávamos levando os comentários delas numa boa, até certo ponto. Eu não estava com vontade, nem em um bom dia, para discutir com essas fofoqueiras. Porém, em um momento de raiva repentina, meu sangue ferveu e revidei.

― Escutem aqui suas fofoqueiras, vocês não tem mais o que fazer não? Lavar uma louça, fazer uma comida ou cuidar da própria vida? Vão se ocupar com coisas mais importantes.

Christopher e eu apressamos o passo e viramos a esquina para continuar o nosso caminho em paz. As duas chegaram ainda a resmungar alguma coisa, mas eu não estava com vontade de dar ouvidos aquelas duas.

Quando chegamos em frente ao portão, ficamos em silêncio por um instante, eu respirei fundo tentando criar coragem para entrar. O Ucker, compreensivo como sempre, ficou ao meu lado. Não dissemos nada um para o outro, mas eu pude notar a força que ele me transmitia com o olhar. E após inspirar o ar com uma certa veemência, eu fiquei pronta. Antes de fazer qualquer coisa beijei os lábios do Ucker e depois a bochecha da Laurinha para então abrir o portão.

Apertei a campainha ao chegar no batente da porta, com o coração disparando de aflição, e esperei até alguém atender.

― Dulce? ― Pedro comunicou espantado, um pouco surpreso.

― Oi, eu vim ver como a mamãe está.

― Ah claro ―, ele se atrapalhou nas palavras. ― ela está lá no quarto. ― ele voltou a falar normal.

Caminhei um pouco apressada para chegar no quarto, mas ao passar pela sala pude perceber que os móveis estavam em lugares diferentes. Quando cheguei no topo da escada, olhei na direção do meu antigo quarto e nessa hora revivi alguns momentos do qual passei nessa casa. Segundos depois, balancei a cabeça, para deixar isso tudo no passado e percorri o resto do trajeto que faltava. Ao abrir a porta do quarto, meus olhos localizaram minha mãe deitada na cama, sua aparência mostrava uma fraqueza, os olhos estavam profundos arroxeados e parecia que ela tinha emagrecido muito, seus ossos aparentavam estar saltados. Eu me aproximei devagar da cama, ela dormia tão tranquilamente que eu até fiquei com dó de chama-lá.

Encontros ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora