03 Três: Pesadelo real

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CHARLES

  Ele estava indo para a mesma sala que a minha. Entrei logo depois e o observei sentado em uma cadeira, com sua mochila em outra como se estivesse guardando lugar para mim. Não pensei duas vezes, entrei na sala, ele pegou sua mochila e sentei ao seu lado.

ㅡ Olá outra vez...

ㅡ Oi ㅡ Respondi evitando contato com ele.

ㅡ Por que me evita tanto?

ㅡ Eu só não quero puxar conversa com você!

ㅡ Eu não mordo. ㅡ Ele pegou seu material e colocou sobre a carteira.

ㅡ Você vai me dizer por que está em todas as salas que eu?  ㅡ Perguntei olhando desconfiado para ele esperando uma resposta que obviamente não seria verdadeira, mas preferia acreditar nela que em qualquer outra coisa.

ㅡ Eu acho que foi sorte, talvez eu tenha caído em todas as suas aulas.

ㅡ Fala sério. Não acredito em você. ㅡ Afinal quem iria acreditar? Era aula de artes, poucas pessoas gostavam de artes.

ㅡ Por que não acredita em mim? Acha que eu sou aquele tipo de garoto que gosta de esportes ou de curtição?

ㅡ Nunca te perguntei isso...

ㅡ É... verdade, mas... Eu gosto também, só que tenho um gosto variado...

ㅡ Por que está me dizendo sobre você se não te perguntei nada? ㅡ A forma que falei era bruta, se ele fosse outro tipo de pessoa não iria mais falar comigo, ou até mesmo não ousaria "puxar" mais conversa. No entanto, ele fez o contrário: olhou para sua caneta azul, escreveu em seu caderno e fez um sinal com a cabeça de negativo, porém com um sorriso cínico estampado em seu rosto.

ㅡ Ok, vai me dizer logo de uma vez por que você está sendo tão legal comigo? O que você quer?

ㅡ Engraçado, você não vê a verdade mesmo que ela esteja na frente de seus olhos, muito tosco isso... ㅡ Ele ficou sério de uma hora para outra.

ㅡ Você vai sentar comigo no intervalo?

ㅡ Não... ㅡ Ele respondeu e saiu de perto de mim logo depois que o sinal bateu.

Incrível como sou idiota, os papéis haviam acabado de se inverter.

ㅡ Eu sou muito idiota...

ㅡ Por que está dizendo isso? ㅡ Andressa perguntou furando um copo descartável de plástico contendo o suco com um canudo.

ㅡ Thomas foi grosso comigo.

ㅡ Mas você foi grosso com ele primeiro ㅡ Respondeu Camila olhando para Andressa e logo depois põe o canudo em sua boca e começa a sugar o suco.

ㅡ Como Camila sabe disso e eu não? ㅡ Andressa perguntou batendo seu suquinho na mesa

ㅡ Ela só sabe porque a encontrei antes de você na saída da sala para o refeitório.

  Ficamos os três sentados e falando sobre tudo, principalmente sobre Thomas. O quanto ele era bonito, o quanto ele encantava todos, até mesmo os outros garotos da escola. Mas não estava me concentrando em nada daquilo, olhava fixamente para as letras escritas no cartaz que estava colado na parede do refeitório, estava escrito "Não morra de fome, tenha direito há um lanche de qualidade antes que seja tarde"
 
  Era o primeiro dia de aula depois das férias de verão mas as campanhas para presidente estudantil do próximo ano já tinham dado a largada. O que me tirava a concentração era a palavra "morra", ela repetia várias vezes em minha cabeça. Tantas vezes que foi capaz de me fazer largar o lanche de lado e ficar parecendo um morto vivo olhando para aquelas letras. Estava tão fixado nela que nada mais ali importava para mim.

Linhas Obscuras ( Em Breve Versão Física )Onde histórias criam vida. Descubra agora