22 Vinte e dois: Treino

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  CHARLES

   Meus olhos se abriram lentamente, estava sentindo leves dores na cabeça, no braço, nas costas e nas pernas. Estava em um quarto escuro, um lugar bonito, com um lustre no teto, mas não estava acesso, uma cama grande, quadros com pinturas de montanhas e oceanos estavam pendurados nas paredes. Levantei lentamente o cobertor que me cobria e eu ainda estava com a blusa social branca, não estava de gravata nem de blazer, sem os sapatos, mas a calça social ainda estava lá. Então meus olhos encontram um homem ruivo de costas vestindo um colete apertado por dentro da calça caqui social.

ㅡ Thomas. ㅡ Minha voz rouca e baixa chamava o único nome que eu conseguia pronunciar naquele momento.

ㅡ Não. ㅡ O homem virou-se, era Thom. Quase esqueci, de costas eles eram idênticos: ombros largos, cabelos ruivos, postura ereta mas, de frente eles não se assemelhavam tanto. Thom tinha sardas e olhos verdes o que o diferenciava muito.

ㅡ Thomas não conseguia olhar para você. ㅡ Thom disse.

ㅡ Co... Como assim? ㅡ Perguntei com receio.

ㅡ Ele está com raiva de meu pai, ele se sente culpado por não ter previsto o que nosso pai faria. ㅡ Levantei da cama e me senti um inútil, um imprestável. Sentia raiva do meu corpo, raiva de mim, raiva de Luís, raiva de tudo o que ele fez comigo, sentia nojo ao lembrar.

ㅡ E você sabia? ㅡ Perguntei ainda fraco.

ㅡ Do quê? ㅡ Thom trazia em sua mão um copo de vidro transparente com água e um prato de cor prata minúsculo com um comprimido branco nele.

ㅡ Sabia que seu pai iria fazer aquilo comigo? ㅡ Era difícil lembrar.

ㅡ Não é difícil adivinhar as atitudes de meu pai. ㅡ Ele disse. ㅡ Eu sabia, a atitude dele era prevista, ele pegou uma camisinha na gaveta dele antes do enterro, quando ele te segurou pelo braço, eu vi pelo retrovisor, não fiz nada. Aliás, quem sou eu para fazer. ㅡ Thom trazia o prato para mim se aproximando da cama. ㅡ Thomas não reparou no começo, quando ele viu não pensou duas vezes, saiu do carro e foi te salvar.

ㅡ Você sabia? ㅡ Perguntei incrédulo. ㅡ Você sabia e não fez nada? ㅡ Olhei incrédulo os olhos de Thom.

ㅡ Pare de infantilidade, Charles, não havia nada que eu pudesse fazer. ㅡ Ele se aproximava com a água e o comprimido ㅡ Tome. ㅡ Me ofereceu.

ㅡ Vai a merda com isso! ㅡBati em sua mão derrubando a água e o comprimido na cama.

ㅡ Agradeça garoto, não tenho obrigação de ser seu babá! ㅡ Thom agarrou meu pescoço, apertava cada vez mais, estava me estrangulado, meus olhos arregalados. Eu me esqueci que tinha poderes, talvez fortes o suficientes para acabar com ele naquele instante, ali mesmo. ㅡ Bom. ㅡ Ele tomou sua postura outra vez, tão rápido que não tive tempo de raciocinar. ㅡ Não reclame quando as dores do seu corpo se intensificarem. ㅡ Ele saiu do quarto com sua postura e classe impecáveis, nem pareceu que ele tinha acabado de ter um ataque de raiva há alguns segundos atrás.

  Quando sua presença não se encontrava mais no quarto, retirei o edredom e me levantei, na primeira vez caí no chão como uma fruta podre e então me esforcei, com as duas mãos sobre a cama me ergui outra vez. Pensava em como Thom era um psicopata, ele era capaz de me matar, ele estava decidido, alguma coisa fez ele parar mas ele iria me matar.

ㅡ Merda.

  Não compreendia de onde estava vindo todas as dores de meu corpo, sabia bem o que tinha acontecido, mas não sabia se aquele mesmo ato era capaz de deixar hematomas em meu corpo. Abri a janela do enorme cômodo, ao lado de fora a chuva ainda caía ferozmente, me inclinei para olhar para baixo e percebi que estava no Instituto, estava no segundo andar. Abri a porta do quarto que dava para um corredor, não encontrei absolutamente ninguém andando por ali, então virei a esquerda que dava para uma grade, me apoiei e vi o Instituto de cima, não tinha ninguém no Instituto, era estranho, no andar de baixo Thomas estava treinado com uma vara de madeira.

Linhas Obscuras ( Em Breve Versão Física )Onde histórias criam vida. Descubra agora