16 Dezesseis: A verdade

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ANDRESSA

  É manhã de um novo dia. Era tudo o que eu mais queria depois da noite turbulenta, não conseguia pegar no sono e todas as vezes que tentava pregar os olhos eu ficava tendo leves devaneios da manhã na escola dentro daquele depósito de vassouras molhadas e baldes sujos.

— Como Charles conseguiu fazer aquilo? Como ele me jogou para longe com a força do pensamento? Será possível?
 
   Eu não conseguia entender e a luz do dia que atravessava a minha janela e invadia meu quarto irritando e queimando meus olhos me impediam ainda mais de raciocinar. Minha mãe estava dormido comigo, mas tinha um péssimo hábito de acordar cedo até de mais, eram seis e quinze eu tinha tempo de me arrumar e ir para a escola, mas ela adorava acordar as cinco e fazer tudo o que era possível dentro de casa.

ㅡ Então você já escolheu qual faculdade vai fazer? — Minha mãe perguntava enquanto sentava na mesa comigo e desfrutava da refeição matinal.

  Nunca pensei bem o que iria fazer depois do ensino médio. Já estava vendendo alguns e-books em um site enquanto escrevia novas histórias na Wattpad. Estava vendendo alguns produtos de um catálogo para acrescentar a renda e estava me levando com isso, até minha mãe chegar aqui em casa com a conversa da agressão.

   Às vezes ela me ajudava com algum dinheiro admito mas, não me sentia feliz com isso. Os cidadãos da pequena cidade maldita Dreams, tentam saber o máximo possível de sua vida, eu não vou deixar  eles descobrirem desse meu sonho de ser escritora até porque isso acabaria com minha reputação na escola e, ultimamente estou tentando preservar isso ao máximo.

ㅡ Não sei mãe. — Dei uma pausa enquanto brincava com os ovos mexidos no prato com o garfo.

ㅡ Você sabe que precisa decidir seu futuro filha, não é bom que uma moça linda igual você fique fadada a viver a vida nessa cidade

ㅡ Eu vou pensar em alguma coisa, prometo, irei procurar por faculdades.

ㅡ Filha. — Ela segurou minha mão pálida na mesa tentando manter aquela conversa um pouco mais com sua voz doce e suave.

ㅡ Pode falar, mãe.

ㅡ Qual seu sonho? Não conversamos muito a respeito, pode ter alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar. Irei procurar um emprego, estou na sua casa e seu dinheiro não é tudo isso, então eu acredito que possa te ajudar de alguma maneira. — Odiava quando ela fazia aquilo, ela estava se pondo no lugar de filha e não era aquilo que eu precisava naquele momento.

ㅡ Quando eu chegar da escola conversamos sobre isso, ok? — Ela assentiu e deu um leve aperto em minha mão.

ㅡ Te amo, minha menina

ㅡ Te amo, mãe.

   No lado de fora o tempo estava nublado, estava esfriando e talvez uma chuva se aproximasse da cidade, as nuvens cinzas deixavam tudo mais sombrio e triste; os velhos que passavam na rua estava levando sacolas em suas mãos, talvez fossem os almoços deles. Minha jaqueta preta me mantinha aquecida com minha calça jeans azul e apertada, minha blusa colada vermelha apertava meus seios ㅡ É claro. ㅡ Não poderia permitir que outra menina fosse mais linda do que eu para a escola.

  O ônibus estava demorando um pouco talvez estivesse atrasado, então estreitei os olhos para enxergar melhor o que se aproximava ainda distante de mim.  

  Um Ford EcoSport preto parava lentante em minha frente, não tinha ideia do que fazer. Quebrar a janela ou continuar andando, talvez esperar o ônibus ali mesmo.

  Era o carro que Charles tinha ganhado de seus pais. Garoto sortudo. Não tinha inveja dele, realmente não estava, sou muito feliz por cada conquista dele, mas Charles deveria ser mais grato a vida. Ele sempre tem tudo, mas parece que nunca é o suficiente.

ㅡ Quer entrar, por favor? — Ele abaixava o vidro e me convidava a entrar. Não neguei, abri a porta e sentei no banco da frente do passageiro.

ㅡ Obrigado por entrar — Suas mãos apertavam o volante e seu braço parecia ter aumentado um pouco. Ele andou malhando? Parecia tenso, suas mãos estavam suando, seu cabelo escuro e liso estava caído sobre seu rosto e seu maxilar estava tenso talvez ele estivesse trincando os dentes.

ㅡ Se não quiser falar eu saio. — Estava com a mão no cinto para me soltar e sair então ele segurou minha mão e ele estava mesmo suando.

ㅡ Não, por favor, eu... Eu só estou um pouco nervoso para te contar isso. — Sua voz parecia rouca, ele estava mais tenso do que nunca esteve, Nunca vi Charles daquele jeito, ele realmente ficaria bem mais atraente se evitasse toda aquela infantilidade dele.

ㅡ Isso o quê?

ㅡ A verdade. Sobre tudo, sobre mim e o que está acontecendo.

ㅡ Charles eu sei que você é diferente, médium talvez, nas férias estávamos no parque central da cidade e você travou. Lembro daquele dia como se fosse ontem, estávamos sentados nas cadeiras de balanço e o sol brilhava na sua maior intensidade. ㅡ Você começou a falar de destruição e de tornado, falou de salvar pessoas e a cidade, eu sempre achei você um pouco esquizofrênico mesmo mas, ontem, ontem você me jogou no chão sem tocar em mim, como fez aquilo?

ㅡDa mesma forma que posso fazer isso. — Ele pegou uma chave que estava em cima do painel e pós em suas mãos, em um segundo a chave começou a flutuar, meu olhos se abriram e ficaram em choque sem acreditar no que estavam vendo.

Linhas Obscuras ( Em Breve Versão Física )Onde histórias criam vida. Descubra agora