Capítulo 33 - Um rei não tem sentimentos

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Assustada, Liberty levantou o rosto para procurar nos olhos de Elroy alguma explicação para aquilo que estava a acontecer. Porém, seu semblante era fechado e neutro. Não havia qualquer indício de sofrimento. Não há primeira vista. Mas a prometida do príncipe já o conhecia suficientemente bem para detetar a nebulosidade de seu olhar ou para entender que o maxilar contraído e os lábios totalmente cerrados eram apenas uma estratégia para reter dentro dele, e só para ele, todos os gritos de raiva, ódio e dor.

Deixando-se tomar pelo pânico, Libby correu para perto da redoma e embateu com o punho cerrado fortemente na superfície, que nem estremeceu. Ela tentava ser mais rápida que a máquina, mas a cada nova investida, de punho cerrado, mais três golpes surgiam na pele de Elroy e mais sangue era reclamado pela redoma.

− Porquê? – questionou já com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.

O significado daquela simples pergunta não era propriamente óbvio. E muito ela embarcava. Por que é que Elroy a estava obrigando a assistir àquela tortura? Por que é que aquela máquina existia? Por que é que ele continuava quieto como se nada fosse? Por que é que ele a estava a fazer sofrer daquela forma, como se sua própria pele estivesse a ser destruída e não a dele?

Decidida a tirá-lo dali, nem que fosse à força, a garota começou a procurar por algo na sala que pudesse ser usado para quebrar a enorme e monstruosa máquina que atacava cobardemente um inocente. Claro que era inútil, o espaço estava repleto de vazio. Se era de propósito, ou não, ninguém poderia saber. Certo é que a sala havia sido construída assim e ninguém a tinha mudado durante todos aqueles anos, desde a origem da Redoma.

Elroy começou a sentir as forças se esvaírem, pouco a pouco, junto com o sangue a escorrer-lhe pelo corpo. Suas pálpebras já pesavam e ele sabia que o sofrimento estava prestes a terminar. Era sempre assim. A máquina sabia muito bem até que ponto poderia ir, para não causar a morte do seu ocupante. Ela analisava constantemente, em tempo real, a quantidade de células sanguíneas que entravam na sua atmosfera controlada. Mas esse pouco tempo que faltava, por mais curto que fosse, sempre lhe parecia uma verdadeira eternidade. Os últimos segundos eram sempre os piores.

Vendo o estado notoriamente débil do príncipe, Liberty se desesperou ainda mais e se deixou cair de joelhos no chão. Ela agarrou a cabeça entre as mãos, pedindo, por tudo o que era mais sagrado, para que aquela tortura acabasse ou que, ainda melhor, tudo não passasse de um terrível pesadelo.

Junto aos seus joelhos, estava um pequeno botão, camuflado na base da superfície translucida da redoma. Libby nem pensou duas vezes e se jogou na direção dele, ao notá-lo, calcando-o com determinação. Ela só queria dar um fim naquilo.

A meros segundos da máquina se desativar por iniciativa própria, o sistema de emergência foi ativado e ela cessou de súbito sua atividade. Elroy foi libertado do invólucro que o fixava inerte à estranha e maquiavélica redoma, fazendo-o tombar sobre as próprias pernas.

Uma porta desenhou-se na superfície e Liberty precipitou-se a correr lá para dentro e a arrastar o príncipe para fora, com medo de que tudo recomeçasse novamente. O homem era pesado, por isso ela não conseguiu avançar muito e acabaram caindo os dois. Na segurança oferecida pelo vazio do exterior da máquina, ela aninhou o homem junto ao seu peito.

− Porquê? – voltou a repetir a pergunta que lhe corroía os pensamentos. A voz estava embargada e as lágrimas eram amparadas pelos cabelos negros do futuro monarca. – Porquê?

− Tinha... que ser – murmurou Elroy com alguma dificuldade. Sempre que saía da máquina, ele ficava um pouco atordoado.

A selecionada decidiu que haveria tempo para as explicações depois. A prioridade era ajudar o príncipe a se recuperar mais rapidamente. Ele exigia cuidados. Pousando gentilmente a cabeça de Elroy no chão, ela se levantou e correu para a camisa jogada perto da máquina.

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