Capítulo 30 - Dança perigosa

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Boquiabertas, as jovens cediam passagem aos dois prometidos que avançavam de mãos dadas e de rosto erguido. Com a presença do príncipe do seu lado e o forte reconforto de seu toque, Liberty não tinha por que temer.

As ex-candidatas da seleção baixavam os olhos para o cenário escandaloso a que assistiam, por respeito à monarquia, está claro. Mas não conseguiam evitar espreitar assim que os dois já haviam passado por elas. A curiosidade era mais do que muita para saber quem era a sortuda que havia ganho a atenção do príncipe. Algumas apostavam numa possível amante. Outras, numa paixão súbita que nascera em pleno baile. Já havia até, ironicamente, quem considerasse aquela garota muito mais bela do que a prometida ao futuro monarca. Porém, nenhuma delas poderia adivinhar que se tratava da selecionada.

Uma ou outra convidada teve a coragem suficiente para olhar para trás e procurar a suposta futura princesa. Invejosas que adoravam saborear a desgraça alheia. Éliane continuava de pé, perto de Emmanuelle e da comida que tanto lhe agradara, mas já não sorria. Como ela tinha amado ver todos no salão parar para olhar para ela, assim que entrara. O próprio príncipe tinha, por fim, notado a sua presença, na altura. Ela até tinha achado graça à implicância da vizinha. Era sinal que se roía de inveja e Éliane gostava da sensação de ser o alvo dela, mesmo que erroneamente.

Como fui ingênua, pensou amargurada, cerrando os punhos de raiva junto ao corpo, É claro que a sonsa da minha irmã não me deixaria ter umas horas de glória! Sempre foi e sempre será uma egoísta! Pensamentos um pouco deturpados, a maioria diria. Acusar os outros de deterem os nossos próprios defeitos era fácil. Uma transferência que lhe convinha.

Já a vizinha dos Beaumont culpava-se mentalmente por ter apostado no cavalo errado. Centrara-se inutilmente em perturbar a jovem que ela julgava ser a selecionada e afinal o príncipe não perdera tempo e foi a correr para os braços de uma qualquer. Esperta foi aquela moça, ponderou internamente, recriminando-se por não ter tido a inteligência necessária para saber como agir. O seu instinto fê-la encaminhar-se para mais perto da multidão. Ela tinha de saber quem era aquela "ladra de homens", um nome carinhoso que ela decidiu atribuir-lhe a meio da raiva que partilhava com Éliane.

Enquanto um largo círculo se alastrava ao centro do salão, duas pessoas saltaram do lugar em que se encontravam confortavelmente recostadas. Diane acordara do seu sono de beleza, quando o colega lhe cutucara com o cotovelo. A entrevistadora estava pronta a fulminá-lo com os olhos, mas parou a meio caminho ao perceber a agitação ordenada que se fazia a uns metros de distância dela. Não foi difícil de identificar o príncipe e a garota, que ela pensava ser uma mera desconhecida, no meio do salão, cumplicemente, de mãos dadas.

− Santíssima redoma – murmurou Diane ao erguer-se.

A entrevistadora fez sinal para o cameraman não os perder de vista. Aquela era a oportunidade da sua carreira, ela sentia-o nos seus ossos.

Comemorar era a última coisa que passava pela cabeça do rei, que se empertigara ao chegar à constatação de que o filho enlouquecera. Tanta coisa para defender aquela usurpadora de tronos, e agora vai pegar qualquer uma?, se interrogou Keandre ao assistir à cena de longe. Apesar da distância, a simples máscara negra da garota lhe provava que não era a selecionada quem estava do lado do filho. Naquele momento, ele nem reparara que a câmara capturava com sucesso a sua reação de estupefação. Diane esfregou as mãos com esse enquadramento único: um rei de Villeneuve atarantado com o que se passava debaixo de seu próprio nariz. Mas, de fato, o poderoso Morfrant nada poderia fazer naquela situação, qualquer intervenção da sua parte traria ainda mais consequências. Seria preferível ele dar um testemunho mais tarde argumentando que o comportamento do filho tinha sido estudado e planeado como um ato de boa fé. Uma forma de o príncipe mostrar que se importava com as garotas que não haviam sido selecionadas. A expressão do monarca voltou a ficar neutra com a razão a aquietar-lhe o espírito. Tudo indicava que era um bom plano.

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