− O príncipe está a jantar na sala? – interrogou Liberty ao ganhar coragem para finalmente formular o pensamento que a estava a inquietar.
− Não, mademoiselle – respondeu Lumière levantando o tabuleiro que estava a acabar de preparar quando a jovem entrou na cozinha. – Ele pediu-me para servir-lhe a refeição no quarto, hoje.
Libby acenou afirmativamente com a cabeça e encaminhou-se cabisbaixa para a mesa vazia à sua frente.
Depois do almoço, Elroy despedira-se da jovem e seguira caminho para o quarto. Não era que tivesse algo para fazer, afinal de contas o rei ainda não estava a par da sua recuperação e pensando que ainda estava de cama, não o sobrecarregara com as habituais tarefas aborrecidas que sempre passava para o filho. Na verdade, o futuro monarca queria dar espaço a Liberty, não a sufocar com a sua presença constante, por muito que a sua vontade fosse passar todas as suas horas acordado do lado daquela bela moça que o fascinava cada vez mais. A selecionada não levou a mal a sua atitude de se distanciar, pensando que, com toda a certeza, Elroy teria coisas muito mais importantes para fazer do que dedicar a sua atenção exclusivamente a ela. Além do mais, planeara passar a tarde inteira na biblioteca e o príncipe, evidentemente, não tinha os mesmos planos. Apenas para ela a biblioteca era uma novidade irresistível, para o príncipe não passava de uma parte agradável da sua realidade.
A jovem passou, então, a tarde toda no conforto da infindável biblioteca. Madame Potts fora a única que a interrompera a meio do serão para lhe servir um chá que lhe aqueceu a alma. E, assim que chegara a hora do jantar, Liberty dirigiu-se animada para a cozinha pensando que para variar não teria de comer sozinha.
Mas ali estava ela, de braços cruzados sobre o tampo da mesa, enquanto os criados andavam de um lado para o outro ocupados com o serviço na sala de jantar. Nem podia pedir a madame Potts para se juntar a ela, visto que a criada estava sempre ocupada com qualquer coisa. Já para não falar que isso iria contra as regras da mansão e Libby não queria colocar a pobre mulher afável em tão complicada situação. Ela estava fadada a jantar mais uma vez sozinha. Porém, a recordação do almoço daquele dia fê-la espreitar animada para debaixo da mesa. Talvez existisse alguém que lhe pudesse proporcionar um jantar agradável.
− Oi – cumprimentou Liberty sorridente ao deparar-se com Jesper bastante próximo das suas pernas. – Você quer jantar comigo?
A criança mostrou um sorriso esburacado completamente encantador e anuiu. Ao ver que Libby continuava parada a sorrir para ele, parecendo não mudar de ideias, Jesper rastejou para fora da mesa convencido de que aquele era o melhor dia da sua ainda curta vida.
− Mãe, você pode servir-nos o jantar – disse Jesp já sentado ao lado da selecionada. O seu rosto transparecia a importância desmedida que dava a toda aquela situação e a jovem só conseguia sorrir.
Madame Potts virou-se com as especiarias, que ia acrescentar ao tacho fumegante, ainda na mão fechada. A sua boca abriu-se para protestar, mas a futura princesa foi mais rápida:
− É uma ordem minha. Ele é meu convidado, que eu saiba ele não trabalha nesta casa, pois não?
− É muita amabilidade, mas não precisa de fazer isso, se não quiser.
− Eu quero – a jovem acrescentou simplesmente, ainda com um sorriso cativante no rosto. Ao lado dela, Jesp começou a dar pequenos saltinhos sobre a cadeira, sem conseguir conter a alegria que sentia a transbordar do peito.
A criada começava a achar que Elroy não poderia ter tido mais sorte na sua seleção e que Liberty lhe estava realmente destinada.
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A Bela Redoma
Ficção Científica🏆 Obra vencedora do prêmio Wattys 2020 🏆 Cem anos depois da última grande guerra, que tornou a vida na Terra insustentável, uma redoma foi construída numa província de França para proteger a humanidade restante dos perigos da atmosfera contaminada...