Capítulo 1

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       Quatro anos depois...

Seis meses antes do casamento.
Escrito pela Thalita:

Olá, diário!
Quanto tempo! Caio me deu você de presente, porém tanto eu quanto ele iremos escrever em você. 
Eu estava com muitas saudades de ter um amigo para dividir minhas experiências mais malucas. E acredite ou não, ultimamente tenho vivido muitas. Como a de hoje, por exemplo:

— Clementina! Clementina! Volte aqui, querida! — Gritei desesperada ao ver minha noivinha fugir para fora da casa dos meus sogros, bem na hora do nosso milionésimo ensaio para entrar na igreja.

— Clementina! Clementina, volta aqui agora! — Alice, minha amiga, gritou tentando alcançar a pestinha.

— Espera! Eu pego ela! Vem, Clementina! Aqui! — Lisa, minha outra amiga, gritou e Clementina parou, confusa. Fizemos um círculo ao redor dela (ou triângulo, pois éramos apenas três pessoas) e finalmente a encurralamos.

— Clementina! Sua fujona! Não faça mais isso! Você não quer ver a mamãe se casando com o papai? É isso mesmo? — Perguntei e Clementina me olhou atenta.

Clementina é minha tartaruga de estimação. Eu sei, diário, elas são lentas e tal... Porém Clementina parece ter algum parentesco com as tartarugas ninjas, só pode. Ela tem habilidades especiais para fugir.

— Sabe, Thalita, acho melhor você repensar na ideia de colocar uma tartaruga como dama de honra no seu casamento. — Lisa comentou pensativa.

— Ela não é uma dama de honra. Clementina é a noivinha e o Penacho será o noivinho. — Expliquei voltando para o ensaio.

— Isso não dará certo. Adestrar uma tartaruga para ser a sua noivinha e um gato careca para ser seu novinho? O que você tem na cabeça, Thalita? — Minha sogra começou novamente com seu discurso.

Aff, diário! Não aguento mais essa mulher na minha cabeça. Achei que nossas diferenças tivessem ficado no passado, mas quanto mais a data do casamento se aproxima, mais a sogrinha naja me enche a paciência. Ela quer palpitar em tudo no meu casamento. Na lista de convidados, decoração, bufê e você não vai acreditar, ela até quer que eu me case com o vestido de noiva dela. Sim, o mesmo que ela casou com o meu sogro. Vê se pode, eu usar um vestido do século passado! E pelas fotos que já vi pela casa deles, meu desânimo triplicou. Ah, esqueci de explicar, a família do meu amor resolveu mudar para o Rio, para ficar perto dele. O que ganhei com isso? Minha sogra sendo minha vizinha. Uhhh, que alegria! Só que não. Não mesmo. Definitivamente não. Não eternamente.

Thalita, você tem que entender que... — E lá vamos nós novamente, surfar no discurso de três páginas dela. Eu só quero me casar do meu jeito. Será que é pedir muito?

Thalita, tenho que concordar com a sua sogra. Essa tartaruga não vai entrar junto com um gato na igreja e... — Lisa resolveu insistir em apoiar o lado negro da força.

Eu fuzilei a minha amiga com o olhar, sorte dela que meus olhos não lançam raios lasers, caso contrário agora ela seria um churrasquinho loiro desidratado.

— Primeiro que a tartaruga tem nome: é Clementina. E o gato também: É o Penacho. E os dois irão ser meus noivinhos sim e ponto final. — Falei decidida, colocando novamente o pequenino véu branco que caiu da cabeça da minha Clementina.

— Eu mereço. — Minha sogra começou a balançar a cabeça em negativa, só para mostrar como o cabelo estava sedoso e balançava como nas propagandas de shampoo.

— Eles só precisam ensaiar mais. — Murmurei.

— Ensaiar? Thalita, já estamos aqui há três horas e meia e a Clementina já fugiu quatorze vezes. — Alice falou e eu a olhei incrédula.

— Mas o que é isso? A revolta das best friends forever? O que vão fazer agora? Abraçar minha sogra e abrir uma seita anti-Thalita-feliz?

— Não é nada disso, querida. Só achamos que você tem que pensar melhor sobre essa questão dos animais entrarem no seu casamento. Exatamente para não dar nada errado no seu grande dia. — Lisa insistiu calmamente.

— É isso mesmo. Não estamos contra você. — Alice apoiou.

— Mas eu estou. — Minha sogra quebrou o clima amigável que tinha se instalado brevemente no ar. — E muito contra. Essa ideia de colocar esse bichos para entrarem no casamento é simplesmente ridícula! É o fim.

— Clementina e Penacho entrarão no meu casamento. Eu já decidi isso no momento em que ganhei a Clementina. — Falei e nos entreolhamos por um longo tempo, como duas cowgirls prestes à um duelo no velho faroeste. Porém, o silêncio foi cortado pelo meu sogro que entrou desavisado no meio do nosso confronto.

— Olá, meninas! Quanta mulher bonita na minha sala. — Meu sogro apareceu animado, preparando para sentar no sofá. — Estou exausto, vou descansar um pouco antes de voltar para o meu trabalho. O que vocês estão tramando aqui?

— Você é o culpado! Foi você quem deu esse monstrinho verde para a Thalita. Graças a esse presente grego agora teremos uma tartaruga entrando no casamento do nosso filho. — Minha sogra reclamou e ele desistiu de sentar, levantando rapidamente.

— Quer saber? Estou louco para trabalhar mais. Acho que já vou. Tchau, meninas! — Ele declarou saindo apressadamente, nos fazendo rir.

— Não pense que irá fugir! Quando você chegar teremos uma conversa. — Minha sogra ameaçou.

— Não me espere acordada, querida. Vou fazer hora extra hoje.

— Ricardo, você nunca faz hora extra. — Minha sogra cruzou os braços, irritada.

— A partir de hoje faço. Agora fui! — Saiu praticamente correndo.

— Isso é um absurdo! Não ficará assim. — Ela gritou, entretanto ele já estava longe. Sorte a dele.

— Bom, o papo está ótimo, mas tenho que ir para a faculdade. — Falei procurando a Clementina pelo chão, no exato momento em que percebi que ela havia começado a mordiscar a sapatilha da minha sogra. _ Oh...

— Por que você fez oh o... — Ela pegou minha tartaruga em ação. — AHHH! EU VOU FAZER SOPA DE TARTARUGA!

— NÃO VAI, NÃO! — Peguei a Clementina e corri para a casa ao lado, que é a casa onde eu e meu amor vamos morar. Na verdade eu já estou morando nela. Depois do casamento ele vai morar comigo. Embora ele passe a maior parte do tempo aqui, ainda não trouxe as coisas definitivamente pra cá.

Coloquei a Clementina em segurança na sala e fui tomar banho voando para não me atrasar para minha aula.

Pois é, no final das contas decidi por um trabalho do qual tenho fascínio e paixão. Onde me sinto realizada e completa, onde posso salvar as pessoas e lutar pela paz mundial. Isso mesmo, estou fazendo faculdade de gastronomia. Ainda tinha dúvida de que minha carreira seria algo ligado à comida? Pois eu não tinha dúvida nenhuma.

Sou tipo a miss lasanha Brasil. Sinceramente, não tem para ninguém quando eu tomo conta do fogão. Pena que as vezes rola alguns pequenos acidentes. Aliás, pequenos levemente grandes e perigosos acidentes. Mas o lado bom é que eu aprendi a usar o extintor de incêndio para apagar as panquecas. Bom, isso é uma longa história. O importante é que depois que você tira as partes da massa da panqueca queimada e o recheio queimado, fica tudo muito gostoso. Meu príncipe adora minhas panquecas. Principalmente quando sobra alguns pedaços sem queimar.

Agora deixa eu ir, estou atrasada para estudar algo que eu amo, e se eu não conhecesse o Caio me casaria fácil com a comida.

Até mais, diário!

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