Capítulo 6

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Cinco meses antes do casamento.
Escrito pelo Caio:

Diário, hoje eu entendo aqueles presos que constroem túneis com colheres e fogem da prisão. Pois hoje no café da manhã, eu pensei seriamente em construir um túnel e fugir. Deixa eu explicar, desde a noite passada, para ficar mais explícito o porquê disso.

Eu tentei de todas as formas acalmar a Thalita para ela não discutir com a minha mãe. Embora a dona Ana tenha passado de todos os limites, ouvindo nossa conversa atrás da porta.

— Eu quero que a sua mãe vá embora daqui. Agora. — Thalita falou irritada, nos meus braços.

— Amor, está de madrugada. Calma! Amanhã cedo eu irei conversar com ela, e pedir para ela se comportar nesses dias em que ela ficar aqui...

— Dias? Como assim dias? Não, querido. A partir do momento que o sol raiar, vou colocar a sogrinha para andar.

— A situação não é tão simples assim... — Tentei argumentar e ela me olhou de forma assassina. — Tudo bem, amanhã conversamos sobre isso. Pode ser? — Ela continuou me olhando brava e deitou virada para a parede.

— Amanhã conversamos sobre isso. É um absurdo. Palhaçada nível master, meu sogro pula a cerca e quem sobra sou eu. — Ficou resmungando baixinho e eu tive que segurar uma risada. — As drogas dos meteoros não caem, vou passar as coordenadas para eles, igual tiro ao alvo. O apocalipse era em 2012 e até hoje nada. Está atrasado, senhor fim do mundo. — Continuou reclamando, mesmo com a voz arrastada de sono. — Minha casa virou zoológico, aliás, isso é quase um safari, cheio de najas. Essas cobras orelhudas. Ainda pegaram minha cama. Agora eu tenho que dormir com o nariz na parede, cheirando a tinta...

— Amor, vamos dormir? Por favor! — Pedi, mas não obtive resposta. Sentei impressionado na cama. Thalita  estava dormindo e reclamando ao mesmo tempo!

— Ficar dias aqui. Eu vou comprar um trator e tratorizar todo mundo. Se mexer nas minhas panelas vai levar vassourada. A frigideira é minha. Está desorganizado o caramba. Tem batata na geladeira, mas não tem sopa. Mulher folgada, não vou dividir minha alface com ela. Se quiser, plante a sua própria horta. Ficar na minha casa, é o fim da picada. Tenho meus direitos, vou processar. Minhas panelas ficam onde estão. Eu coloquei aí. Meu nariz encaixou na parede, se eu não respirar a culpa é sua. Onde já se viu? Ele defende a mãe e eu que cheire paredes. Que mundo é esse? Quer casar comigo e trazer a sogra de brinde. É um absurdo. Vou passar com o trator mesmo...

Eu quase morri de tanto rir. Depois de muito resmungar enquanto dormia, e de cismar com a sopa sem batatas, ela finalmente virou para o meu lado, ainda dormindo, e parou de falar. Abracei ela e dormimos tranquilamente.

Durante o resto da noite ela ainda resmungava de vez em quando. Estava tudo em paz, até o dia amanhecer e minha mãe resolver entrar em cena novamente.

Thalita! Thalita! — Minha mãe batia na porta, acordando toda a vizinhança. — Caio, meu filho, que horas ela acorda?

— Me diz que não é a sua mãe fazendo esse escândalo! — Thalita murmurou sonolenta, sem abrir os olhos.

— Amor... — Antes que eu pudesse dizer algo, minha mãe abriu a porta do quarto.

Thalita, querida! Que horas você vai preparar o café? Estou faminta e a Evelyn está grávida, lembra? Não pode passar da hora de se alimentar. — Minha mãe perguntou já adentrando o quarto.

O Diário De Um Casal Loucamente NormalOnde histórias criam vida. Descubra agora