Acordo com os raios frenéticos lá fora. Ah, pelo visto eu tinha deixado a janela aberta de novo. Com a memória abençoada que Deus me deu, não me lembro.
Resmungando, saio da cama e vou até a janela e a fecho. Ao dar mais três passos, quase dou de cara no chão com uma poça de água.
Bufo. Devem ser Maryn e Johana. Minhas primas. Provavelmente foram a algum bar e voltaram tarde. Bom, pelo menos nosso quarto não foi motel dessa vez.
De repente, vejo uma luz piscar. Olho em volta e não vejo nada. Logo depois, ela se intensifica... chegando mais perto... E do nada, um clarão vem e ela some. Quando percebo, já estou caída na cama. Típicos delírios de alguém com imaginação forte. Por toda a minha vida, vi coisas desse tipo e já cheguei até que eram até as tais fadas que a dona Wendy falava, mas aos onze, descartei a ideia quando vi que ninguém mais da família via esse tipo de coisa.
Agora, me pego com uma insônia típica minha, me deito e acabo refletindo. É. Eu devia ter um Carma muito ruim pra ter que aguentar aquilo, mesmo.
Me pego pensando em minha mãe, que tinha falecido muito jovem, logo, não é difícil pensar no meu pai. Que adoeceu logo depois.Ele nem sequer saia da cama, e seu sorriso tão sincero simplesmente não existia mais. Exceto... nas vezes em que eu o visitava.
Tirava horas do meu dia pra ler para ele, e seu livro favorito era o que a minha bisavó, Wendy, tinha me deixado.
Ela era escritora, um próprio livro aberto, chegou a fazer sucesso, até, mas logo a mídia tratou de estragar tudo. Por inveja, começaram a inventar mentiras sobre a minha avó. Diziam que toda sua inspiração para os livros vinha de sua loucura e que ela simplesmente não podia ser adepta tão abertamente ao público daquele modo. Mas eu sabia, e sempre soube, que nunca foi nada daquilo.
Ela dizia que uma história nunca morria se alguém contasse, e foi o que fez... e pelo visto, queria que eu não só contasse, mas vivenciasse também. Vovó Wendy era uma mulher de muitas palavras, muitos pensamentos, mas ninguém sabia dizer se elas eram reais ou não. Aí era uma escolha nossa: acreditar.
E quando perguntávamos, de onde ela tirava a criatividade do livro que me deixou , ela dizia que não era tão difícil quando se tratavam de fatos REAIS.
Eu tinha aprendido a ler com aquele livro, e tinha aprendido a sonhar com aquele livro, também.
E meu pai tinha morrido enquanto eu lia aquele livro.
Logo, minha tia tratou de colocar minha avó em um hospício e ficou com a minha guarda. Pior decisão, colega. Pior decisão da minha vida.
Eu preferia estar no hospício com a minha bisavó. Até os loucos de lá são mais amigáveis.
Elas fazem questão - minhas primas e tias do - de tornar cada minuto da minha vida pior que o outro.
Escuto Johana murmurar um nome masculino e fazer uns barulhos estranhos.Ah, Jesus. Piranha uma vez, piranha toda a vida.
Revirei os olhos e me deitei, com cuidado ao caminhar para elas não acordarem.
Pensei, no livro que ela havia me deixado, pensei em Neverland, e logo adormeci, sem a mínima vontade de acordar.
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𝐃𝐀𝐑𝐋𝐈𝐍𝐆.
Teen Fiction୨୧̾ . ☇ ࣪⸼ ࣪ 🕯﹅Pare e escute, os 𝐃𝐚𝐫𝐥𝐢𝐧𝐠𝐬 sempre tem uma história pra contar... " Ela dizia que uma história nunca morria se alguém contasse, e foi o que fez... e pelo visto, queria que eu não só contasse, mas vivenciasse também. Vovó Wend...