𝔗𝔯ê𝔰: 𝔰𝔦𝔪, 𝔪𝔢𝔫𝔦𝔫𝔞

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Me dirijo para um parque da movimentada Londres e seguro o choro. As luzes da cidade, tão bonitas, agora eram como nada para mim. Tudo estava tão cinza, sem cor, sem vida... era como a minha mente queria ver. Agora, já não seriam mais permitidas visitas a minha bisavó. A peste provavelmente ligou para o hospício fazendo questão de bloquearem a minha entrada. E agora? E agora, Nora?
Como pude ser tão burra?!
Sem que eu perceba, uma lágrima cai.
Meus olhos verdes já começam a ficar embaçados e eu os fecho. Me permitindo ficar na minha própria escuridão. Penso por um tempo e decido que poderia ficar naquela paz para sempre. Me pergunto se a morte seria assim, se fosse, eu simplesmente a desejava...
Quando os abro, vejo um clarão, e depois,simplesmente... nada.

...

...

—— Bom trabalho, 𝔰𝔦. Como ele é? - diz uma voz masculina que eu não identifico.
Um leve tilintar vem em resposta.
—— Como assim, surpresa?
Um tilintar mais forte dessa vez.
—— Nós podemos vê-lo? - outro garoto diz.
—— Podem
—— Ele é de onde? - uma vozinha murmura
—— Ah, Londres, legal.
Depois de uns minutos, eles resolvem abrir a porta. E eu, mesmo ainda meio inconsciente, sabia que fora a conversa mais estranha e aleatória que já vi na vida.

Ouço muitos passos, e resolvo abrir os olhos.
—— Aaaaah!! - solto um grito abafado com a visão, cobrindo a boca com as mãos.
E de maneira nenhuma parecia ser a única pessoa surpresa ali, já que os garotos que estavam ao pé da minha cama - que eu nem conseguia pensar em como eu fui parar ali no momento - com caras de espanto e pontos de interrogação estampados no rosto.

—— UMA MENINA? - dizem em uníssono.- EUTERPE!

A fadinha - é, fada - dá um sorriso sapeca e dá de ombros, tilintando e dizendo que jurava que não tinha reparado. Não era sininho, e pisco algumas vezes. Não era sobre ela que tinham me contado...
Um garoto - atraente, não vou mentir -se destaca no meio dos meninos e fica me encarando, com um olhar interessante. Que isso gente? Quero ser estuprada, não, obrigada.
—— Eh... sim, menina. - consigo juntar forças para falar, ainda. Não me pergunte como.
—— Olá - diz um garotinho e se aproxima. - olha Petter, ela não parece morder! Você morde, moça?
O tal Petter me olha de esguelha, com os braços cruzados.
—— Olha... depende - dou um sorriso sem graça. Meu Deus, Nora, cala a boca!
—— Você vai me bater? - pergunta outro
—— Lógico que não! Por que eu faria isso? - respondo, intrigada.
O garoto dá de ombros.
—— A senhora sabe abraçar?- diz um garotinho moreno
—— E cantar? - fala um menininho loiro, com os olhos muito escuros
—— E ler?- diz um menino que aparenta ter uns quatro anos
—— E contar histórias? - fala outro.
Vários meninos me perguntam e eu fico boba como eles já estão me entrevistando assim. Fico corada de imediato.
—— Vamos meninos, deem espaço para ela. Ela acabou de acord...- começa a falar o que até agora me encarava, antes de eu o interromper.
—— Ah... para todas as perguntas: sim, sim, sim e suponho que sim...
Me olham espantados
—— Por favor senhora, seja nossa mãe!
—— Oi?
—— Nossa mãe...
—— Tá, eu ouvi mas...- tento
Vejo as carinhas suplicantes deles.
——- Tá, vou pensar no caso de vocês. Mas, por favor, cortem esse senhora- digo e dou um sorriso simpático.

Logo, um garotinho vem me abraçar e começa a mexer no meu cabelo castanho longo, que chegava praticamente na cintura.

—— A senhorita é muito linda, dona mamãe! - diz ele. Ah, não tinham jeito mesmo.

—— Olha, obrigada... mas eu vou pensar no seu caso. - digo, o apertando de leve.
—— Então... como é o seu nome, senhorita mamãe?- o garoto que me olhava resolve se manifestar. Ele possuía cabelos castanhos claros, olhos que o tom verde se atenuava mais do que o azul e aparentava ter a minha idade. Dezesseis.

Desconfio, mas resolvo dizer algo:

—— Nora. Nora Darling.

—— Nome bonito - diz e me fita com seu rosto expressivo , logo em seguida se vira para os garotos e os manda sair.

—— Tá! Affe. Tchau mãe, tchau pai! - diz o mesmo garotinho atrevido que me abraçou.

Pera... Pai?

Pai?

"Que pai , meu querido?" Penso e logo me dou conta que tem mais alguém no quarto. Oppa. Fudida estou.

—— Petter Pan. Prazer. - diz e estende a mão, com um sorriso malicioso. Com certa desconfiança, admito, eu aperto a mão dele. Mas com certeza não era isso que ele esperava. Pois da minha mão, já me puxou para um abraço estranho. Atrevido!
—— Ei, eu mal te conheço.- digo.
—— Então quer dizer que ele pode te abraçar e eu não? - fala, erguendo uma sobrancelha.
—— Sim.
Pan dá uma risada, abaixa a cabeça e depois a ergue lentamente, me olhando nos olhos.
—— Olha... se você não me conhece. Pode passar a conhecer. Te pego as oito. Esteja pronta...- sussurra muito próximo do meu ouvido. Próximo demais pro meu gosto.
—— Que? Pera garoto, eu nem...- começo a dizer, mas ele já saiu. Urro de raiva.

𝐃𝐀𝐑𝐋𝐈𝐍𝐆.Onde histórias criam vida. Descubra agora