᳀𝒅𝒆𝒛𝒆𝒏𝒐𝒗𝒆᳀

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𝑵𝒐𝒓𝒂 𝑫𝒂𝒓𝒍𝒊𝒏𝒈

Três dias depois do acontecido. Eu mal comi, e confesso que desabei na primeira noite. Mas só. Não ia chorar por aqueles idiotas.
Mas eu me sentia suja. Suja e usada.
E odiava essa sensação.
Não consegui sair do quarto pra jantar, nem fazer qualquer refeição.
Não interagi com ninguém, e ninguém fez questão de ir me visitar. Já ouvi os meninos perguntarem por mim do quarto, e as respostas recebidas por Petter eram vagas e monótonas.
Ele não se importava. Ou ao menos me achava tão suja e insignificante quanto eu no momento.
Usada. Usada e pra ser jogada fora.
Lixo.
Afundo a cabeça no travesseiro, respirando lentamente. Eu não podia mofar naquele quarto. Então...
Desejo um livro com o pó, e vou para outro lugar com ele. Estúpida. Era a coragem que eu tinha reduzida a pó. Mas não era dourado e brilhante como o mágico, e sim negro e poluído.
Poeira. Poeira e...
Eu não podia ficar me rebaixando assim. Não ia dar esse gostinho pra ninguém.
Fecho o livro e saio em direção da porta. Pego na maçaneta. Olho em volta.
Volto para a cama novamente. As palavras " estúpida" e " fraca" ecoando na minha cabeça, até eu pegar no sono.

𝑷𝒆𝒕𝒕𝒆𝒓 𝑷𝒂𝒏𝒏


Já se faziam três dias que ela estava presa naquele maldito quarto. E pra uma pessoa ativa, era preocupante.
Deixo o orgulho de lado e bato na porta, mas ela não abre. Não queria me ver.
Ou ela estaria dormindo.
Tento novamente mais forte.
Nada.
Foda-se, agora ela iria ter que abrir.
-- NORA.- grito.
Bato de novo, mais forte. Eu iria ter que arrombar.
E se ela estivesse no banho? Ou pelada? Eu iria ter que arriscar a sorte, mas convenhamos, eu ia sair ganhando de qualquer jeito.
Arrombo a porta, e encontro o ser desmaiado na cama.
Ela abre os olhos.
Filha da puta. Tava acordada.
-- Por que não abriu a porta?- falo calmamente.
Ela nem ao menos olha.
QUÊ??
-- Nora- me sento na cama ao seu lado- Por que não abriu?
-- Por que não quis, porra. - ela olha em volta- Caralho Petter, sério que você ARROMBOU minha porta? Sério mesmo?
Privacidade zero, eu sei.
Dou de ombros.
-- Você não abria.
--- E você ao menos se importa?- diz rispidamente
Como assim? Ela não havia percebido?
-- Quê? - me forço a dizer as palavras- claro que eu me importo.
--- Nossa, nem pra vir aqui olhar na minha cara. Nem ao menos pra dizer: "Oi cachorra, você tá bem?"- ela ri, seca, e me olha nos olhos.
Pisco.
Meu Deus. Eu tinha entendido errado.
-- Desculpa- desvio o olhar- eu me expressei mal. Eu... achei que você iria querer um tempo. Nunca quis que entendesse que não me importo, eu pensei que iria gostar que eu te deixasse sozinha.
Vejo um vislumbre de entendimento nos olhos dela. Amém irmãos.
Ela fica sem palavras.
Eu consegui deixar ela sem palavras, eu mereço um prêmio.
-- Se importa comigo, Petter Pann?- ela pronuncia, como se não acreditasse.- Uou. Achei que só você e seu reflexo no espelho eram existentes pra você nesse mundo.
Pisco pra ela.
-- Vamo combinar, o mundo seria bem mais agradável só comigo e com meu reflexo- rio, e pego a mão dela- mas, já que você insiste: oi cachorra, você tá bem?
Ela ri. Ri com vontade, e foi o paraíso na terra. Eu queria me aprofundar naquele sorriso, beija-lo e mordê-lo e depois o ver fazendo tantas outras coisas mais...
Ela percebe meu olhar.
-- Você se importa.- ela repete para si mesma, e em um impulso, me beija ardentemente.
E eu a beijo de volta, na mesma intensidade.

𝐃𝐀𝐑𝐋𝐈𝐍𝐆.Onde histórias criam vida. Descubra agora