𝒕𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝒔𝒆𝒕𝒆

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Nora Darling

Cruzo a floresta em direção a minha antiga toca, o mais rápido que posso, já que seria muito previsível. Eu precisava encontrar Petter, tinha que sair dali.
Entro e procuro pela toca, e resolvo descansar em meu antigo quarto. Eu tinha me machucado no caminho.
Não conhecia a ilha perfeitamente, e o número de galhos que tive que atravessar não foi baixo.
Mas o que encontro não é consolador ou relaxante.
Pan está ao lado da minha cama, com Tommy deitado nela. Deixo meu mapa cair no chão e vou correndo até ele, com Petter me olhando com espanto.
---- O que aconteceu?!- falo, mas pareceu mais um grito do que outra coisa. Sacudo seu corpo, e bato levemente em seu rosto frio. Sem resposta.
Petter me vira bruscamente para ele.
---- Você está viva- ele diz, as palavras mais parecendo uma pergunta do que uma afirmação.
Não consigo evitar e o abraço fortemente, como se ele não fosse real, me esquecendo de responder. Eu havia sentido saudade, apesar de tudo. Tola.
Ele me aperta contra si, afundando a cabeça em meu pescoço.
---- Você está viva- repete.
Ergo o olhar.
---- Por que não estaria?- pergunto, com a voz fraca.
Ele beija minha testa.
---- Petter, por quê não estaria??- falo mais firmemente.
O solto, me lembrando do motivo que me fazia odiar aquele garoto semas atrás.
---- Você sumiu, fugiu e quando tentei te rastrear com magia não a achava. Era como... se não estivesse mais em lugar nenhum.- Petter diz, amargurado.
---- Eu não FUGI, só fui procurar as respostas que você nunca me deu- digo séria.
Olho em seus olhos com o maior ódio que possuia.
---- E agora eu as tenho.
Isso bastou pra fazê-lo ficar rígido em seu lugar, os olhos claros se arregalando.
---- Como?- fala, a voz mais parecendo um sussurro.
---- O que houve com Tommy?- desvio o olhar para a criança, o ignorando.
---- Ele adoeceu depois que decobriu que estava morta. Não acorda de jeito nenhum.
Acaricio o cabelo do menino, sentindo lágrimas despontarem dos meus olhos.
---- Ei, eu tô aqui.- sussuro, me deitando ao lado dele. Eu sabia que ele não me ouvia.- sinto muito.- acrescento, lembrando de alguém que estava se parecendo muito comigo no momento.
Rio internamente.
Talvez todos sejamos tão ruins quanto pensamos.
Se isso fosse um conto de fadas como o livro da minha avó, eu me casaria com Petter e Tommy acordaria ao sentir minha aproximação. Eu viveria feliz e aquilo nunca teria acontecido...aquilo...
Eu poderia fingir que Petter Pan nunca havia feito aquilo, que nunca havia me usado ou que eu não tinha passado por tudo isso.
Mas não era um conto de fadas, e eu sabia o que precisava fazer.
---- Eu vou voltar pra Londres.- afirmo.
---- O quê? Nora, não. Eu acabei de te encontrar novamente e... os meninos precisam de você. Te amam e...
O interrompo:
---- Não me diga "eu também". Não seria recíproco. Eu nunca seria capaz de amar um monstro como você.
Solto essas palavras, causando dor não só ao meu coração mas como também à minha própria boca, sentindo o gosto do arrependimento.
Mas eram necessárias. Eu não iria ser um fantoche.
Ele assente, os sentimentos estampados como um tapa na cara. Ele engole em seco e se senta novamente na cama, evitando me olhar no rosto. Indica uma pena com a cabeça, e uma folha de papel em branco aparece magicamente em cima da mesa.
---- É encantada. Escreva o lugar que quer ir e você irá até lá. - diz secamente. A voz não expressava nada.
---- Obrigada- simplesmente digo, tentando evitar chorar.
Me viro para a mesa, escrevo "Londres" demoradamente enquanto respiro meus últimos segundos com o ar puro de Neverland. Mas quando acabo de escrever a última letra bem feita, uma lágrima cai no papel, como um ponto final para a palavra.
Sinto a brisa me envolver e quando abro os olhos, vejo os carros nas ruas movimentadas, não as belas árvores da ilha.

𝐃𝐀𝐑𝐋𝐈𝐍𝐆.Onde histórias criam vida. Descubra agora