𝐓𝐫𝐢𝐧𝐭𝐚 𝐞 𝐨𝐢𝐭𝐨

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Nora Darling

Volto a fechar meus olhos, vendo... tentando... esqueça, Nora. Você já fez sua escolha, não tem como reverter. Olho para a pena, que ainda estava na minha mão. Eu poderia jogar fora, poderia jogar aquele pedacinho que eu tinha de Neverland em um lixo qualquer e me esquecer de tudo. Poderia. Mas eu, teimosa como sempre fui, a guardo no meu bolso. Eu não estava pronta pra deixar a ilha.
Eu tinha saído de lá. Um pouco impulsivamente, mas tinha, e agora arrisquei perder a única pessoa que...
NÃO termine. Isso vai te matar.
Você simplesmente foi lá e disse que não o amava, precisamente, que não seria capaz de fazê-lo. Nunca poderia ter mentido tanto. Não pra ele, para mim. Que porra eu tava fazendo? Eu parecia que mal aguentava respirar agora.
Resolvo parar de pensar em Neverland, e em qualquer coisa que me ligue a ilha. Estava tão perdida em meus pensamentos, que nem noto que estava segurando uma bolsa. Era pequena, com o tecido dourado firme e eu tinha certeza que não estava com ela na mão antes. Resolvo abrir. Tinha dinheiro, muito dinheiro pra ser precisa. Dava para eu arranjar um lugar pra ficar e me manter por um tempo, sem preocupações.
Petter.
Quase grito de remorso, minhas unhas pressionando minha pele.
Mas eu me iludiria se pensasse que Petter Pan me amava. Não apenas me iludiria, seria quase um suicídio. Depois... de tudo que ele tinha feito. Ele é um monstro, totalmente. Pan nem chegou a terminar a frase, eu não podia sair deduzindo coisas.
Então por que eu não acreditava nas minhas próprias afirmações?
Decido o que iria fazer. Se não ia voltar para Neverland, EM HIPÓTESE ALGUMA, iria encontrar alguém que também já teria pisado na areia macia daquele lugar.
Hora de visitar a vovó.

____________________________Neverland,
Aposentos de Petter Pan,
17:00 horas_____

Petter Pan

Hecate chega em meu escritório particular, com meu pai atrás.
Ele nunca perderia isso, qualquer tipo de caos, mesmo sendo o próprio filho. Suas veias saltavam por seus braços, e ele não parecia ter mais de quarenta anos. Mas eu sabia, todos sabíamos, que se tratava de bem mais do que isso. Sempre estava armado, não importava o caralho da ocasião e poderia ser facilmente aquele tio insuportável da família que não consegue abaixar o tom de voz. Mas era um deus, inevitavelmente. O deus da guerra me cumprimenta simplesmente com um aceno de cabeça, algo até gentil pra ele, e se reclina no canto da sala, encostado na parede, observando. Ele não me defenderia, conheço o pai que tenho. Provavelmente só estava ali para garantir que EU não arrumasse um jeito de ser punido. Me limito a olhar seu rosto. A única coisa que me fazia parecer com ele era o cabelo, um tom de castanho claro. De resto, eu era mais parecido com Afrodite. A que inclusive, não compareceria obviamente por motivos de defesa ao filho. E ao "amante", se fosse de seu interesse.
Hecate se posiciona à minha frente, a postura impecável e o olhar severo. Nem ao menos de senta. Ela não era má, tampouco cruel, mas iria fazer o que julgasse certo. E eu não estava. Sabia e me culpava por isso todos os dias. Tinha um longo cabelo negro, que escorria por seus ombros até sua cintura. Sua pele era clara, cinzenta até, como a lua.
Malditos deuses, que me forçaram a fazer o que fiz.
Faço um sinal para o mordomo pegar algo para comermos, mas a deusa interrompe.
-- Não será preciso, Petter- me chama pelo primeiro nome, apesar de tudo- você irá para o Olimpo conosco, e lá faremos o que tiver de ser feito.
Me levanto.
-- O quê? E os meninos?... eu... não posso ir!- protesto, com a voz firme.
Ares ergue o olhar na minha direção. Um pequeno, mas vindo dele, claro sinal para eu ficar quieto.
-- Você vai garoto, sempre deixei você fazer a merda que for, mas vai arcar com as consequências no final.- sua voz ecoa.
Disse o cara que foi pego em uma rede com uma mulher comprometida, vulgo, minha mãe.
Olho para Hecate, e ela simplesmente indica a porta com a cabeça. Escrevo rapidamente uma carta e a deixo em cima da mesinha de centro. Eles iriam ver depois.
Deixo Neverland, sabendo o que me aguarda.
Eu nem ao menos pude enterrar Tommy.

𝐃𝐀𝐑𝐋𝐈𝐍𝐆.Onde histórias criam vida. Descubra agora