𝒕𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝒄𝒊𝒏𝒄𝒐

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Nora Darling

Fico olhando fixamente para a salada em meu prato, sem fome. Eu deveria comer. Sei disso. Se fosse esperta o suficiente, comeria e ficaria forte pra poder escapar. Correção:
Eu não tentaria escapar.
Uma menina esperta aprenderia com o erro e se contentaria em ficar ali.
Mas, infelizmente para mim, o fato de me incentivarem ao contrário só me fazia querer sair mais.
Bebo a água que restava em meu copo e deixo o prato na cabeceira ao lado da minha cama, e caminho pelo quarto até onde as correntes dão liberdade. Eu costumava ficar presa à cama, mas o capitão falhou ao pensar que isso me seguraria por muito tempo. Deixavam sempre a chave na mesa de centro, que não ficava em meu alcance.Com o pensamento de que seria uma tortura ver a chance da minha fuga a passos de distância e eu não conseguir alcançar.
O que teria sido mesmo uma tortura, se eu não tivesse arrumado um jeito de quebrar os pés da cama e me arrastar pelo quarto no dia seguinte pra pegar a chave.
O que não deu muito certo já que haviam "guardas" por todos os lados. Mas, me deu ao menos a chance de chutar as bolas de um deles.
Fecho os olhos, com dor de cabeça. O urro de dor dele foi o único divertimento que tive em semanas. Nos meus cálculos, ao menos. Cinco semanas que estou aqui. Presa, com correntes pesando nos meus tornozelos e com fome. Embora a última alternativa tenha sido pela minha teimosia.
Então... era isso!
Eu só precisava de mais alguns elementos pra acabar meu plano. O terceiro da semana, mas esse ia dar certo.
Mas a esperança não é o que nos mantém vivos?

________________________________Neverland,

Escritório do capitão
22:00 horas_________________

Jace hook

---- Como assim ela desmaiou?!- o capitão rosna.
---- Nós entregamos o almoço, voltamos pros nossos turnos normalmente e depois, quando voltamos para buscar a louça e deixar o jantar, ela estava inconsciente.- diz Jofrey, um dos poucos que ainda recebiam do capitão. Era responsável pelos quê vigiavam Nora Darling. Geralmente ficava com o turno da tarde às quintas.
Balanço a cabeça. Eu não havia passado todo esse tempo observando, não é? A hora que ela comia, o quanto, os horários que dormia e...
Não quero nem saber o que isso significava.
---- Você tentou acorda-la?
---- Tentamos de tudo.
O capitão suspira e massageia a têmpora, se dando por vencido:
---- Traga ela aqui.
Jofrey confirma e vai buscá-la.
---- Por que ela desmaiou?- pergunto, finalmente.
Ele excita.
---- Ela... não come bem há dias. E ultimamente decidiu, provavelmente por birra, parar de comer.- diz calmamente, como se a saúde dela não fosse preocupante. Não podemos perder a chance de destruir Pan.
---- Realmente faria isso?? Parar de comer por teimosia? Ela não é burra a esse ponto.- murmuro, me sentando na cadeira a sua frente.
Tinha algo estranho nisso tudo. Certamente... mas não podíamos perde-la. Eu não podia.
Por razões vingativas, claro.
---- Pelo diabo, Jace. Você sabe muito bem que o que ela tem de esperta, tem o dobro de geniosa.- comenta, olhando pra um dos livros da prateleira. Me lembrando do dia que...
Meu pai. Era realmente meu pai?
Sempre soube que tínhamos o mesmo sobrenome, mas Hook é uma marca de várias gerações e misturas de piratas. Não achei que... não ele, ao menos.
E com Wendy. WENDY DARLING.
---- E aliás, é só um desmaio. Ela não morreu nem nada, vamos nos vingar, acredite.- volta a olhar para mim.
Eu não queria machuca-la. Não mesmo. Mas se ele era meu pai, eu não queria desapontar. Agora estamos finalmente tendo uma relação um tanto melhor e não quero estragar isso.
Mas também não quero destruir a vida de uma garota pra isso.
---- Certamente- falo vagamente e tomo um gole do gim que estava no meu copo.- o que vamos fazer depois que voltar ao normal? Vai continuar do mesmo jeito? As pessoas se dão melhor quando conhecem as coisas, e se ela continuar na mesma rotina, sabe que vai fugir.
Ele sorri. Afiada e demoradamente.
---- Ela não sabe o que a espera. - Michael tira uma espada pontuda de dentro da bainha, com três ametistas brilhantes a circundando- já que nosso plano de seduzir ela não deu certo, agora vamos ter que optar pelo plano B. Você vai mata-la Jace, bem na frente de Pan e assim ele verá que não tem chance nenhuma de quebrar essa maldição. Isso vai partir o coraçãozinho dele, e não vamos mais ter que nos limitar a somente uma parte de Neverland. Vamos governar isso aqui.
Assumo minha melhor postura e pego a espada, a admirando e tocando as pedras. Vejo meu reflexo nela.
Um monstro. Se essa arma atravessasse Nora, não mataria somente ela, e sim mais duas pessoas que tiveram o azar de se importar com a humana.
Mas agora descobri que haviam mais dois humanos em Neverland também. Os últimos, e não ia deixar que fossem extintos.
Ia proteger eu e meu pai a qualquer custo.
Já perdi Nora, minha mãe e não iria perder Michael também. Por mais que fosse... ele. Era tudo o que eu tinha.
Ignoro a sensação de vazio e aperto a mão do meu pai. Brindamos e bebemos a bebida, enquanto a sinto afogar meus pensamentos.

𝐃𝐀𝐑𝐋𝐈𝐍𝐆.Onde histórias criam vida. Descubra agora