Miss Me

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   — Sem essa, desembucha logo Bert. — Cruzo os braços já me preocupando com o aviso dele.

Bert parece se preparar pra dizer o que entala na garganta, cada movimento dele me deixa mais desesperado e ele finalmente abre o bico:

— Quando você foi embora, ele quis ser como você... — Bert traga o cigarro desviando o olhar e mudando sua expressão pra uma mais séria.

— Como assim? Ser igual a mim? — Tento pensar em algo mas nada me surge, sou obrigado a esperar a boa vontade de Bert pra me dizer finalmente.

— Não sei, mas ele pensou que a solução fosse as drogas também. Então ele usou uma vez e...

— Espera, não tá me dizendo que o Gerard...

— É, e agora você vai ter que lidar com o problema. Ele está tentando parar, pra sorte dele eu sou o único que sabe disso, e agora você. — Bert termina seu cigarro e joga no chão pisando.

— Isso porque ele queria ser como eu? Não tem lógica. — Digo tentando me convencer de que não é verdade.

— Eu disse, você não tem idéia de como ele ficou quando você foi embora. Te mandava mensagem todo dia, mas aposto que você nem lia.

— Eu... joguei meu celular fora. — Olho pra baixo me sentindo um completo lixo.

— Ele ficou em abstinência mesmo depois de acordar sem memória, só que de algum jeito ele usou de novo. — Suspira. — Estou atrasado, diz ao Gee pra ele me ligar assim que possível. — Bert sorri torto e acena. — Tchau baixinho.

Ele sai me deixando com meus próprios demônios, acabo acendendo outro cigarro pra controlar meu nervosismo. Volto na lanchonete e pego alguns donnuts e café, levo pra casa comigo e rezo pra Gerard ainda estar lá. Estaciono no mesmo lugar de sempre e saio adentrando o elevador com a maior pressa do mundo, quase derrubando o café em minha mão. Entro no apartamento já chamado por ele:

— Gee?

Não obtenho resposta e caminho até a cozinha suspirando, deixo o café e a caixa na mesa.

— Desculpa, eu tomei banho e acabei usando uma das suas roupas. — Ele aparece na cozinha me fazendo dar um pulo de susto.

— Ah, tudo bem. — Rio mas me lembro imediatamente do que Bert disse. — Eu... trouxe o café da manhã.

— Ah, eu estava com fome mesmo. — Gerard vem até a mesa se sentando animado com a comida.

— Então... eu me encontrei com Bert. — Confesso. — Conversamos.

— Hum, que legal. — Ele abre a caixa e pega um donnut com os olhos brilhantes.

— Sobre você.

— Verdade? — Ele abocanha o donnut já agarrando o copo com o café.

— E sobre sua abstinência. — Digo e ele para de mastigar direcionando os olhos à mim, levanta uma sobrancelha engolindo tudo em sua boca.

— Então Bert te contou? — Ele usa um guardanapo contido na caixa pra limpar a boca e bebe o café levando o olhar à mesa. — Aquele traidor! — Sussurra.

— Olha, eu já passei por isso e posso te ajudar. — Puxo uma cadeira me sentando.

— Não pedi ajuda, Frank. — Ele revira os olhos. — E não somos mais namorados, não precisa ficar se preocupando comigo.

— Foda-se, não preciso ser seu namorado pra me preocupar com você. Você tem pessoas que querem o seu melhor, que dariam de tudo pra fazer você bem. — Digo e ele cruza os braços balançando a cabeça.

— Olha, a culpa disso tudo é sua. — Me calo com sua acusação.

Só porque eu fui um idiota, não é motivo pra Gerard ser também. Isso é ruim, mesmo longe dele eu causei problemas, está tudo fora do controle. Eu não sei mais o que fazer, eu estou começando a duvidar de tudo, se o que fiz foi certo.

Me levanto seguindo lento até a pia, pego um copo no armário e encho com a água corrente, quando finalmente percebo, meu rosto é invadido por lágrimas de desespero. Enquanto bebo eu penso no meu próximo passo, eu tô me sentindo muito mal psicologicamente, meu coração se acelera sem qualquer motivo:

— Sei que é tarde mas... me desculpa por tudo que eu fiz, eu... eu nunca soube o que fazer. — Começo a me descontrolar e chorar deixando o copo cair no chão.

— Ei, Frank, eu não quis dizer isso. — Gerard se levanta caminhando até mim e me viro afastando.

— Não, não tem mais conserto, os meus erros vão sempre te afetar e isso é pior do que qualquer inferno. — Começo a me sentir fraco, e com isso me irrito mais.

— Eu sei que você fez isso por mim, sei que foi embora pro meu bem. — Ele me abraça. — Por favor, não se culpe.

Não retribuo o abraço mas me recordo de quando minha mãe morreu, eu estava desolado e Gerard me abraçou quando me viu naquele estado assustador, eu realmente parecia um drogado com LSD. Envolvo meus braços em sua cintura retribuindo o abraço, mordo o lábio me arrependendo do meu próximo ato mas sou por mais uma vez um egoísta, levo minha boca à de Gerard e beijo ele novamente esperando pra ser recusado mas pelo contrário, ele correspondente ao meu gesto.

Não pensando mais direito eu seguro sua camisa aprofundando nosso beijo, ele leva as mãos ao meu rosto seguindo com o beijo. Nossas línguas se reencontram fazendo meu corpo reagir animado, nos separamos brevemente por falta de ar. Tomo a decisão — Péssima decisão — de continuar com isso, volto com os beijos levantando a camisa de Gee aos poucos, ele ergue os braços como um tipo de aprovação e levanto com pressa jogando em qualquer canto da cozinha, passo as mãos pela parte já desnuda de Gerard acariciando enquanto desço minha boca até seu pescoço. Gerard puxa minha camisa e ajudo a retirar, vamos nos beijando e guio ele até o quarto. O ruivo se joga de costas na cama e aproveito o pouco tempo que tenho pra admirar-lo, ele retira as calças sem tirar os olhos dos meus e se inclina me puxando pra cima dele, nossas bocas se juntam novamente e começo a sentir a temperatura meu corpo subir. Vou beijando seu pescoço e ele responde com baixos gemidos manhosos, fazendo meu membro facilmente ter uma ereção. Suas mãos descem até a minha calça e tenta puxar pra baixo, ajudo levantando um pouco o meu quadril e me livrando das calças. Tudo estaria maravilhoso, se eu não tivesse recobrado a consciência neste mesmo momento. Paro os beijos me afastando bruscamente, Gerard fica sem reação. Busco minha calça pelo quarto:

— Desculpa... isso não tá certo. — Suspiro colocando o jeans.

— Você é um idiota. — Ele levanta pegando sua calça e segue pra cozinha.

Passo as mãos pelo rosto me sentindo frustrado, eu quase fiz a única coisa que eu não deveria ter feito. Li algo uma vez sobre pessoas que perdem a memória, elas querem fazer as coisas que faziam pra voltar a ser a mesma pessoa que antes, Gerard só queria ser o mesmo de quando o conheci. Eu não tenho a menor idéia de como deve ser a sensação de perder memórias, de perder uma parte da sua vida e não saber mais como agir, não culpo ele por nada.

Cruzo os braços olhando pro nada, escuto a porta bater e me impressiono com a sua rapidez ao se vestir, tudo apenas pra não ver minha cara tão cedo. 

Youngblood - Frerard (Part 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora