O início de tudo

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Anni sempre tentou se enturmar, principalmente com a família. Para alguns podia ser algo fácil, mas para ela não. Era pior, todos julgavam-na, o único que sempre esteve ao seu lado era seu avô.

Quando completou a maioridade foi embora de casa e nunca mais voltou a falar com ninguém. Quando olhava para o espelho não via nada, apenas se achava a coisa mais sem graça do mundo. Não dava chance e nunca se elogiava. Era o poço da podridão.

Agora, estava com sapatos sujos e quase furados, ou melhor, já estavam furados, conseguia sentir a água lamacenta molhando sua meia. Corria para fugir da chuva. No momento em que ligaram para seu celular dizendo que algo havia acontecido com seu avô, já mal havia percebido e estava saindo correndo do trabalho.

Chegando a ver a casa de sua família, um calafrio percorre sua nuca. A casa sempre foi a mais bonita do bairro, porém as coisas podem ser até bonitas, mas as lembranças que são deixadas, elas que importam. O belo nunca cobrirá a sensação ruim e as lembranças daquela casa.

- Você veio - Senhora Luciana nunca foi a mãe mais exemplar, suas palavras sempre são dirigidas a Anni como uma condenação, mas naquele dia era diferente. Era triste.

- O que aconteceu? Onde meu avô está?

- Sinto muito.

E aí, a única pessoa que Anni se importava, a única que ela se sentia bem em procurar, havia deixado ela sem ao menos avisar.

Seu avô desde cedo se queixava da saúde, avisava que iria chegar sua hora, para sua neta se preparar. Mas Anni interrompia o senhor, não gostava de pensar em perdê-lo.

Com a sutileza da vida, seus ventos levaram ele para bem longe. Chorou e muito. O enterro passou com a frieza da família, sua mãe que havia mostrado certo sentimento antes, logo sumirá. Ninguém provocou ou a comprimentou.

Uma semana se passa e o assunto esperado, a herança. Anni sabia que seu avô tinha muito dinheiro, sabia que sua família nunca deixará de ter um investimento errado. Mas era certo ver isso logo tão cedo?

Nunca ligou para isso, dinheiro. Para ela é algo só necessário.

- Vejo que todos estão aqui - O advogado do meu avô, senhor Nilton, é um bom homem. Nunca caiu em nenhuma garra da família ambiciosa de Anni.

- Diga logo, Nilton. Meu pai deixou o quê? - Mãe de Ani nunca foi muito paciente, deve ser por isso que nunca chegou a se importar em ajudar Anni nos deveres de casa.

Anni que se mantém quieta desde que chegara, resolve se pronunciar:
- Poderia ter mais paciência, suas unhas ainda estão feitas, o dinheiro para a manicure está garantido.

Todos da sala a olham feio. Realmente todos, seus dois primos, Juliano e Sabrina. Seus tios, Renan e Tânia e por fim sua mãe, a belíssima Senhora Luciana.

O resto? Estavam em Portugal e não chegaram a tempo de ver o testamento, mas logo estariam lá, Anni tinha certeza.

Seu avô teve muitos filhos: Luciana, Renan, Ellen e Carlos. Todos mimados, como dizia seu avô. Amava eles, porém se sentia mal por não tê-los ensinado que dinheiro não é tudo. Anni, ao contrário, conseguiu pegar esse conselho.

- Fale logo, não vamos arrumar briga agora, daqui a pouco, - Sabrina aponta o dedo na direção de Anni - ela vai embora.

- Como ia dizer, no testamento de Santiago Soares Campos...

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