Capítulo 23

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Capítulo 23
                                      ...

  Não me julgue pelos três pontinhos. A narração da vida dessa menina é bem embolada e bombástica. Imagine, eu um diário? Não sei de tudo, jogo apenas palpites...

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   Era tudo um preto, agora eu tento abrir os olhos e sinto uma dor na cabeça. Se um dia perguntarem se bati a cabeça pequena, vou dizer que foi adulta, na verdade. Que a loucura é recente. Mas... É tudo verdade, a carta do meu avô. Breno mentindo. Não é um delírio.

Eu tô numa sala pequena, em cima de uma cama.

- Oi, como está se sentindo? - Alicia surge com um jaleco branco e um daquelas apetrechos que médicos usam nos ombros. Sempre esqueço o nome, sei que ouve o coração por ele.

Levanto para me sentar na cama.

- Ah... Você fica bem de jaleco.

Alicia remexe nas folhas de um caderno e sorri.

- O que aconteceu? Vim aqui? E por sinal sua pressão caiu..

Minha pressão... Merda, agora que lembro que não comi nada.

- Não comi nada de manhã e andei até chegar aqui... Foi uma confusão.. - sinto uma pontada na minha cabeça.
-Ai!

  Alicia estala os dedos e procura algo numa das bancadas no fundo da sala.

- Vou te dar um remédio para dor de cabeça e comida. O doutor vai vim para te examinar melhor.

- Ok... - Olho para meus pés.

  Se aproximando de mim, Alicia senta do meu lado na cama. Agora que percebo que ela não parava quieta, deve ser normal quando estar no hospital.

- O que aconteceu? - Pergunta.

  Começo a chorar, Alicia fica alisando minhas costas como conforto. Quando crio um controle com as lágrimas, começo a falar e falar. Conto sobre a carta, sobre Breno ter escondido, também no final, digo sobre Carlos.

- Caramba. É muita coisa pra processar.

- É - fungo que nem uma criança de 6 anos. Que porre!

- Bem, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui. Ok?

Afundo meu rosto no pescoço de Alicia, seu cabelo dessa vez estava solto, sem as tranças de antes. Seu cabelo é tão cheiroso e cheio.

  - Vou trazer comida. Assim que meu turno terminar vamos juntas embora e conversamos mais. Você tem que ficar calma.

Afirmo ainda sem tirar minha cabeça do seu ombro.

Alicia sai me olhando estranho. Enquanto ela não volta, deito de novo na cama. Fecho os olhos tentando parar de pensar sobre tudo. Minha cabeça ainda está rodando.

  Sai sem nada, celular, chave... Mordo o lábio, todo mundo mentiu, todo mundo mente. Meu avô, a pessoa que eu mais admirava, era um escroto e mentiu para mim...

   Bufo. Grr..

  - Voltei! Vou ficar te encarando, é para comer tudo!  - Alicia põe uma bandeja cheia de comida de hospital e uma pilha de biscoitinhos de sal.

- Isso tudo!?

  Alicia põe as mãos na cintura e faz uma postura de mãe. Sinto medo. Ela fica mais linda com o jaleco e com essa postura, realmente autoridade em pessoa.

-Sim! Sua pressão caiu e seu psicológico está abalado! Tudo isso é perigoso. Come!

- Tá! - levanto as mãos como se uma arma estivesse apontada para mim.

  Alicia ri e faz sinal de que está de olho.

  Começo a comer, é difícil quando você não sente vontade, mas no fundo sabe que tem que comer algo. A comida perde seu gosto, até a de hospital que quase não tem.

  Enquanto Alicia arruma coisas do quarto e ao mesmo tempo me olha toda hora. Penso nas provas que Carlos falou. Será que... Essa agonia que estou sentindo.. vai passar se eu descobrir tudo? Aos poucos vou aceitar tudo...

  Para melhorar preciso fazer coisas que me ajudem a melhorar, não é?

  - Alicia, preciso de você. - Um homem baixinho, com cabelos grisalhos chama Alicia da porta.

Ele me olha pela primeira vez.
- Ah, como está se sentindo?

- Bem.. obrigada.

- Eu ia falar para Alicia que precisamos ligar para algum parente seu. Você chegou sem nada, precisamos dos documentos.

- Ah.. - Olho Alicia.

- Doutor, eu já ia falar com a Anni disso, obrigada por lembrar.

O homem acena com a cabeça e manda um sorriso gentil de despedida.

- Vocês sorriem tão naturalmente. - Digo.

- Pessoas chegam mal aqui,  como um conforto a mais é bom receber um sorriso. - Alicia puxa seu celular e me estende.

- Não quero ligar...- Pego ele e fico cutucando a capinha florida do celular.

  - Mas tem, porém não precisa ser o Breno. Até as coisas de resolverem, da um tempo dele. - Alicia é realmente uma amiga excelente.
Era isso que eu estava perdendo ficando tanto sozinha?

  - Você pode... Me dar um tempo? - pergunto sorrindo fraco.

Alicia dá um sorriso gentil e sai do quarto.

  Olho celular. Aaaah, desculpa Alicia.
Desço da cama e me senti melhor, a comida fez o efeito.  Desbloqueio o celular e vou para o bloco de notas.

  Desculpa, prometo dar os documentos depois se ainda precisar. Mas preciso ir num lugar agora, acho que se eu descobrir a verdade de lá, que Carlos falou, posso ficar pelo menos um pouco melhor...

Anni

  Deixo o celular na tela aberta em cima da cama. Na soleira da porta, olho o corredor de todos os lados, nenhum sinal de alguém que eu reconheça. Ando acelerado para saída.

   Já saindo da rua principal, a rua do hospital, um carro familiar para. Saindo dele, a pessoa que eu já senti muita raiva, porém foi amigo em muitos momentos aparece.  Ele era amigo dele, aceitava meu avô como era?

  - O que quer, Nilton? - Pergunto.

  Nilton está estranho, mais frio? Ele me olha feio, entretanto, parece querer esconder isso com um sorriso pequeno. Acho que me arrependo de não ter dado uma desculpa para sair de perto.

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Beijos, Dudinha

Reta final

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