Herança

Capítulo 10

Capítulo 10

   Anni uma vez foi enganada, seus primos falaram que o vizinho gostava dela, quando criou coragem para dizer que gostava dele também, todos riam dela. A humilhação foi um trauma, chorou. Nunca contou para seu avô.  Ela teve medo de ser enganada desde de sempre, duvidava até de si mesma às vezes. A única pessoa que sempre confiou que nunca iria engana-la seria seu avô. Mal sabe ela.

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Desço as escadas rápido, se me pegarem aqui, podem criar uma história falando que roubei algo. Na verdade estou pegando algo que me pertence.

  Vou em direção ao banheiro, mas ouço alguém se aproximando, então faço pose como se estivesse saindo.

- Por que demora tanto? - Minha mãe surge com seu rosto sempre impaciente. Como se não soubesse lidar comigo.

- Parece que é bom adiar o encontro com  todos vocês. - Respondo grossa e saio sem que ela consiga responder.

Vou para sala de reunião. Encontro a mesa com todas as cadeiras ocupadas por pessoas que me odeiam. Neste momento me lançam olhares de nojo e raiva.  Eu ando até a ponta com a cabeça levantada, onde há uma cadeira vazia, com Nilton do meu lado.

  Meus tios: Renan, Ellen, Carlos e Tânia, todos estão no lado direito da mesa. Meus primos:  Juliano, Sabrina,  Rodrigo e Ana, estão na esquerda da mesa, o lado onde estou.  Minha mãe na direita de frente para mim.

  Tudo começa, só consigo ouvir todos gritarem, bufarem, reclamarem de seus cabelos que não podem ficar sem serem feitos, das festas que meus primos precisam fazer. Parece que quando tudo isso acontece, eu fico aérea. São falas tão fúteis.

  - Que se apresente a testemunha sobre a falta de sã consciência de Santiago Soares Campos. - O homem velho mal humorado, que é o juiz, fala.

  Quando a porta é aberta, eu não acredito. Carlos, meu ex-chefe, ex-amigo do meu avô, entra nesta sala para borrar a imagem do meu avô. Ele praticamente está sendo pago!

- Nilton, isso não é bom. - Sussurro.

  Nilton apenas faz careta.

  Tento não mostrar minha preocupação. Todos querem ver eu cair em caquinhos.

  Carlos se dirigi até a outra ponta da mesa, sendo visto por todos. Ele evita meu olhar. Filho da puta!

  O juiz pede para que Carlos comece a falar, eu só consigo ouvir um zumbido no meu ouvido. Porque é tanta merda.

- Eu e Santiago éramos muitos amigos, ele me ajudou em várias coisas. Só que de um anos para cá, depois que aconteceu o acidente na biblioteca dele, as formas dele agir ficaram diferentes - Faz uma pausa - Ele olhava demais para lugares vagos, falava coisas que não entendia...

  Carlos continua e continua, eu só ouço a voz dele zumbindo na minha cabeça. Não! Eu não posso ter uma crise agora, não, não, não, não...

Nilton segura minha mão.

- Você está bem? - Sussurra.

Faço que sim com a cabeça. Estou mentindo? Sim, tenho que ser forte. Uma respiração de cada vez, uma..duas.. como, como faz mesmo?

  Bebo a água que está na minha frente. Fecho os olhos e me concentro nos números. 1...2...3...4...5..

  A voz alta do advogado da minha mãe  me assusta e saio da minha contagem.

- O senhor Santiago comentava sobre mudar o testamento?

- Sim. Nossa, com muita frequência. Falava que faria loucuras.