Prefácio.

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Na versão do Wattpad, assim como nas demais versões da obra, estão disponíveis um prefácio e um sumário do livro. Caso o leitor se interesse somente pela poesia recomendo pular para o capítulo "L'âme de l'écrivain! (Alma de escritor!)" que é onde começam os poemas propriamente ditos. Boa leitura.


Sobre as Alegorias.

Não poderia falar de mais nada neste livro sem antes falar das alegorias das quais a obra é composta. Um leitor mais atento há de percebê-las, a começar pelas cores. A paleta citada nas poesias é limitada, quase monocromática, se encontram presentes o preto e o cinza, e ambos têm o mesmo significado: Angústia.

As flores também carregam significado nessa poesia, tais flores não se encontram em todos os poemas, mas o significado que elas carregam permeia todo o sentimento do livro. São evocadas flores como lírios, crisântemos, rosas e girassóis, e o que todas essas flores têm em comum? Elas se encontram presentes na coroa de flores. Aquele ornamento imprescindível nos enterros, e cada uma das flores carrega um significado próprio, mas reúnem-se na lugubridade de uma alegoria aos mortos. O que morreu então? Para o poeta, com a rosa morreu o amor, com os girassóis morreu a felicidade, e a esperança está enterrada junto com lírios e crisântemos. E o eu-lírico, enfim, nada mais é do que um poeta morto! E o que o matou? O que matou cada uma das coisas pelas quais, um dia, valeram a pena lutar? A resposta está nas entrelinhas das flores, em algumas poesias elas são um sentimento, numas outras, as flores são pessoas, e podem ainda ser apenas flores. O fato é que as flores, apesar de belas e graciosas, nunca são citadas com um caráter de mansidão, elas sempre remetem ao sofrimento, e isso sintetiza essa poesia reunida: A beleza das flores, e o sofrimento que um dia elas causaram. O sentimento de tristeza que encontra a beleza de si quando se transforma em poesia!

Sobre o título.

"Poetas ilustres partilharam por muito tempo as províncias mais floridas do domínio poético. Pareceu-me aprazível, e tanto mais agradável porque a tarefa era mais difícil, extrair a beleza do Mal. Este livro, essencialmente inútil e absolutamente inocente, não teve outra razão senão me divertir e exercitar meu gosto ardente pelo obstáculo. " Charles Baudelaire em "As Flores do Mal".

Um Jardim no Inferno trata-se de uma dimensão psicológica do poeta eu-lírico, ao ponto em que faz referência aos poetas que inspiraram o mesmo. Onde se plantaram tantas flores do mal nasce um Jardim, e onde se vivencia o torpor máximo do sofrimento se encontra o Inferno. Dito isso, o que é o Jardim no Inferno senão uma antologia de sofrimentos?

Sobre as Seções.

O livro é dividido em seções, ou capítulos propriamente ditos. Cada seção aborda uma temática, que por sua vez reúne poemas. As seções iniciais são seções íntimas do poeta, como se fossem pedaços de sua alma, e o modo como nestas seções se reúnem os poemas conta uma história. Portanto, faz-se necessário um breve comentário sobre cada uma das seções e os poemas nelas contidos.


O poeta.

Esta seção nada mais é do que uma apresentação do eu-lírico: uma reflexão sobre o poeta acerca da poesia e do espírito poético. A seção apresenta começo meio e fim. Inicia com "Alma de Escritor! " que invoca o espírito artístico e termina com "Carcaça de Poeta" que assassina este espírito.


As Madonnas.

"As Madonnas" trata-se de uma seção que apresenta o ideale. Cantos à pessoa amada, poemas e juras de amor à uma mulher idealizada e inalcançável. No byronismo muitos poetas deram nomes às suas musas, às suas madonnas, e aqui não se faz diferente, em dois poemas específicos é apresentada a Inês, a personagem que em poesia é a prosopopeia da paixão. Não coincidentemente Agnes (nome inglês para "Inês") é um nome presente em diversos poemas de Lord Byron.

A seção também tem início, meio e fim. Inicia-se com um "Amor Infindo" que apresenta o ideal de amor intenso e sem fim, a típica jura de amor dos poetas românticos, e essa jura desdobra-se durante todo o capítulo para culminar em um "Soneto do Genocídio das Antigas Ninfas" onde todo o ideal de mulher bela, pura e sacra é quebrado, e a amante agora toma forma de um amor febril e destrutivo.


Spleen e Amor.

Spleen remete à melancolia baudelairiana, na seção, o início de um profundo sentimento de angústia causado pelo amor. Aqui o amor é o vilão, tal qual a mulher amada, e o capítulo desdobra-se em poemas que evocam o mais puro sentimento de desilusão, que encontraram sua plenitude no capítulo seguinte.

Começa com uma "Paixão Pútrefe", um amor apodrecido, corrosivo, maligno, um "Amor Profano", e é neste capítulo onde mais são evocadas a alegoria das flores. Este capítulo é a verdadeira entrada do Jardim no Inferno. "Rosas no Sepulcro" e "Delírio Fúnebre" remetem ao enterro do poeta, onde também morreu todo o amor e a esperança de um dia ser amado. E o capítulo é assim, cheio de enterros. Poemas tais de um poeta "Morto-Vivo". Nesta seção é também onde aparecem as primeiras elegias, que serão bem presentes na seção seguinte. Por fim, tem-se "Como Tudo Terminou", apesar do poema falar sobre o término de um relacionamento, no livro ele marca o término do amor, que não aparecerá mais no decorrer dos capítulos. É com este poema que ocorre de fato o enterro do sentimento dos amantes, o último adeus a qualquer sentimento ou qualquer pessoa que um dia já pôde ser chamada de amor.


Pesadelos, Angústia, Tristeza e Insônia.

O título traduz-se a si mesmo. Aqui o Spleen apresentado no capítulo anterior encontra sua plenitude na forma de elegias, gênero em que o eu-lírico encontra alento para exprimir os ardores de sua alma.

Como sugere o título, o capítulo começa com sonhos oníricos - pesadelos propriamente ditos - quimeras de uma mente já não tão sã, logo após um sentimento de proximidade e desejo pela morte: "Se Eu Pudesse (Morrer)", sentimento este que se exprime em seu primor nos últimos sete poemas do capítulo, e encontra seu ápice em "Elegia do Botão Vermelho".


Poemas de Luxúria.

Poemas onde o amor está ausente, que exprimem desejos puramente carnais.


Absurdos, Belezas e Quimeras

Os "Absurdos", fazendo referência à Albert Camus, são indagações, questionamentos e existencialismos em forma de poesia, poemas que buscam responder em poucos versos perguntas que levam livros inteiros para serem respondidas. O primeiro poema "Fundamento Bio-Antropológico da Natureza Humana" profundissimamente influenciado por Augusto dos Anjos é em si um ensaio em formato de soneto não-decassilábico sobre a natureza do homem.

Os quatro últimos poemas do capítulo referem-se às "Belezas e Quimeras", são poemas que criticam a tirania da beleza e questionam a sua real necessidade.


Críticas, Sátiras e Dedo do Meio.

O título mais uma vez denota o conteúdo, trata-se de um capítulo que contém críticas ricas de irreverência e indignação.

Os dois últimos capítulos são uma coletânea de escritos breves. "Poemas Curtos e Fragmentos" contém poemas com menos de 5 versos e fragmentos de poemas inacabados. "Frases e Aforismos" por sua vez, reúne divagações, aforismos, epígrafes e frases simples.

Um Jardim no Inferno - Antologia PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora