VI - Retrato de Um Derrotado

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Que monstro medonho esse que me seta,

D'um olhar tão negro quanto a treva.

A pele moura, típica do ímpio pagão,

Os lábios secos, mortos em putrefação;

As narinas animálias d'uma tartaruga,

O monstro me observa na penumbra!


Ah! Que horror este semblante moreno,

Essas mãos calejadas de tinta e pena.

Tudo o que é feio, perto, torna-se pequeno;

Pois esse horror à minha vista condena!

Elegiado em arroubos alá Orfeu;

A morte para o monstro seria sublime troféu!


Ele é febril, monstro taquicardíaco.

É louco, psicótico, hipocondríaco;

Um retrato perfeito da degeneração do homem,

Maldição infinda à vista de outrem.

Ele é doente, louco esquizofrênico.

Ele vive, mas preferiria não ser ninguém!


Das mitologias seria o próprio arcaide.

Dicotômico, homicida e bipolar, um Mr. Hyde!

Para a Abominação a morte é um sufrágio.

Para que parem de bater os relógios,

O monstro quer dormir em necrológios,

E da morte ser seu próprio presságio!


Espere! Apagou-se o meu centelho!

Na penumbra luminosa da face de vidro,

Percebo agora que isso é um espelho...

Da antepaixão ao pranto aspiro...

Esse monstro, socorro! Parece comigo!

Ah! Queria que fosse um pesadelo meu!

Esse monstro... Socorro! Sou eu!

Um Jardim no Inferno - Antologia PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora