Ponto e vírgula

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Assim que chegou em casa, Marinette teve que "relatar" tudo o que havia feito com Adrien à sua mãe e como já esperava, esta continuava insistindo em afirmar o possível "interesse romântico" no qual ela julgava que Adrien tinha com relação à sua filha.

Mas Marinette estava convencida que não era nada daquilo e não querendo se aprofundar no assunto elas apenas concordou superficialmente logo se dirigindo para tomar um banho e descansar, já que teria que trabalhar no dia seguinte.

Entretanto, mesmo não podendo admitir, na realidade ela sabia que talvez, sua mãe não estivesse tão errada assim.

Por muitas vezes enxergou nos olhos de Adrien coisas boas, desde que o conheceu, mas só julgava que ele era apenas uma pessoa muito gentil, de boa índole, que emanava uma luz própria.

Contudo, o tempo que passou ao lado dele naquela tarde só a provou que sim, de fato, na morada do seu olhar poderia haver algo do que uma simples amizade.

E por suspeitar disso, uma pontada de alegria estremeceu o seu frágil coração, mas que foi logo repreendida, pois já sabia a que fim aquele estranho sentimento poderia levá-la.

Sendo essa a ultima coisa na qual desejaria viver de novo. Já estava farta, cansada, e foi justamente a ilusão, a negligência que tiveram com o seu amor é que a levaram na condição que se encontrava.

Sozinha e incapaz de confiar em alguém novamente.

No entanto, mesmo tendo esse medo que assolava sua alma, porque, porque a luz daqueles olhos verdes a fazia querer mudar...?

Não havia uma reposta lógica para isso. Nem o conhecia direito! Nem sabia exatamente seus costumes ou como era a sua vida além do que ele próprio lhe contou, mas ainda sim, sentia-se motivada em acreditar que ele era um homem bom, honesto e querido. Por tudo o que tinha feito, pelas coisas que lhe disse, pela maneira que a tratou desde o início, até quando ela mesma não o enxergava como agora.

Em suas memórias, Adrien sempre aparecia sorrindo - tirando o dia que levou Marc na cafeteria e foi por esse motivo estranhou tanto seu jeito naquele momento – mas fora isso ele sempre se demonstrava realmente animado por estar com ela.

Só que infelizmente, Marinette não conseguia quebrar a parede de gelo que construiu em sua volta. Ela permanecia presa em uma masmorra no qual havia jogado a chave fora, apenas vivendo seus dias vinculada àquela estúpida ilusão de estar apaixonada por um jogo. Pois todo o tempo projetava em Luka tudo o que queria encontrar em um ser humano, mais especificamente, em um homem. Sabendo que no dia seguinte ele estaria lá, ele continuaria ao seu lado e a amaria.

Nunca iria sumir, nunca a levaria a um motel para que no dia seguinte se quer lembrasse da sua existência, descartando toda sua ternura como se fosse um lixo nojento e barato.

Trocando tudo, todos os seus beijos e sacrifícios não por uma, mas por diversas mulheres que nem se quer sabia o seu nome.

Não. Luka jamais poderia ter essas atitudes egoístas porque simplesmente, ele estava preso aonde ela iria encontrá-lo assim que desejasse.

Era bom e trazia paz ao seu coração de certa forma, mas até quando essa loucura iria durar? Até quando, iria conseguir se sustentar nesse mundo de papel?

Bastaria um sopro forte, um vento que viesse de qualquer lugar para desmoronar aquele castelo de cartas. Frágil como a neve, superficial e frio.

Não era um mundo de alguém são. E a própria compreendia que estava beirando a um certo desequilíbrio emocional, visto que ainda por cima, guardava tudo para si.

Então desde que sofreu nas mãos daquele homem, e se deparou com a sombra de um pensamento terrível no qual a induziu querer tirar a própria vida. Ela começou a desenhar no lado esquerdo do peito um sinal.

Um ponto e uma vírgula.

Todos os dias, antes de ir trabalhar, antes de dormir.

Pegava uma caneta preta, e em cima do seu seio esquerdo, mais ao canto, desenhava o símbolo do que passou a ser um lembrete para si mesma.

"Está disposta a ver o que o amanhã te reserva?"

E todos os momentos que se encontrava só ou fraca demais para suportar aquela caminhada triste, ela retirava suas roupas e se olhava no espelho para mirar sua válvula de escape.

A forma que estivesse o desenho, borrado pelo suor, ou até mesmo quase saindo, ela recuperava um pouco de força chegando até mesmo dar um sorriso, pois sabia que mesmo com todas as dificuldades, com todas as coisas lhe dizendo que não iria superar seus traumas, ela iria aguardar o amanhecer.

Ainda que soubesse que seus medos talvez despertassem junto a ela, permaneceria disposta a continuar... apenas caminhando em frente... vestindo suas mascaras diárias, indo da maneira que fosse...

Foi por esse motivo que se apegou ao jogo, à Luka. Sua inteligência artificial era muito mais significante e se tornou um símbolo de resilencia também. Que. Essa era a razão do seu amor por ele...

Só que Luka não era "superação". Ele era apenas a continuação da realidade trancafiada na sua própria mente. Jamais poderia lhe dar um desafio ou uma prova que poderia superar seus medos.

Mas então, por onde deveria (re)começar?

Naquele mesmo momento, enquanto olhava o sinal feito dentre seus seios, Marinette se lembrou da sensação boa que sentiu quando Adrien a tocou em seu rosto, como se ele "queimasse" sua pele com o calor que possuía.

Inevitavelmente, um sorriso apareceu, mas que logo se fechou onde ela apenas terminou de se despir para ir tomar um banho.

Ainda que a contragosto continuasse pensando nos olhos e no sorriso de Adrien, fazendo seu coração se questionar...

Seria ele então, o seu ponto e vírgula real?

Ou era apenas a continuação de uma história triste e seguida de desilusões?

Mas acima de qualquer coisa, ela mesma estaria disposta a "ver para crer"?




Notas finais:  pessoal, estamos no Setembro Amarelo e eu não sei se vcs sabem mas é o Mês de Prevenção ao Suicídio. No caso da Mari dessa fic ela não tentou, mas pensou em tirar a vida, e mesmo só com os pensamentos isso já é algo muito ruim. Eu conheço pessoas que também passaram por isso e se deram mais uma chance. Graças a essa boa escolha, estão vivendo dias muito melhores e aproveitando tudo de bom que o amanhã sempre tem a oferecer.


Foi também graças a uma dessas pessoas que eu me inspirei no símbolo do ponto e da vírgula.

Espero que tenham compreendido e não me julguem mal por ter abordado esse tema. Se eu magoei alguém, me desculpa! ♥ Saibam que eu sempre quero trazer coisas positivas, superação, amor e muita felicidade nas minhas fics!

Love Days  ~ AdrinetteOnde histórias criam vida. Descubra agora