Capítulo 1

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Canadá

Era noite cerrada quando Bruno desembarcou no Canadá com seus dois filhos. Na bagagem alguns poucos pares de roupa e, muita esperança a tiracolo.
A capital canadense no primeiro momento despertou uma espécie de assombramento e encantamento em Bruno. Acostumado com o calor escaldante de Belém do Pará, aquele frio, a primeira vista, pareceu quase insuportável para ele.

A paisagem ao seu redor se resumia a neve e mais neve e o que antes parecia ter sinal de verde se transformara num mar de cristal. Para onde ele olhava era neve para todos os lados, até mesmo o ar daquela cidade parecia transpirar flocos de neve.

Abismado com aquela visão surreal, Bruno olhou abobado para o seu filho que dava ares de estar sentindo o mesmo que ele.
Era visível o brilho de puro êxtase no olhar de Michael. De alguma forma ele sentiu que pertencia aquele lugar. Era como se sempre tivesse vivido ali; não importava sua nacionalidade, o que contava para ele era que o Canadá daquela hora em diante era parte de si.

Passado o momento de encantamento, pai e filho pegaram as coordenadas e os horários do ponto de ônibus. No entanto, eles optaram por se dirigir à estação de metrô mais próxima.

As ruas estavam silenciosas, quase intrafegáveis àquela hora da noite. A neve espessa dificultava um pouco suas passadas, de modo que eles caminhavam com cautela sobre as calçadas meio congeladas e escorregadias de Ottawa.

Bruno trazia em seus braços sua filha adormecida e em seu coração a esperança de dias melhores: esperança de que aquela tormenta passará e que o sol voltará a brilhar novamente em suas vidas.

Quem os visse passar não diria que aquele homem, rústico e humilde, conseguiria algum dia chegar ao exterior: bem que essa possibilidade nunca passou por sua cabeça. Contudo Bruno estava no Canadá, caminhando a passos lentos pela noite escura e fria de Ottawa, fechado em seus próprios problemas, aparentemente indiferente a tudo a sua volta. Em sua cabeça um único pensamento. Em seu coração a certeza de que todos os seus esforços ao final valeriam a pena.

Quem olhasse para aquele homem, aparentemente tranquilo, não diria os problemas que estava enfrentando. Seu drama começou há dois anos quando sua filha fora diagnosticada com um tumor cerebral; desde então, a vida dele se resumia a correr de um hospital para o outro em uma luta incessante e cansativa, em busca de assistência médica.
Sem recursos financeiros para custear o tratamento de sua filha, Bruno contava apenas com a gratuidade do SUS. Contudo, o serviço vigente era demorado e falho. Depois de muita espera finalmente ele conseguiu a liberação para o tratamento de Sophia. Porém, devido a longa demora a doença de sua filha já tinha se alastrado assustadoramente. As sessões de quimioterapia não surtiram o efeito desejado. As chances de cura de Sophia era a cada dia menor. Somente um milagre mesmo para lhe restituir a vida novamente.

Enquanto Bruno estava preso a esses pensamentos conflitantes, pequenos flocos de neve caíam por seu rosto angustiado à medida que ele se dirigia ao metrô. O frio naquela época do ano castigava o Canadá. Eram temperaturas baixíssimas, contudo, Bruno parecia não se incomodar. De certa forma aquele frio refletia um pouco o que estava vivendo por dentro.

Por alguns momentos, Bruno deixou seus problemas de lado e observou mais atentamente a cidade a sua volta. Ottawa era inegavelmente bela, com magníficas construções em diferentes estilos, desde construções pitorescas a construções góticas. Mas toda aquela beleza para Bruno tinha um toque de melancolia. Faltava calor: aos olhos daquele homem humilde e simples aquela paisagem mergulhada em neve parecia não ter vida.

À medida que o trem se afastava da estação, Bruno, perdido em pensamentos, olhava pelo vagão, contando os minutos para chegar ao seu destino.

Não muito distante de onde Bruno estava indo; a família Lawrence se reunia em torno da mesa para sua ceia.

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