Enquanto Bruno dormia o sono dos justos, Megan, angustiada, mexia-se de um lado para o outro na cama.
Ela soubera mais cedo por Melissa, que Richard estava febril: eram os primeiros dentinhos despontando para alegria dos pais e desconforto da criança. Por vezes, durante aquele dia, Megan pegou o telefone para ligar para Carl; desistindo no último instante. A vontade de estar ao lado de seu filho era tanta, que ela via suas reservas em relação a Carl diluir-se pouco a pouco.
A separação e a distância a fizeram refletir que talvez ela não fosse tão indiferente a Carl quanto ela imaginava. Por vezes se viu pensando nele: não no Carl dos últimos dois anos, mas no Carl amoroso e apaixonado com quem dividira bons momentos.
Constantemente ela se questionava até que ponto contribuíra para que seu casamento se transformasse naquilo. Por que ela não procurou ajuda em vez de se fechar em si mesma. Uma terapia de casais não os ajudaria?Megan não tinha resposta para seus questionamentos, apenas a certeza de que não movera um dedo se quer para reverter àquela situação. Por outro lado, qual mulher em sã consciência aguentaria o que ela aguentou?
Megan suportou as mais variadas formas de agressão calada. Talvez tenha sido esse seu grande erro: tornar-se passiva diante dos desmandos desenfreados de Carl; deixar-se dominar por ele; acovardar-se diante do macho e senhor. Por medo ou por fraqueza, Megan permitiu que Carl descobrisse seu ponto fraco. A partir daí, ele passou a dominá-la; a pisá-la; como se ela fosse um nada naquela relação conturbada, marcada por violência e dominação.Se pelo menos Carl a deixasse ajudá-lo, talvez ainda houvesse esperanças para o seu casamento. Carl a amava: do seu jeito louco e torto ele a amava, quanto a isso ela não tinha dúvidas; porém, esse amor doentio e possessivo, ela dispensava.
Quem sabe depois do teste de DNA? Megan pensou indecisa, descartando a seguir essa possibilidade. Os problemas que enfrentavam iam muito além disso. Durante os três anos de convivência matrimonial, Megan nunca se realizou como mulher: o que não passou despercebido a Carl. De forma que, a raiz do mal de seu casamento, foi justamente por não ter se despertado como mulher e esposa.
Perdida em meio a tantos pensamentos angustiantes, Megan adormeceu abraçada ao travesseiro, sendo despertada, minutos depois, pelo o som estridente de seu celular. Sobressaltada, ela atendeu a ligação, sem se quer se dar ao trabalho de verificar a chamada.
— Megan, nosso filho precisa de você.Seguida das palavras aflitas de Carl, Megan ouviu do outro lado da linha, o choro de Richard.
Depois do susto inicial ela o questionou.
— A febre de Richard ainda não passou?
— Como você sabe que Richard está com febre? — Ele a questionou e a seguir observou. — Não interessa como você soube e sim, que, mesmo sabendo que nosso filho estava doente, não o procurou.
— O que você queria Carl? ... Que eu invadisse a preciosa mansão de vocês e levasse um tiro? Seria maravilhoso para você se isso acontecesse. — Megan disse indignada diante do descaramento de seu esposo. — Não sei se você se lembra, mas, se já esqueceu, vou lhe refrescar a memória: estou proibida de ver meu filho e de por os pés na mansão e você é o único responsável por isso, portanto, não me venha cobrar nada. — Acrescentou furiosa.
— Você pretendia tirar meu filho de mim. — Carl defendeu-se.
— Você queria o que, com um esposo maluco como você!
Megan retrucou sem se dar conta que o incluíra em sua vida.
Depois de um breve silêncio, Carl falou aparentemente calmo.
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Ciranda de Ilusões
Fiction généraleHá uma velha ciranda cantada aos quatro ventos que ressoa o caminho do bem e do mal, como indicativo do caráter humano. Não importa exatamente a sua história, seus dramas e o contexto em que se insere, pois a dualidade entre o certo e o errado sempr...