Jinyoung tinha acordado, de alguma maneira, tranquilamente naquela manhã - mesmo considerando as circunstâncias em que teria o levado a despertar de seu sono. Podia ouvir o ronco do pai, de quem caíra novamente na cama, e com força. Ele deve ter bebido demais na noite passada, mas não o suficiente para esvaziar todas as garrafas que comprara. Terminou o resto de manhã, porque ainda sentia-se insatisfeito por dentro.
A criança levantava prontamente, mesmo o sol ainda nem ter acabado de nascer direito. Arrumou sua cama, pegou suas roupas, e desceu para tomar o café da manhã. Ou o que ele conseguia fazer parecer um. Pão, água gelada, café e geleia. Não precisava de mais nada.
Ajeitou para o pai também, tapando com um paninho para nenhuma mosca transmitir alguma doença. Olhou o relógio pendurado na cozinha: eram quase seis horas. Em pouco tempo o sol iria nascer, e ele precisaria ir à escola. Seus olhinhos brilharam com as enormes expectativas que tinha do local, mas seu brilho se desfez ao olhar no canto da parede: havia uma pilha enorme de jornais para ser entregue.
Desde as férias de verão, Jinyoung resolvera que precisava ganhar uma grana para se sustentar - já que o próprio pai não fazia isso direito com eles -, e para evitá-lo constantemente também, o garoto se candidatou à vaga de entregador de jornais do bairro onde vivia. Um trabalho simples: toda manhã, menos aos finais de semana, o garotinho teria de entregar os jornais que recebia logo no fim do serviço, para passear pelas ruas e jogar o maço de papel na entrada das casas. Jinyoung não teve receio, e executava a tarefa muito bem. Aquilo o ajudou a não morrer tanto assim de fome, a evitar as surras do pai e ainda tinha a vista do maravilhoso nascer do sol.
Isso seguiria até em frente, e quando as aulas estavam para começar, o garotinho pensava diariamente em sair de seu novo emprego. Normalmente, o horário que terminava as entregas era o mesmo em que batia o sinal e a escola fechava. Sabia que não conseguiria chegar a tempo. E como sua professora do Fundamental I o dissera: "sempre leve a educação em primeiro lugar, sempre".
Jinyoung sentia muitas saudades dela.
Coletou seus jornais, pôs a mochila nas costas e rumou para fora. Dessa vez, seria como o Flash. Voaria em sua bicicleta mágica e velha pelas ruas da cidade, entregando jornais a toda velocidade que conseguiria. Jinyoung se sentia invencível, incrível e forte.
Começou as entregas pelo lado esquerdo, na casa da senhora Song. Uma velha rabugenta que todos odiavam, menos Jinyoung. O menino não sentia ódio, sentia pena. Pena porque a senhora nunca tivera uma família, e se tivesse, eles não viveriam para sempre. A senhora Song nascera para viver sozinha, "igual o meu pai", pensara Jinyoung. Pessoas sozinhas às vezes tem certos distúrbios que podem ser bons ou ruim. Jinyoung não queria nunca ser alguém sozinho. Achava que poderia morrer tentando.
Bem na terceira avenida à toda velocidade, vinha a vista; ah, a bela vista. O sol nascendo no horizonte, iluminando com luz fraca o universo esplêndido, e o vento contra os cabelos de uma criança de onze anos. Mesmo contando os minutos enquanto o sol nascia, Jinyoung não deixava de desfrutá-lo. E este foi seu grande erro.
O baque da bicicleta foi duro, mas não tão duro quanto cair em cima da possa perto do meio-fio. A dor nas costas contra o pedregulho foi dura, mas pelo menos amenizada pela mochila nas costas. A sensação de pele completamente molhada pela poça piorou, como se tivesse caído na pior jaula babada. Jinyoung se levantou devagar, abriu os olhos, as mãos na cabeça, e percebeu onde estava, como estava.
Sua camiseta e alguns jornais estavam ensopados, a bicicleta atirada, e uma completa bagunça. Seus ouvidos apitavam, e a única coisa que pensou foi: "vou me atrasar." Juntou tudo o mais rápido que podia, ainda doendo o corpo, e correu entregando os jornais, mesmo molhados.
Quando o estoque acabou, Jinyoung voou até sua nova escola. Não era tão chamativa e atraente, mas era a única esperança de Jinyoung. Saber e conhecer, estudar, como sua professora dissera antes. O Fundamental II devia ser interessante, achava.
Jinyoung fedia a água de bueiro, e sua camiseta estava horrível. A corrida na bicicleta a fizera secar, mas a aparência do menino era péssima. Perguntou para uma faxineira onde ficava os achados e perdidos, e ao chegar na caixa onde tinha os objetos, procurou alguma roupa aceitável.
Por azar, sua única escolha foi uma blusa manga comprida rosa com estampa da Barbie.
O pai iria matá-lo, com certeza.
A roupa estava apertada, mas utilizável. Jinyoung dobrou a suja na mochila, onde os cadernos estavam amassados por conta da queda forte. Seguiu até sua sala de aula, e segurou para não acabar caindo em lágrimas quando o olhassem daquele jeito ridículo.
E foi isso mesmo que houve. A professora não notara - aliás, ela era muito bonita, talvez mais ainda do que a anterior no Fundamental I -, bolinhas e aviões pousaram em sua mesa, ele teve medo. Por quê ninguém achava normal uma criança estar vestida assim? Deu uma espiada nos agressores, pareciam todos com os garotos chatos do condomínio nobre próximo ao seu bairro, onde Jinyoung passara umas poucas vezes para fazer trabalho extra. Pensou se com a velha camiseta sua dor seria diferente. É, não seria.
No fim do turno, hora do lanche, Jinyoung pegou suas coisas, e torceu para ninguém ir atrás dele. No refeitório, todos comiam e já se dividiam em pequenos grupos. Jinyoung preferiu ficar sozinho. Nunca odiou tanto a si mesmo.
Até um garoto parar do seu lado, com um sanduíche de peito de peru (aquilo era muito caro!) e entregar à ele. Jinyoung o encarou, e viu-se como se tivesse olhado para a professora do Fundamental I. Um tuque-tuque dentro de si surgiu, e a sensação de solidão passou.
- Tome. - Falou o menino, e Jinyoung não recusou. A fome era maior.
- Obrigada.
O menino sentou-se ao seu lado delicadamente, sem encostar em Jinyoung. Sorriu para ele, perguntando:
- Posso me sentar contigo? - "Você já sentou", Jinyoung pensou, mas assentiu. - E aí? O que achou do Fundamental II?
Aquele garoto lembrava os antigos amigos de Jinyoung, mas tinha um toque de diferença. Só nos primeiros segundos em que interagira com ele, Jinyoung sentiu-se em casa.
- Não tem muita diferença, eu acho.
- Pois eu quero voltar pro primeiro ano, tempos bons, apesar da matemática.
- No primeiro ano não tinha matemática.
- Por isso: tempos bons.
Os dois riram, e o garotinho estendeu a mão.
- Você parece legal, quer ser meu amigo?
Jinyoung arregalou os olhos com sua sinceridade, e não diminuiu a velocidade. Aceitou a mão do garoto, se apresentando.
- Sou o Jinyoung.
- E eu, sou o Mark.
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why? ☆ got7
Fanfiction❝park jinyoung viveu por grande parte de sua vida se culpando, até descobrir que havia uma falha em seu passado, e a morte que o carregava tinha motivos para ser questionada.❞ ⇢ jinyoung!centric. ⇢ happy birthday, isa ♡