capítulo dois

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Duas semanas depois do começo das aulas, ambos os dois amigos continuaram mantendo suas relações, separados apenas por um time de futebol — na visão de Jinyoung — e por tempo de treino — na versão de Mark. Jinyoung tentara ir a outros treinos apenas porque Mark sempre acabava insistindo, mas dava tudo na mesma: ele enjoava na primeira partida e ia embora para casa, fazendo força para aguentar o seu pai beberrão durante a noite. Mark ficava chateado, mas entendia o ponto de vista do amigo — ao menos era o que se achava. Jinyoung fazia esforço, mas cobrava muito ir visitá-lo nos treinos e garantir uma boa nota no final do trimestre; e aquele sentimento, um sentimento que o atormentava diariamente.

Felizmente, a amizade era mais forte. Quando tinham tempo livre, iam para um dos seus lugares favoritos no mundo: uma árvore dentro da floresta próxima ao condomínio onde Mark morava. Ou nos fins de semana, se divertiam no parque de diversões, com os tostões cheios de Mark sendo gastos e os prêmios se acumulando nos braços; tudo para no final acabar em roda-gigante e dar um olá às nuvens no céu.

Naquele dia, Jinyoung sentia-se extremamente cansado — ficara a noite inteira fazendo dever de casa — quando pegou o papelzinho que Mark deixara em seu armário, e leu que o rapaz queria conversar com ele. Jinyoung engoliu a seco.

Propositalmente, acabara chegando alguns minutos mais cedo no ponto de encontro antes de Mark, o que foi surpreendente, e manteve-o ansioso nos minutos seguintes. Havia uma razão para fazê-lo pensar dessa forma; hoje era dia de remessa nova de livros para a biblioteca, e com a bibliotecária ocupada, Jinyoung e Momo demorariam um século para organizar tudo. Felizmente, eram apenas duas caixas dessa vez, e o tempo passou voando, distraindo o Park de seus pensamentos sobre o encontro mais tarde e os treinos de Mark, sobre o que tanto o estava começando a aborrecer.

Momo, uma nova intercambista japonesa daquele ano, era boa em reparar as coisas à sua volta. E ver a expressão pensativa de Jinyoung deixou-a com um pé atrás da orelha. Já tinha chegado a perguntar, mas o rapaz se negava a respondê-la, mudando de assunto e comentando sobre o que poderia falar tal livro da remessa e sobre o atual filme da época que estreava no cinema. E como uma boa nerd, Momo caía no papo, acabando por distrair sua cabeça da preocupação com Jinyoung.

E Jinyoung agradecia por isso. Sem ela, ele sentia que aquela nova fase em sua vida seria solitária, organizando livros em suas estantes e recebendo ordens de uma senhora de idade rabugenta — com todos esses contras ele decididamente pensou em desistir dos pontos extras, mas agora, não tinha jeito.

A biblioteca foi totalmente por decisão de nota — era o que ele acreditava e fazia os outros acreditarem — mas na verdade, era apenas uma distração. Para fugir do caos que sua casa era, das obrigações de um futuro adulto em treinamento, e de um garoto confuso. Muito confuso, consigo mesmo e com seus sentimentos.

Depois de organizarem os livros, Momo e Jinyoung foram escrever a redação sobre O Livro da Semana selecionado pela bibliotecária: "A Ratoeira", de Agatha Christie. Jinyoung tinha achado um livro fantástico, mas Momo discordava, até finalmente ter coragem e perguntar a Jinyoung o que estava acontecendo com ele.

— Você não é assim, pelo menos, com tanta frequência. Você anda estranho. — Momo comentara.

Jinyoung suspirou. Ele tinha medo do que seu humor pudesse causar, e escapar da japonesa não era fácil — ninguém conseguia fazer isso. Ele não tinha escolha, novamente.

— Não sei o que está acontecendo, mas acho que ando me sentindo solitário. — Disse, aproximadamente o que ele realmente sentia por dentro — mas não completamente, era complexo demais.

— E por que sente-se solitário?

— É esse o problema. — Deu de ombros. — Eu tenho o Mark. Ele é meu melhor amigo. Nós estamos juntos sempre. Quer dizer, tirando o tempo que ele fica treinando no time de futebol...

— E você não vai visitá-lo?

— Sou muito ocupado para isso. — Jinyoung cruzou os braços.

Momo balançou a cabeça, e Jinyoung desejou ter poderes psíquicos só para saber o que se passava na cabeça da japonesa.

— Talvez seja melhor vocês conversarem. — Aconselhou. — Dizer como se sente, tenho certeza de que ele entenderá.

— Assim espero. — Falou.

— "Assim espero." — Repetiu, sentando debaixo da árvore, observando o local vazio e sereno, onde apenas sua cabeça se mantinha perturbada.

— Jiny? — Mark chamou, e Jinyoung levantou a cabeça, cumprimentando-o com um gesto. — Posso sentar do seu lado?

Jinyoung deu espaço, e Mark ficou do seu lado, fitando-o. O Park piscou, curioso, perguntando se realmente valia a pena conversar sobre os seus sentimentos com Mark. Poderia ser uma bobagem, uma fase. Logo ele estaria acostumado a ver Mark com menos frequência, e a relação dos dois continuaria firme e forte até o final. Ele esperava que isso acontecesse.

— Aconteceu algo? — Jinyoung tomou início da conversa.

— Meu pai. — Mark respirou fundo. — Ele... Vai se casar de novo.

— Ele o quê? — Jinyoung arqueou as sobrancelhas, perplexo. — C-como...?

— Ele arranjou uma amante nova há dois meses e não me contou, não contou para ninguém. — Explicou. — Disse que ela quis por si só isso, de não aparecer. Os dois se encontravam com frequência, e meu pai acabou se "apaixonando" por ela. — Mark fez aspas com os dedos na palavra apaixonando. — Tenho medo no que isso vai dar, de ser um golpe do baú, de ela me odiar e acabar me expulsando de casa, dela tomar conta de tudo na minha vida... Eu... Não sei o que eu faço.

Mark encolheu-se, abraçando seus joelhos com os braços, os olhos dilatados de medo fixos na grama brilhante da tarde.

Jinyoung observou-o, sem saber o que dizer para ele. Sem pensar, devagarinho, acabou abraçando-o. Aproximou sua mão do cabelo de Mark e começou a fazer um cafuné. Foi o melhor que pôde. Jinyoung queria protegê-lo, levar ele para longe de sua vida cruel, cheio de dores internas que nunca poderiam ser descobertas.

Mais uma vez, Mark era o corajoso da história.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora